Nonô
A história de uma eterna Princesa Guerreira

Famosos

Nonô não conseguiu
vencer a luta contra
o cancro, mas deixou
uma lição de coragem

Qua, 10/09/2014 - 23:00

Com apenas cinco anos e após 15 meses de luta, Nonô perdeu a vida por causa de um tumor de Wilms bilateral, um cancro que afeta os rins. Quando ainda tinha quatro anos, Leonor Afonso Coutinho, ou “Nonô”, como é conhecida, foi obrigada a interromper a infância e a travar uma batalha injusta. Porém, no meio da verdadeira tempestade em que se transformou a sua vida e a da sua família, a menina teve a surpreendente capacidade de ser feliz e tocar o coração de milhares de portugueses. Sem querer, passou a ser o rosto da luta contra o cancro infantil, passou a ser a mentora de um vasto grupo de aprendizes. Sem se aperceber, a Princesa Guerreira da Luz, como a apelidaram, deixou a sua marca, que será eterna.

O pesadelo começou no dia 14 de junho de 2013, quando, por causa de uma dor de barriga, Leonor e a mãe, Vanessa Afonso, terminaram o dia no hospital. Foi então que chegou o diagnóstico e, aí, um mar de dúvidas e receio inundou a mente e alma de toda a família.

As primeiras novidades foram avassaladoras: o cancro de Nonô não era operável, o tumor no rim direito tinha 16 centímetros, no rim esquerdo tinha outro com cerca de 3,5 centímetros e nos pulmões tinham-se desenvolvido mais de 30 metástases. Para piorar, o cancro estava no estádio quatro numa escala até cinco. Um cenário negro, no qual os médicos não faziam boas previsões.A VIP acompanha o caso desde o começo e, pouco tempo depois de receber o diagnóstico, Vanessa contou à revista que na altura respondeu: “Não aceito. A doutora não conhece a Nonô”.

Foi então que, apesar da dor intensa, a mãe, o pai, Jorge Coutinho, os irmãos mais velhos, Henrique e Martim, a tia, Lara Afonso, e o resto da família recusaram baixar os braços e, com base numa enorme fé e na força de Nonô, tomaram a decisão de vencer esta guerra. O primeiro passo foi começar os tratamentos. Nonô foi transferida para o IPO, onde fazia quimioterapia. Perdeu os seus longos cabelos, deixou de poder comer açúcar e aprendeu a viver com um cateter dentro do seu corpo quotidianamente.

No sétimo piso, o da pediatria, passou longas temporadas de internamento, sempre ao lado da sua mamy, como gostava de tratar a mãe. Aí conquistou todos os enfermeiros, todos os auxiliares, todos os médicos, e os outros meninos e meninas que, como ela, mereciam ser crianças livres e felizes. E foi provavelmente graças à constante boa disposição e à confiança num mundo que pertence às princesas, às fadas e aos finais felizes que, de repente, começou a responder de forma positiva aos tratamentos. A primeira vitória. A primeira lufada de ar fresco.

Enquanto isso, a história da Princesa Guerreira da Luz tornou-se viral na Internet, o País inteiro mobilizou-se para ajudar e o caso ficou até conhecido a nível mundial. Até porque a família enfrentou dificuldades para suportar os custos inerentes aos tratamentos do tumor e às medicinas alternativas. Assim, surgiu a página de Facebook Os Aprendizes da Nonô, que, através dos depoimentos emocionantes da mãe Vanessa e do pai Jorge, chegou a milhares de seguidores. Hoje, conta com cerca de 150 mil seguidores. A história da Nonô comoveu as pessoas e o seu sorriso ficou gravado no coração de todos aqueles que passaram pela página.

A generosidade das pessoas revelou-se preciosa e foi graças aos donativos que se deu a primeira ida à Alemanha, em busca de uma nova solução. De uma salvação. Nesse momento, o objetivo era começar o tratamento com vacinas de células dendríticas; porém, o estado da princesa Leonor não era favorável ao tratamento. O choque foi grande, mas a família continuou a lutar, a ter ânimo e fé e a realizar cada vez mais iniciativas e projetos que ajudaram não só a pequena Nonô, como outras crianças doentes.

O tempo foi passando, pautado por vitórias e derrotas, altos e baixos. Mas a perseverança desta criança, a sua vontade de viver e de concretizar todos os sonhos que já tinha, fizeram com que, inesperadamente, o tamanho dos tumores diminuísse de forma considerável e as metástases desaparecessem quase todas. Por isso, no passado dia 17 de abril, foi submetida a uma nefrectomia, isto é, uma cirurgia para remover totalmente o rim direito, que estava “muito doente”. Nessa altura, o rim esquerdo estava saudável e pôde ser preservado. A operação foi um sucesso e apenas sobrou uma metástase “teimosa”, que se alojou no pulmão esquerdo, para retirar. Nesse momento, já se acreditava fortemente que o pesadelo tinha chegado ao fim.

“Qualquer doente oncológico precisa de levar entre dez a 15 anos para dizer que está livre daquele tumor. Mas, como mulher de fé que sou, mais uma vez digo que não aceito. Recuso essa ideia e vamos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que isso não aconteça”, revelou Vanessa à VIP, numa reportagem que, em maio, anunciava a cura da Nonô.

