Jorge Corrula perdeu a mãe quando tinha apenas cinco anos. O pai ficou com a filha mais velha e o ator foi entregue aos cuidados da avó paterna, no Alentejo, mas o amor e os mimos maternais foram substituídos pela violência.
Estas revelações foram feitas pelo próprio no programa de Júlia Pinheiro, na tarde desta sexta-feira, 21 de fevereiro. «A Paula [irmã] fica com o meu pai. Ela tem mais seis anos do que eu, portanto, para ela, foi muito mais duro no sentido em que, como adolescente, tinha consciência e passou por tudo. Eu não. Aos cinco anos, não tinha noção do que estava a acontecer», começou por dizer.
Sobre a falta que a mãe lhe fez, Jorge confessou: «Acho que só mais tarde é que eu percebi essa falta e senti essa falta, e percebi quais foram as consequências na minha vida». E contou ainda que não tem memórias da progenitora: «Nenhumas. Tenho… nao quero dizer cheiros, mas quase como um eco. Pelo menos, quero acreditar que me lembro da voz, mas não é verdade. Nao me lembro da voz. Vejo fotografias, mas nao a reconheço».
O ator contou ainda a Júlia Pinheiro qual a causa da morte da mãe. «Foi uma septicemia. Foi aqueles casos de…. não quero dizer negligente, mas em que vai ao hospital, mandam-na para casa e quando vai a segunda vez ao hospital já é tarde».
Sobre a infância ao lado da avó, Jorge recorda uma pessoa de poucos afetos: «A minha avó sempre trabalhou no campo, era uma pessoa muito simples. Afeto, nao, nao dava. Nem sabia propriamente educar naquela educação que damos hoje em dia, nos tempos modernos de promover as questões positivas. O carinho que ela me dava muitas vezes era através da frustração de não saber como educar. E batia-me [risos]. Parece que estou a brincar, mas não [risos]. Levei muita porrada».
«Estamos aos poucos a recuperar»
Aos 12 anos, o pai trouxe-o de volta para Lisboa, mas a relação entre os dois tinha sofrido uma quebra difícil de ultrapassar. «Obviamente, o meu pai foi forçado a delegar na mãe dele a educação do filho. Na altura, isso não me foi sequer explicado», afirnou o ator, acrescentando ainda: «Hoje já não vivo zangado com isso, mas foi uma coisa que eu resolvi há dez anos, há não muito tempo».
Jorge Corrula conseguiu entender as razões que levaram o pai a entregá-lo aos cuidados da avó. E, hoje em dia, os dois estão a reconstruir a relação: «Um homem que, de repente, perde o pilar. Ainda por cima, acho que não estava no país, estava a viajar em trabalho. Viu-se completamente desamparado com dois menores e tem de delegar na mãe dele. Felizmente que a minha avó tinha condições para me poder criar. Consigo perceber agora o contexto em que ele teve de abdicar da minha educação, de me ter presente. Mas pronto. isso depois paga-se mais tarde, paga-se com alguma distância que eu tenho do meu pai. Mas nós estamos aos poucos a recuperar».
Texto: Dúlio Silva; Fotos: arquivo Impala e reprodução redes sociais
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