A vida não tem sido fácil para Laura Galvão, mas a atriz tem conseguido superar todas as adversidades. Aos 31 anos, está afastada da representação, mas não baixou os braços. É com orgulho que trabalha numa pastelaria em Setúbal e faz questão de frisar que não é uma “coitadinha”. “Eu estou melhor do que nunca”, explica, em entrevista à VIP. Laura Galvão está também a tirar um curso de terapeuta de hipnose para conseguir ajudar os outros, que todos os dias lhe enviam histórias difíceis. Prepara-se ainda para abraçar o mundo da música já em 2020. O companheiro, Diogo Andrade, e pai da filha, Índia, de quatro anos, é o seu maior apoio.
VIP – A sua filha, Índia, vive o Natal com muita intensidade? Pede para ir ver o Pai Natal?
Laura Galvão – A minha filha vibra com o Natal, com o Halloween, com tudo o que sejam datas… há praticamente dois meses que anda a fingir que é uma rena… já tenho a árvore e a decoração da sala toda montada há um mês. A Índia vive mesmo as coisas intensamente, nisso somos muito parecidas.
Tenta passar-lhe algum ensinamento especial nesta quadra natalícia?
Não. Todos os dias eu tento passar-lhe mensagens e ensinamentos, não por ser Natal…
Qual é a principal preocupação da Laura com a Índia?
Primeiro, que ela seja feliz, respeitando os outros e respeitando-se sempre. Saber que há limites, que a liberdade dela acaba onde a dos outros começa e que eu para além de mãe dela – o que muitos pais não concordam, mas eu “estou nem aí” – sou a melhor amiga. E é isso que quero que ela tenha sempre para a vida: ser feliz, ser humilde, respeitar os outros.
Vive uma relação com o pai da Índia, Diogo Andrade, há sete anos. Planeiam aumentar a família num futuro próximo?
Neste momento, eu preciso de dar um rumo à minha vida, tenho 31 anos e a nível profissional tenho vários projetos numa gavetinha e que preciso que se desenvolvam. Neste momento, mais uma criança eu não posso e não consigo. Não é que não gostasse… gostava, mas não tenho vida para isso.
Que tipo de projetos são esses?
Estou a tirar um curso de terapeuta de hipnose, acabo daqui a oito meses. Foi uma das coisas que eu percebi que também faz parte da minha vida, além de ser atriz, é uma das coisas que eu gostava de exercer também: ajudar as pessoas através da hipnose, que é algo que é cada vez mais procurado, mas que as pessoas, infelizmente, não conseguem ter tanto acesso porque são preços exorbitantes. Não é que os terapeutas não estejam a cobrar pelo trabalho, mas eu acho que todos nós deveríamos ter acesso a essa parte mais de autoconhecimento e de autoajuda, porque, afinal, nós conseguimos curar-nos e isso é formidável.
Essa formação que está a tirar para exercer uma nova profissão está relacionada com o seu passado difícil. Precisava de se autoconhecer para conseguir superar os problemas que já tornou públicos?
Eu sempre precisei de ajuda, sempre fui uma pessoa que foi acompanhada ao longo da minha vida por psicólogos, por psiquiatras, por neurologistas. Não tenho por que esconder. Até que percebi que há outras alternativas, há outras formas de eu me ajudar e uma delas é através da hipnose e porque não explorar isso!?
Tem outros planos para 2020?
Tenho. Eu também canto desde pequenina, tenho o curso de Técnica Vocal e o curso de Música, mas sempre tive muita vergonha, por isso sempre deixei isso de lado. Mas acho que com a idade amadureci e pensei: “Porque não experimentar nesta altura da minha vida, com 30 anos?” Estou a fazer duas músicas que em 2020 vem cá para fora.
Há pouco comentava que a idade lhe tinha trazido mais autoconfiança…
E este curso também, a hipnose.
Sente-se uma mulher diferente aos 30 anos?
Muito diferente. Não tenho nada a ver com a Laura que era aos 29 anos.
Ao atravessar um período em que tem menos trabalho na área da representação, não ficou parada. Está a trabalhar numa pastelaria…
Tenho muito orgulho e gosto muito de trabalhar na pastelaria. Adoro os meus clientes, é uma coisa que eu gosto de fazer, atender ao balcão ou ir servir à mesa. Gosto, estou em contacto com as pessoas, não vejo problema, aliás, durante estes cinco anos em que estou afastada da televisão com um papel mesmo fixo, eu tenho sempre trabalhado. Não estive parada, eu estive no Bingo Vitória a vender cartões e a cantar bolas. Estive no Casino de Troia como caixa. Aprendi imenso, conheci pessoas espetaculares. Só não continuei no Casino, porque eu gostava daquilo que fazia, devido aos horários que são completamente incompatíveis com a minha filha. Encontrei esta pastelaria onde eu posso trabalhar quatro horas e posso continuar a fazer as minhas coisas. Eu tenho uma loja online, neste momento, também.
O que vende?
