Mafalda Matos
«Fui de cadeira de rodas para o hospital. Estive até às últimas»

Nacional

Mafalda Matos fala da grave pneumonia que sofreu na Índia. A atriz, de 31 anos, revela, ainda, as mudanças que já fez na sua vida para um Mundo mais sustentável

Qui, 11/07/2019 - 11:56

Adepta de uma vida calma em que a meditação e o ioga fazem dela parte, Mafalda Matos, de 31 anos, não dispensa as massagens. A VIP acompanhou a atriz durante um passeio pelo Rio Tejo, onde houve tempo para uma massagem, uma parceria entre o Hórus Massagens, da qual é embaixadora, e a Sailing Lovers que acaba de lançar o serviço de Massagens Premium a Bordo. 

VIP – Como é que correu a massagem?
Mafalda Matos – Foi espetacular. Primeiro as massagens da Vânia Vicente são de outro mundo. Além de massajar a parte física, massaja a parte energética. Dá-nos um feedback muito interessante, muito completo, o que torna a massagem uma experiência mais enriquecedora do que uma massagem por si só. E depois estar no Rio Tejo, num barco, é um dois em um fantástico.

Costuma fazer massagens com frequência?
Uma vez por semana, no mínimo, porque fico com muitas tensões e preciso, realmente de um momento de relaxamento para estar mais em reflexão.

Há muitas pessoas que relacionam as massagens à parte corporal, mas vai mais além do corpo?
Sim, é uma massagem holística. Não só a parte física é importante, como também o que se está a passar na nossa vida, como o tipo de alimentação, porque depois há uma série de contraturas que existem, portanto esse feedback que nos é dado é muito interessante para avaliarmos o que é que está a acontecer e provocar uma mudança e uma maior consciencialização do nosso corpo e da nossa vida, portanto, não é só muscular.

No dia-a-dia, além das massagens uma vez por semana, que cuidados é que costuma ter com o corpo?
Para mim, os cuidados físicos têm muito a ver com a alimentação. A alimentação é fulcral, é o número um. Depois também é a prática da meditação, a ioga e o mergulho, porque estar dentro de água é muito relaxante e, ao mesmo tempo, também trabalho o corpo, de forma a não prejudicar as articulações e estou a ganhar uma maior resistência.

O mergulho é uma nova paixão?
Sim, o mergulho e o freediving. Estou apaixonada pela água. Gosto muito de práticas em piscinas de água quente.

Como é que surgiu a paixão pelo mergulho?
Surgiu na Madeira há uns quatro anos, onde fiz o meu primeiro mergulho de batismo. Assim que mergulhei pela primeira vez, descobri uma mundo gigante, cheio de cores, peixinhos de vários formatos e cores e algas… Nunca pensei que aquilo existisse e questionei-me : “como é que não se fala mais de mergulho? Como é que não se fala mais da vida aquática?” Essa foi a minha primeira experiência, mas só no ano passado, em Koh Tao, na Tailândia, é que comecei mais a sério. Estive a trabalhar e a viver na Índia, apanhei uma pneumonia e fui para a Tailândia curar-me. Quando fiquei bem, a primeira coisa que me apeteceu foi fazer mergulho. Arrisquei e fiz os três primeiros níveis de mergulho e aí aprofundei mais a minha experiência de mergulho, tornei-me rescue driver (curso de mergulhador-salvador) e posso salvar pessoas a 30 metros de profundidade. Fiquei apaixonada, mas não consegui ficar na Tailândia, porque tive de voltar para Portugal por questões familiares. Foram opções. Estou a retomar aos poucos e agora estou mais virada para o freediving (mergulho em apneia), mas estou muito alinhada com a água, com a vida aquática, porque a água é um elemento que guarda memória. Nós somos 70 por cento água e o Planeta é 70 por cento água, também. Depois fui lendo livros sobre um mergulhador francês, o Guillaume Nery, um dos grandes mergulhadores que faz apneia e já bateu alguns recordes. Fez um vídeo espetacular, o Free Fall e ele fala da adaptação que nós seres humanos temos dentro de água, que somos os únicos animais terrestres que quando mergulhamos o nosso corpo adapta-se, parecendo que há uma memória, porque nós viemos da água, então toda essa relação com ela faz imenso sentido e também por questões de sustentabilidade e de consciência ambiental, porque se os oceanos não estiverem saudáveis o Mundo não vai estar saudável. É triste ver, em zonas que já mergulhei, os corais a ficarem brancos, a morrerem, espécies a serem extintas. Então apetece ter um papel mais ativo no mundo aquático através do mergulho e de retiros de forma a mostrar mais às pessoas esse mundo. Se elas não se relacionam com a água, não vão mudar a atitude. É um bocadinho mais do que ter um hobby que é mergulho.