A dolorosa cirurgia que retirou a metástase do corpo da menina, para que fosse analisada, aconteceu dia 19 de junho. Algumas semanas depois, chegou a maior desilusão. Iniciou-se um processo que consumiu todas as forças de uma criança corajosa. Feita a análise de anatomia patológica, que revelou o estado em que estavam as células cancerígenas presentes na amostra retirada, percebeu-se que o tumor ainda estava ativo.

Então Nonô viu-se obrigada a fazer radioterapia, um tratamento extremamente violento que Vanessa e Jorge queriam evitar ao máximo. Em paralelo, continuou a quimioterapia.

As dores foram muitas e o desespero começou a apoderar-se do coração de todos os que a amam, mas a luta não podia parar. Por isso, no final de julho, os pais decidiram levá-la novamente até Duderstadt, na Alemanha, para, mais uma vez, recorrer à ajuda do Dr. Thomas Nesselhut e de tratamentos alternativos.

A família teve de recarregar baterias e adaptar-se a uma nova vida, longe de tantos amigos. Foi preciso, mais uma vez, pedir auxílio visto que os custos eram enormes – cada vacina dendrítica ascendia aos cinco mil euros. Os rendimentos eram poucos, até porque a mãe nesta tão dura jornada teve de deixar o emprego para se dedicar à filha e descobriu uma nova missão: ajudar quem a ajudou.

Através da página Os Aprendizes da Nonô, esta mãe expressou-se, entregou-se e nunca deixou de explicar às pessoas a evolução da doença e o decorrer dos tratamentos. A meio da batalha, separou-se de Jorge, o pai de Nonô, um momento que ultrapassou a grande custo, como é natural. Mas, frente a tamanhos obstáculos, nunca perdeu o rumo. Desejosa de fazer o Bem, criou a Associação Princesa Leonor – Aceita e Sorri, que tem como objetivo ajudar crianças e jovens que sofrem de doença oncológica. A aventura é difícil, mas Vanessa dedicou-lhe muito amor e, com pequenos passos, consegui cumprir vários projetos e ajudar imensas pessoas.

Teve igualmente a grande generosidade de contar e ceder a sua história de vida para a publicação do livro Aceita e Sorri, uma obra que relata uma vida dura, mas cheia de amor. Uma história de coragem e força.

Durante 15 meses, esta mãe mal teve tempo para respirar. Mas, de repente, instalou-se o silêncio. Por vários dias Vanessa deixou de prestar o seu testemunho virtual quase diário.

Foi então que, logo no início deste mês, a VIP soube que já não havia nada a fazer. Já não havia por que lutar. O último depoimento de Vanessa na rede social dizia: “Esta foi provavelmente a semana mais negra de toda a minha vida. A nossa Menina luta com todo o seu pequeno coração, mas já no limite das suas forças. A coragem e a força da minha Filha são a minha maior lição de vida. O meu coração de Mãe não tem neste momento capacidade para mais do que estar totalmente entregue à LUZ DA MINHA VIDA. Até que eu me volte a sentir suficientemente forte para SER tudo aquilo que agora não tenho forças para ser, a página dos Aprendizes da Nonô vai ser gerida pelos Amigos e Família que até aqui nos foram de preciosa ajuda. Peço-vos que, com o vosso coração cheio de AMOR e não de tristeza, peçam a Deus pela Paz e Serenidade da Nonô e de toda a nossa Família. Quero que saibam que em tudo e por tudo vos estou grata por estes últimos 15 meses. O testemunho de vida da minha Menina veio trazer de volta aos corações de todos nós nova esperança na verdadeira essência do Ser Humano. Pelas mãos de Deus ela guiou-nos num caminho de redescoberta do verdadeiro significado de AMOR INCONDICIONAL. A ela e a vós, a minha eterna gratidão. Por agora, é tudo aquilo que consigo expressar. Voltaremos a ‘conversar’. Até breve, com todo o nosso Amor, Pais, para sempre os Pais da nossa Menina, Vanessa & Jorge”.

A Nonô regressou a Portugal com os pais para poder passar os seus últimos momentos. O médico Gentil Martins e a sua equipa deslocaram-se até Duderstadt para irem buscar a pequena, que já se encontrava num estado moribundo. Quando aterrou, foi imediatamente levada para o hospital. Horas depois, o impensável aconteceu. A Nonô morreu. Deixou este Mundo que insistiu em ser cruel e doloroso com ela, mas a quem sempre respondeu com rasgados sorrisos e gargalhadas. O País ficou em choque e as homenagens multiplicam-se.

Este é um conto de princesas sem final feliz, mas que merece ser contado vezes sem conta, em jeito de homenagem, em jeito de exemplo.

A pequena Princesa Guerreira partiu, mas dela fica a eterna certeza de que a persistência, a perseverança, a força, a fé e, sobretudo, o amor, nos tornam pessoas mais felizes, independentemente da idade ou do problema. Na verdade, aquilo que realmente importa é aceitar e sorrir. Adeus, Nonô. Até sempre.

Texto: Laura Ribeiro Santos; Fotos: Impala, DR e gentilmente cedidas pelos pais de Nonô

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