José Cid
A história de amor insólita, a porrada da mãe e a fortuna feita com Hitler

Nacional

José Cid abre o coração a Fátima Lopes. Faz uma grade declaração de amor à mulher, Gabriela Carrascalão, recorda a infância e agradece ao público português

Sáb, 26/10/2019 - 15:16

Aos 77 anos, José Cid faz os possíveis para fazer os outros felizes. Vencedor de um Grammy por Excelência Musical, atribuído pela Academia Latina, aquele que é o intérprete de grandes êxitos da música portuguesa explicou a Fátima Lopes, em entrevista ao programa Conta-me Como És, da TVI, que se comporta no dia-a-dia para fazer os outros se sentirem bem. «Às vezes posso estar a fingir aquilo que as pessoas querem que eu seja. Tenho de me comportar de uma forma que as pessoas sintam que podem ser felizes com a imagem que têm de mim… o meu prazer é dar prazer aos outros, é conseguir ver felizes10, 20, 30 mil pessoas. Se calhar não é aquilo que eu quero estar a cantar, mas tenho de o fazer», declarou. «Sinto que tenho de dar a este País o que ele quer de mim, com algum esforço até… Se Deus me deu um dom tão grande, de me ter preservando a voz e a capacidade criativa aos 77 anos, eu também tenho de retribuir isso às pessoas. E isso é tão bom! Gosto de fazer as pessoas felizes», declarou.

A história de amor com Gabriela Carrascalão 

A vida de José Cid ficará para sempre marcada pelo dia em que conheceu Gabriela Carrascalão, a mulher com quem casou em 2013. Os dois têm uma história de amor insólita, com muitos anos. José Cid conheceu a jornalista e conceituada pintora, que é bisneta da última rainha de Timor, em 1983, em Melbourne, na Austrália. Gabriela engravidou de José Cid, mas perdeu o filho de ambos, um menino, após um parto prematuro aos seis meses de gestação. A vida separou-os e cada um seguiu o seu caminho, mas José Cid e Gabriela Carrascalão nunca mais se esqueceram. 

30 anos depois, em declarações a Fátima Lopes, José Cid desfaz-se em elogios à mulher da sua vida. «Eu encontrei finalmente uma pessoa, não diria ao meu nível, mas de um nível muito superior, em que temos um encontro em todas as opções de vida, que me ajuda imenso… A Gabriela, a minha mulher, foi muito sofrida, lutou de armas ao lado de guerrilheiros timorenses [ Gabriela assistiu ao massacre da família e amigos e refugiou-se na Austrália]. Conheci-a na televisão australiana, ficámos sempre conhecidos e só casámos 30 anos mais tarde. Houve uma química muito grande… somos felicíssimos. A verdade é que temos um encontro muito grande de ideias», declarou o músico. 

Também em declarações ao Conta-me Como És, Gabriela Carrascalão retribuiu a declaração de amor. «Foi uma das melhores entrevistas que eu fiz na minha vida [no dia em que se conheceram]. A minha vida seguiu e a dele também, mas nunca me esqueci do Zé e acho que ele também não. A amizade que nos une, a cumplicidade está acima de tudo, queremos ajudar-nos um ao outro», afirma, dirigindo-se a José Cid: «És único, eu adoro-te, espero que isto dure até ao fim das nossas vidas».

Emocionado, José Cid responde: «Olha que bom, realmente completamo-nos imenso, eu sou o terceiro casamento da Gabriela e ela é o meu quarto casamento».   

 

A infância e a porrada da mãe 

Em entrevista a Fátima Lopes, José Cid recorda que foi uma criança «feliz», que cresceu pendurada das árvores e levou «porrada» da mãe. «A minha infância é passada no Ribatejo com os meninos de rua, eu não brincava com os meninos de nível social superior, mas sim com os de rua que eram mais divertidos», diz.

«O meu pai era uma pessoa muito distante, era industrial, tinha uma casa agrícola bastante grande na Bairrada. Depois quando casou com a minha mãe, no Ribatejo, fez uma fábrica de concentrados de tomate que eram deliciosos… fez uma fortuna bastante grande a vender estes concentrados de tomate, e umas cebolinhas que a minha mãe inventou, para a Alemanha em plena Segunda Guerra Mundial [Portugal era neutro], de tal maneira que o concentrado de tomate e as cebolinhas foi a única coisa que Hitler pediu para levar quando teve de fugir».

Se o pai era distante, a mãe era severa. «A minha mãe era uma pessoa mais dura, dava-me uns enxertos de pancada com bastante frequência. Batia-me, mas eu dos três irmãos era o mais bonzinho… as minhas irmãs viram o mundo virado ao contrário com a minha mãe, era complicada», conta.

«As rádios só passam aquilo que é feito por jovens» 

José Cid aprendeu a tocar no piano «que havia no sótão». Teve aulas de música e nunca mais parou de cantar, mesmo quando o regime fascista lhe censurou mais de 20 músicas.  Atualmente, conta com uma carreira de 60 anos, recheada de êxitos. Contudo, lamenta que as suas músicas não passem com a frequência que gostaria na rádio. 

«O reconhecimento em Portugal depende do bilhete de identidade, as rádios só passam aquilo que é feito por jovens. Há muitos jovens com muito talento, mas as pessoas menos jovens e que tem imenso talento não passam nas estações principais», lamenta José Cid. O público é o maior presente da sua vida e vale mais do que um reconhecimento internacional «O maior Grammy que eu ganhei na minha vida é o público português, de Norte a Sul do País». 

Texto: Ricardina Batista; Fotos: Impala 

 

Siga a Revista VIP no Instagram