Coisas personalizadas… consigo arranjar o meu tempo para treinar porque eu tenho uma pessoa que me treina todos os dias, tenho tempo para dar continuidade aos meus projetos todos e, ao mesmo tempo, tenho uma fonte de rendimento, que é importante. Tenho dinheiro para as minhas coisas, não dependo de ninguém e estou feliz. Eu estou megafeliz, mas é isso que as pessoas têm de perceber. Eu não estou infeliz, nem sou a coitadinha que trabalha numa pastelaria. Não. Eu estou melhor do que nunca.
O que está a dizer é uma lição de vida e de aceitação…
Sim. Eu sei que para muita gente é frustrante, não estão na área de que gostam, não veem os seus sonhos realizados, o dinheiro não chega, as despesas são muitas, mas… um dia de cada vez. Há sempre alternativas e as coisas surgem, mais tarde ou mais cedo.
O Diogo tem sido fundamental nesta fase de transição da sua vida?
Sempre. Mais do que um namorado ele é o meu melhor amigo, ele é o meu companheiro de viagem e apoiamo-nos sempre muito um ao outro. Ele é um pilar na minha vida, dá-me imensa força, é o pai da minha filha, é uma pessoa por quem eu tenho um amor enorme.
O Manuel Luís Goucha disse recentemente que é muito injusto que sejam sempre os mesmos atores nas novelas. Partilha dessa revolta?
Não me revolta. Não acho justo. Tenho muitos colegas de profissão que estão sem trabalho. Eu não sou a única. Eu tenho muitos colegas – e bons atores – que estão sem trabalho. De facto, é uma pena não podermos rodar mais, não podermos todos participar naquilo de que gostamos de fazer, mas também entendo que as produções diminuíram muito.
Mas tem saudades deste mundo?
Tenho muitas saudades, não do mundo em si, daquilo que acarreta por trás, mas de representar. Eu adoro representar, para mim é aquilo que mais gosto de fazer…
Disse-me que não tem saudades deste mundo. Quer explicar melhor?
Como é que eu hei de explicar sem que me julguem mal? As pessoas às vezes não percebem o que nós queremos dizer…. Por exemplo, com esta situação de ir trabalhar para o café, tive muita gente que me apoiou, tive muita gente do “ah, coitadinha que não tem trabalho” e depois tive aquelas pessoas do está a fazer isto só para aparecer”. É muito ingrato e é muito injusto porque eu sempre publiquei todos os trabalhos onde eu estive. Por acaso, nunca se falou sobre isso. Calhou daquele vídeo ter aparecido não sei porquê, não consigo explicar. Eu não liguei para ninguém, eu não falei com nenhum jornalista, eu não tenho esse tipo de conhecimentos para fazer esses jogos. É disso que eu não tenho saudades. De estar constantemente a receber esse ódio que as pessoas só dão porque sim. Não pode ser porque não gostam de mim porque não me conhecem…. Esse ódio magoa-me um bocadinho e eu não sei se estou preparada outra vez para isso…
Quando saiu de casa aos 13 anos, a sua família não a tentou impedir? Queria ganhar independência?
Eu não fui ganhar independência, eu fui viver com outra pessoa.
Mas a sua mãe não a tentou impedir?
A minha mãe sofreu horrores, chorou imenso, foi um dia a seguir ao Dia da Mãe. Combinei as coisas de forma a que ela só soubesse mesmo no dia, foi à noite. A pessoa em questão veio-me buscar e eu fui-me embora e depois só nos encontrámos em tribunal.
Isso deve ter sido difícil para a sua mãe…
Ela sofreu horrores.
Já fizeram as pazes?
Claro, a minha mãe nunca me culpou, sempre me apoiou e vai-me apoiar até ao fim da minha vida e eu a ela.
Vai contar tudo à sua filha?
Vou.
Sem tabus e sem esconder alguma parte?
Sem tabus e sem esconder. Vou.
Já pensou como e quando é que vai acontecer essa conversa? A Índia ainda é muito pequenina, mas quando começar a ter idade de ler notícias vai perceber que a vida da mãe nem sempre foi fácil…
Sim e ela vai saber logo desde pequenina porque é uma pessoa que é da nossa família e que ela não conhece e não tem acesso. E eu já tenho que lhe explicar – e ela tendo quatro anos – porque é que ela não conhece essa pessoa. Não explico ao pormenor. Digo-lhe apenas que não dá, que a mãe não se identifica. Mas é óbvio se ela quiser conhecer esta pessoa quando for mais velha tem todo o direito. Eu nunca, jamais, a vou proibir.
A Laura é uma pessoa impulsiva?
Eu? Muito. Era, acho que agora sou cada vez menos.
Foi por ser impulsiva que saiu tão cedo de casa, aos 13 anos?
Não, foi por amor mesmo. Foi por amor ao desconhecido e por achar que essa pessoa também merecia conhecer-me, independentemente dos avisos todos que me foram feitos. Eu pensei que essa pessoa também merecia conhecer-me.
Texto: Ricardina Batista; Fotos: José Manuel Marques; Produção: Elisabete Guerreiro; Cabelo e maquilhagem: Luciano Fialho
Agradecimentos
Kare Design, Springfield, Seaside, Benetton, Leroy Merlin, De Borla e Ikea
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