Por falar em sustentabilidade, mudou alguma coisa na sua vida em função disso?
A forma como nós consumimos… Por exemplo, só compro roupa em segunda mão. Não compro coisas novas. Ou dão-me roupa ou vou a uma loja de segunda mão, ou fico com roupa de amigas. Também confesso que não vou muito atrás do último grito da moda, nem sou muito consumista. Penso que a parte de reduzir é a primeira solução de todas. Por exemplo, deixei de usar desodorizantes roll on. Uso um cristal, uma pedra tipo sal, que se usa com água e neutraliza os odores. Já uso há uns seis anos. A nível da higiene íntima uso o copo menstrual, portanto não uso tampões, nem pensos higiénicos, e faço a devolução do sangue à terra. A minha escova de dentes é de bambu, menos uma coisa de plástico, porque mudamos de três em três meses, ou de seis em seis. É triste mas realmente só 15 por cento do lixo é que é reciclado e vai tudo parar ao mar. Também tento consumir coisas que não tenham plástico. Quando vou às compras não uso sacos de plástico para colocar a fruta, tento levar um saco de pano e tento incentivar as senhoras a não usarem o plástico.

Teve pneumonia quando estava a viver na Índia… Como é que aconteceu?
Fiquei internada no hospital quatro dias, logo no início do ano de 2018, porque estava muito mal da barriga e aquilo na Índia mexe com as entranhas e nos transforma ou então não conseguimos lá ficar. Eu, realmente, tive de me transformar porque tinha um contrato de trabalho e tinha de seguir com o desafio. Lá a poluição é mesmo hardcore. A qualidade do ar de lá é como imaginar um parque de estacionamento cá com os carros todos a trabalhar. E foi isso que fez com que eu apanhasse a pneumonia. Depois fui de cadeira de rodas para o hospital, para a Tailândia. Estive até às últimas. Já não me aguentava. Foi uma experiência muito forte. Fiz anos no dia 15 de abril e no dia 18 estava a embarcar para a Tailândia, fui ter com um amigo. Fui para um sítio onde eu pudesse respirar e ver o céu azul, porque em Mumbai, onde eu estive, que é uma das cidades mais poluídas do Mundo, não é possível ver o céu.

Estava sozinha na Índia?
Entretanto fiz muitos amigos… mas sim, estava sozinha.

O que é que estava a fazer profissionalmente?
Estava a trabalhar na melhor agência da Índia, a Inega, como modelo e atriz, e foi muito divertido, ao mesmo tempo. Gostei muito de conhecer a Índia, que é um sítio cheio de alma. As cores, os sabores, os cheiros, são assim uma coisa do outro Mundo. Gostei muito! Mas não posso estar mais do que dois dias em Mumbai, porque estar lá um dia e respirar o ar equivale a 15 cigarros. Eu andava de máscara constantemente.

Depois foi para a Tailândia e esteve lá quanto tempo?
Estive cerca de um mês e meio ou dois.

Há lá curas mais alternativas?
Lá e em todo o lado. No meu caso fiz um dois em um. Tive de tomar antibiótico e aconselhei-me com o meu médico de medicina tradicional chinesa de cá. Ele disse-me que tinha mesmo de tomar antibiótico, mas também tomei um chá tradicional chinês que me ajudou a limpar os pulmões, porque os órgãos têm horas para se desintoxicar, então às 11 horas eu tomava o chá e purgava bastante. Fez uma grande limpeza.

Entretanto voltou para Portugal…
Quando regressei experimentei o mergulho cá, mas confesso que estava muito friorenta. Depois de ter estado na Ásia alguns meses, quando chegamos cá notamos um choque térmico muito grande, por isso demorei algum tempo a voltar à água. Ainda hoje custa-me um pouco mergulhar sem fato. Normalmente uso um fato de águas abertas.

