Luís Borges recorda, com tristeza e deceção, a mãe biológica, a quem acusa de ser “egoísta”, “ingrata” e interesseira.
O modelo fez uma autêntica viagem no tempo em entrevista a Júlia Pinheiro. No vespertino da SIC, o modelo recordou a infância, fez uma retrospetiva da sua carreira e lembrou, emocionado, o ex-marido, o cabeleireiro Eduardo Beauté. Mas não só. Numa conversa franca, o manequim falou abertamente sobre a sua relação com a mãe biológica.
Comecemos pelo início da história. Luís Borges afirmou ser fruto de um encontro da sua mãe biológica com um sueco. “Supostamente”, atirou, para depois explicar: “Ao início, disse-me que era sueco. Depois, já era francês… Ela nunca me quis dizer quem é o meu pai verdadeiro. Acho que ela sabe. Acho que não é normal uma mulher não saber de quem engravida. Isso ainda me revoltou mais. Acho que cresci num mundo de revolta comigo próprio. (…) Acho que cresci um Luís revoltado.”
O modelo tinha apenas dois meses quando foi abandonado pela progenitora numa “pensão”. “Ela quis ir consumir droga e foi apanhada pela polícia. Teve a oportunidade de me levar para Cabo Verde ou deixar-nos em Portugal, a mim e ao meu meio-irmão, o Ricardo. Ela disse que simplesmente não queria saber. Então, fomos os dois para a Santa Casa da Misericórdia“, revelou.
A dor de não se sentir tão amado como os irmãos
Luís Borges lá ficou dez meses, até ao dia em que uns tios o levaram para Castelo Branco. Tornaram-se, portanto, nos seus pais adotivos. A verdade? Só a conheceu mais tarde: “Soube com sete anos que tinha sido adotado. (…) Fiquei um bocadinho com a sensação de que os meus pais adotivos não me queriam e isso foi pior. Mas, depois, a minha irmã Gisela, que é minha prima, explicou-me a história e, aí, realmente percebi que eles me foram buscar porque eu precisava de ter uma família. Eles deram-me o amor, porque eu precisava de receber amor.”
No entanto, o manequim sempre sentiu que os seus pais o “tratavam de uma maneira diferente” à dos seus outros três irmãos. “Eu senti essa diferença. Sei lá… Pedia um croissant, não havia para mim, mas havia para o meu irmão. Ficava de castigo quando o meu irmão é que fazia a asneira. Por isso é que também me revoltei tanto”, desabafou a Júlia Pinheiro.
O modelo assumiu ainda a mágoa que sentiu pela sensação de ausência de amor. “Claro que há dor. Quando vives numa casa e não sentes que há sempre amor – que há para os outros e não há para ti -, é óbvio que há dor”, sublinhou Luís Borges, que, aos 18 anos, se muda para Lisboa para tentar ser modelo. Um sonho que não era apoiado pelos pais adotivos.
“Para ela, era um máximo aparecer como a mãe do Luís Borges”
Anos mais tarde, já durante o relacionamento com Eduardo Beauté, Luís Borges é incentivado pelo então companheiro a reaproximar-se da mãe biológica. “Soube pelo meu pai adotivo que a minha mãe tinha um cancro nos ovários e que tinha de vir para Lisboa para ser tratada. Na altura, não recebi isso muito bem, porque achei que não valia a pena conhecer uma mulher que durante 21 anos me fez um único telefonema a perguntar-me quando é que eu iria tirá-la de Cabo Verde. Para mim, isso não é (ser) mãe. O Eduardo fez alguma pressão e assim foi. Conheci-a.”
Contudo, as coisas não correm como esperado. O relato foi agora feito na primeira pessoa: “A história que me contaram era tão triste que pensei: ‘Acho que não merece sequer a oportunidade de estar comigo’. Mas, porque o Eduardo insistiu tanto, eu dei-lhe essa oportunidade. E a verdade é que eu tinha razão.”
“Não valia a pena estar a dar uma oportunidade a uma pessoa que nunca quis saber (de mim), que não tinha noção da minha vida aqui… Ela sabia que eu era conhecido em Portugal e, para ela, era um máximo aparecer como a mãe do Luís Borges. Mas isso, para mim, não chegava, nem era nada. O que eu queria dela era o amor que ela nunca me deu e que eu nunca tive”, lamentou.
“A deceção foi enorme”, afirma Luís Borges
Luís Borges acusou, depois, a progenitora de aproveitamento. “Ela simplesmente queria aproveitar-se de mim”, vincou. E salientou: “Não me respeitou, não respeitou o Eduardo. Então, cortei relações com ela.”
A desilusão estava visível no olhar do modelo durante a conversa com Júlia Pinheiro. “Deixa-me um bocado triste dar uma oportunidade a uma pessoa que nunca quis saber de nós. Colocámo-la na nossa vida, na nossa casa – ela ficou na nossa casa. Depois, (o facto de) ela ser tão egoísta e tão ingrata ao ponto que ela foi, de só querer saber dela, do que é que ela poderia tirar por ser minha mãe…”, acusou. Luís Borges ainda hoje sente o mesmo: “A deceção foi enorme.”
Mais um duro golpe: a morte da mãe adotiva
De relações cortadas com a mãe biológica, Luís Borges sofreu um duro golpe com a outra mãe. Em meados do ano passado, perdeu-a para um cancro naquele que “foi o ano mais difícil a nível pessoal” para o modelo (Eduardo Beauté morreu apenas dois meses depois da mãe adotiva).
“Não tínhamos uma relação muito chegada, por tudo o que se passou no passado, mas caiu-me a ficha quando soube que ela tinha cancro. Percebi que, às vezes, temos pouco tempo para estar com as pessoas que realmente gostam de nós e de quem nós gostamos”, refletiu.
A mãe adotiva de Luís Borges deixou Castelo Branco para travar a luta contra a doença oncológica em Lisboa. “Acompanhei todos os tratamentos e ia visitá-la constantemente ao hospital. No último dia, quando me disseram que já não valia a pena, foi o dia em que cheguei mais atrasado e já não consegui falar com ela. Isso deixou-me uma dor enorme“, recordou o modelo.
A morte da mãe adotivo deitou-o abaixo. “Quando percebi que não a ia ver mais, que não ia falar nem embirrar mais com ela, deixou-me triste. Percebi que, às vezes, perdemos tempo com coisas que não fazem sentido. A verdade é que foram os meus pais adotivos que me deram educação e uma casa para eu viver. E ela soube amar da maneira que tinha de amar. Fiquei triste por, se calhar, não ter dado mais de mim, quando ela deu tudo dela. Mas pronto… A vida continua… Acho que vou levar isso sempre comigo”, assumiu.
Texto: Dúlio Silva; Fotos: reprodução SIC e redes sociais
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