Cinco meses depois de ter regressado à televisão, na CNN Portugal, Judite Sousa deu a sua primeira entrevista a Manuel Luís Goucha no vespertino da TVI. Numa conversa franca e intimista, a jornalista começou por referir que durante os três anos de ausência do pequeno ecrã aproveitou para olhar para si e fazer o luto pela morte do filho, André Bessa, que perdeu a vida em junho de 2014, aos 29 anos, na sequência de uma queda acidental à beira de uma piscina.
O apresentador quis saber porquê só agora, passados sete anos. “Quando o André faleceu, não houve ninguém, a começar pelos médicos, que dissessem que eu tinha que parar para fazer o luto do meu filho. Por isso, voltei a trabalhar em setembro [2014]”, afirmou, dizendo que as pessoas à sua volta aconselharam-na a regressar como forma de se salvar. Hoje, à distância, percebe que a decisão não foi a correta. “O luto devia ter sido feito nessa altura”, diz, confessando que esta pausa na carreira foi importante para se reestruturar.
“O tempo não resolve o problema de fundo, como é óbvio. O Cardeal Tolentino Mendonça disse uma vez que ‘a morte de um filho é um naufrágio’. Subscrevo inteiramente”, afirmou sem conter as lágrimas, sublinhando que ao fazer o luto conseguiu amaciar a dor. “O tempo ajuda-nos a ver os acontecimentos trágicos de uma outra forma: com mais serenidade, com mais ponderação”, lembrando que “o André era um ser excepcional.”
Judite Sousa sobre os amigos: “Voltaram-me as costas quando eu estava doente”
E admite que foi muito exigente com o filho. “Disse-lhe sempre: ‘Tens de ser grande, tens de ter boas notas, ser bom aluno, para teres oportunidades de trabalho que te satisfaçam’. Porque eu também fui muito exigente comigo”. Algo que deixa Judite Sousa, de 59 anos, tranquila é saber que André viveu intensamente. “Viajou por mais de 50 países. Tínhamos uma coisa muito engraçada, contávamos os países para onde tínhamos visitado e ele estava sempre à minha frente. Depois de terminar o Erasmus, viajou durante três meses pela América Latina, por isso é que ele estava à minha frente”, contou, adiantando que ele era muito sociável e tinha centenas de amigos. Alguns deles deixaram-lhe uma mensagem de carinho durante o programa.
“Os meus melhores amigos são estes jovens. Muitos amigos que me acompanhavam há 40 anos viraram-me as costas. Não aguentaram o peso das minhas lágrimas. Só posso ter piedade em relação a essas pessoas. Voltaram-me as costas quando eu estava doente, com uma depressão grave”, lamentou. Nessa altura, Manuel Luís Goucha perguntou-lhe se alguma vez pensou em pôr termo à vida. “Sim, houve uma situação que foi pública. Acontece com frequência. A morte de um filho tem uma dimensão completamente distinta… as pessoas caem numa situação limite, como aconteceu comigo”, confessou.
Judite Sousa assume estar “completamente curada” e focada no seu trabalho, embora não pensasse regressar à televisão. “Estava bem, em casa, confortável, via as séries todas da Netflix e viajei (…) estou em paz, tranquila e serena”, contou. Questionada sobre se está a ser amada e a amar, a jornalista não quis responder. “Acho que é uma pergunta de reserva da intimidade”.
Texto: Carla S. Rodrigues; Fotos: Redes sociais
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