Cá não se fala muito de mergulho. Consegue ter companhia quando vai mergulhar?
Sim, existe uma comunidade de mergulhadores. Os Açores, se calhar, vão ser o próximo destino porque o meu objetivo este ano é ver baleias, mergulhar com elas.

Qual foi o maior contacto que teve com peixes?
Foi com tubarões. A primeira vez foi o desconstruir da imagem e da desinformação que existe sobre os tubarões. Os tubarões não gostam de comer seres humanos. Só os comem quando os confundem com focas ou quando estão numa zona de procriação em que sentem ameaçados, mas de resto não gostam de seres humanos. Agora nós matamos 100 milhões de tubarões por ano! Filmes como o Shark fazem com que tenhamos muito medo dos tubarões. Eles são essenciais ao ecossistema. Há dois meses em Portugal, infelizmente, vi tubarão à venda num hipermercado. Muitas vezes, chamam-lhe cação. Claro que somos um País onde se come muito peixe, mas muitas vezes a pesca não é sustentável. Temos de procurar o meio termo, uma coisa difícil quando os seres humanos se acham o topo da hierarquia na Natureza e acham que controlam tudo, mas depois as coisas não são bem assim.

A Mafalda já foi vegetariana e voltou a comer carne. Como é que foi esse processo?
Fui vegetariana durante uns 11 anos, muito porque na altura fui inspirada, porque tive um caso de cancro na família e houve superação através da alimentação, da macrobiótica. Não é algo que se explique numa entrevista, mas a macrobiótica não é vegetariana. A base sim, no entanto se tivermos um impulso emocional de um desejo de comer um peixe, por exemplo, ou comer uma carne, devemos fazê-lo, porque o reprimir é pior. Eu realmente não preciso de muita carne para me sentir mais equilibrada, mas de facto a macrobiótica, e considero essa a minha alimentação, porque tenho essa consciência dos alimentos yin yang, o que quer dizer que se comermos alimentos muito doces depois vai apetecer-nos o oposto para compensarmos, então o equilíbrio tem muito a ver com o que é integral. O arroz integral é o alimento mais equilibrado. Com a vida na cidade precisamos de alimentos que nos deem mais estímulos. Sou a favor de uma alimentação o mais natural e nacional possível.

Há cerca de um mês apresentou o seu novo amor… o Francisco. Como é que tudo começou?
Não me vou pronunciar sobre a minha vida privada. Estamos tranquilos. Está tudo bem.

Já pensam em casamento?
Não.

Gostava de voltar a trabalhar em televisão?
Ainda há poucos meses fiz uma participação para um projeto da SIC. Sempre que represento procuro que haja uma mensagem grande por trás. Entreter por entreter não faz sentido. Posso usar a minha formação para mudar consciências. Se não for para passar uma mensagem que acrescente algo, se for entreter por entreter, acho que é pobre. Tenho mais para dar do que isso. Prefiro até um contacto diferente com a interpretação. Por exemplo, no mês passado entrevistei duas pessoas com esclerose múltipla para uma ação de sensibilização de enfermeiros que lidam com pessoas que têm a doença. Isso interessa-me. Vesti a personagem, fui à Associação Nacional Esclerose Múltipla, falei com pessoas e a forma como interpretei levou pessoas que estavam nesse evento a acharem que eu era uma doente, e isso é o maior elogio possível! Estar a ajudar enfermeiros a serem mais empáticos com doentes faz-me sentir realizada. Na televisão também posso vestir imensas personagens. Gosto de projetos com qualidade. Gosto que haja um significado maior. Felizmente tenho tido sempre essa oportunidade. Não sou de fazer só uma coisa, vamos ver o que acontece no mercado nacional.

O que é que gostava de fazer?
Gostava de fazer mais cinema, documentários, algo mais realista. Gostava de interpretar alguém que tivesse existido, que tivesse uma mensagem por trás, que tivesse a ver com a Natureza. 

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Texto: Mariana de Almeida e Carla Vidal Dias; Fotos: José Manuel Marques; Produção: Elisabete Guerreiro; Cabelos e maquilhagem: Luciano Fialho   

 

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