Eduardo Nascimento morreu esta sexta-feira, 22 de novembro, vítima de doença prolongada. O cantor luso-angolano, de 76 anos, que representou Portugal no Festival Eurovisão da Canção em 1967, com o tema O Vento Mudou, foi o segunto artista com origens africanas a representar um país europeu e o primeiro a representar Portugal.
O vocalista do grupo Os Rocks, um quinteto de Luanda formado em 1962, conquistou o 12º lugar no Festival Eurovisão de 1967, ano em que gravou o seu primeiro EP com a banda que representava.
Eduardo Nascimento atuou no Festival da Canção 2019
Foi este ano que Eduardo Nascimento voltou a pisar os palcos no Festival da Canção, repetindo o tema O Vento Mudou, ao lado da banda Cais do Sodré Funk Connection.
Em fevereiro, nos bastidores da primeira semifinal do Festival da Canção 2019, o cantor recordou que, ao contrário do que seria de esperar, não foi diretamente questionado sobre a situação política que Portugal atravessava, à data da sua participação na Eurovisão de 1967.
«Toda a gente estava à espera disso, primeiro porque eu vinha de Angola, que estava no pico da guerra na altura», começou por dizer. «Eu soube posteriormente que tinha dois agentes da PIDE [polícia política do período em que vigorou a ditadura] na comitiva que foi comigo. O Festival era em Viena, muito perto do bloco de leste [ex-URSS] e, portanto, havia medos de que eu tivesse contactos com as pessoas dos movimentos de libertação», recordou o cantor.
«Por acaso tive… e eles não souberam (risos)!» E conta como é que conseguiu fintar a polícia política. «Foi simples. O contato era de um amigo que foi meu colega na escola. Ele foi lá ao hotel, deu-me um grande abraço, estivemos ali na conversa e ele mandou-me uma mensagem. Tranquilo. Eles [agentes da PIDE] ficaram a dormir».
No contacto com os jornalistas, Eduardo Nascimento revelou que a curiosidade foi direccionada para as suas origens.
«Eles tentaram saber quem era aquele tipo que aparecia ali, o primeiro luso-africano a aparecer ali, o primeiro negro a participar na Eurovisão. Tentaram saber quem eu era, o quer trazia ali… tinha toneladas de jornalistas a fazerem-me perguntas em várias línguas. Felizmente eu falava muitas, francês, inglês, italiano, espanhol, um pouco de alemão. Eles ficaram um bocado surpreendidos, de tal maneira que toda a tensão que havia no princípio foi desaparecendo. Eu metia umas gracinhas e tal e passei a ser a coqueluche do Festival», contou.