A jornalista Joana Emídio Marques acusou o editor Manuel Alberto Valente de assédio sexual e conta como tudo se desenrolou durante um jantar de trabalho em 2012. A revelação foi feita esta sexta-feira, 1 de maio, no Facebook da jornalista.
Dois dias depois, o ex-editor da Porto Editora desmente as acusações, através da mesma rede social, e ameaça agir judicialmente.
“Na passada sexta-feira, uma determinada Senhora fez-me acusações extremamente graves e, acima de tudo, FALSAS. Comentá-las, em concreto, nas redes sociais, ou mesmo perante os OCS [órgãos de comunicação social] que reproduziram tal publicação, seria incendiar ainda mais um justicialismo de praça pública”, escreveu Manuel Alberto Valente, dando conta que vai agir judicialmente contra Joana Emídio Marques.
“Neste sentido, informo que já contactei os meus advogados e lhes dei indicações expressas para agir judicialmente contra a autora da publicação, por ser a mesma atentatória da minha honra e consideração”, acrescentou.
Joana Emídio Marques conta como Manuel Alberto Valente a “tentou beijar”
O caso terá, alegadamente, acontecido em Novembro de 2012, quando Manuel Alberto Valente era diretor editorial da Porto Editora, no contexto de um jantar de trabalho. Na altura, Joana Emídio era jornalista do Diário de Notícias, e procurava um furo jornalístico de que a Porto Editora iria comprar a Assírio e Alvim.
“No ano de 2012 começou a correr a notícia de que a Porto editora ia comprar a mais importante chancela de poesia a Assírio e Alvim, cujo catálogo tinha nomes como Herberto Helder. Para quem está fora do meio literário isto pode não significar nada. Para quem trabalha no meio era uma cacha (um furo jornalístico) e eu queria-o para mim”, conta.
Refere de seguida que era “amiga” no Facebook de Manuel Alberto Valente e que este lhe enviava mensagens “pseudo-sexutoras”, tendo aceitado um jantar com o então diretor editorial da Porto Editora para discutir a compra da Assírio.
“O homem estava a mostrar-me, a dizer-me que não tomava Viagra”, Joana Emídio Marques
“Não é por acaso, ele marcou o jantar num fim de semana em que a sua mulher estava num festival literário no México. Mas esta ligação eu só fiz muito depois. Fomos a um restaurante (caro) ali ao fundo da rua do Alecrim, um que serve sushi. Ele, cavalheiro, a ajudar-me a despir o casaco, a puxar a cadeira para eu me sentar. Estava eu a ficar bem impressionada, quando ele tira do bolso uma caixinha de comprimidos que espalhou na palma da mão e aproximou do meu rosto e lançou: ‘Estás a ver?”, revela
“Não tenho aqui nenhum comprido azul.’ Eu, que acabara de conhecer o homem e não queria parecer burra, forcei o meu cérebro a tentar entender a ‘piada’ mas não consegui. ‘Oh’, soltou ele, ‘não te faças de sonsa’. Assim, logo a tratar-me por tu e a insultar-me de forma velada. Nesse momento eu entendi (se nasces mulher aprendes cedo a descodificar alusões sexuais): o homem estava a mostrar-me, a dizer-me que não tomava Viagra. E aquilo que era para mim um jantar de trabalho tornou-se logo ali uma humilhação”, continua.
A jornalista aponta que não se lembra do que foi falado naquele jantar e que não conseguiu saber nada de concreto sobre o negócio da Porto Editora: “Por essa altura já tinham sido medidas as forças. Ele já tinha percebido que não me ia levar para a cama e eu já tinha percebido que sem isso não havia estória. Só história.”
“Manuel Alberto Valente ainda achou por bem começar a tentar beijar-me na boca”, Joana Emídio Marques
O ex-diretor editorial terá então oferecido boleia a Joana Emídio Marques até ao seu carro: “Como fazia sempre, tinha deixado o meu carro estacionado na Rodrigues Sampaio, junto à porta do Diário de Notícias. Ele ofereceu-se para me dar boleia até lá. Aceitei. Erro meu. Quando parou o carro e ia dar-lhe os tradicionais 2 beijos de despedida, o Manuel Alberto Valente ainda achou por bem começar a tentar beijar-me na boca, com uma descontração que mostrava que ele deve ter feito isto centenas de vezes. Eu afastei-me e sai do carro. Em silêncio chamei-o de velho porco, em silêncio humilhado chorei até Setubal.”
Na sua publicação, a também escritora revela que contou o episódio a vários amigos e que se queixou, na altura, ao assessor de imprensa da Porto Editora, Rui Couceiro, que reconheceu “haver esse problema”, “como quem aceita que pode chover num dia de sol”.
Alberto Valente, de 76 anos, é uma figura de referência da literatura em Portugal, tendo sido durante dez anos diretor editorial das Publicações Dom Quixote, entre 1981 e 1991, e diretor-geral das Edições Asa entre 1991 e 2008, assumindo em 2008 o cargo de diretor editorial da Porto Editora até 2020, de onde saiu reformado. Atualmente escreve uma coluna de opinião no Expresso. É casado com a conhecida editora Maria do Rosário Pedreira.
Texto: Inês Neves; Fotos: reprodução redes sociais
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