Foi em Serralves, no Porto, que Manuel Luís Goucha entrevistou Hélder Reis. seu amigo de longa data e um dos poucos que fez ao longo da sua carreira no mundo da televisão. O apresentador da RTP emocionou-se por diversas vezes ao recordar a mãe, que morreu há um ano.
“A morte da minha mãe fez-me extremamente forte e seguro”, começou por referir, adiantando que ainda não serenou a alma. “Foi e será sempre a maior dor da minha vida. Parte de mim morreu naquele dia, mas nasceu outra e isso é muito libertador. Não sou a única pessoa enlutada deste país, mas rejuvenescer com um luto é uma atitude psicológica violenta. Consegui isso”, assume Hélder Reis, de 45 anos.
Sendo o mais novo de cinco irmãos, o rosto do canal público, conta que sempre teve uma relação de grande cumplicidade com a progenitora. Quando ela morreu, o apresentador foi a casa da família buscar alguns objectos com grande valor sentimental para si. “Coisas preciosas. Trouxe o dedal com que ela costurava, a minha mãe fazia-me a roupa toda; os óculos com que me via, a tesoura com que cortava a roupa e uns brincos. Os mais antigos e os menos valiosos”. Estas peças foram depois emolduradas nuns quadros. “Sinto muitas saudades. Ainda não apaguei o número dela do telefone”.
Durante a conversa, Manuel Luís Goucha perguntou. “Quando se deu a perda da tua mãe há um ano, alguém te faltou?”. Sincero, Hélder admitiu que lhe faltaram muitas. “Faltei eu. Eu desiludi-te. Desiludi”, afirmou Goucha comovido. “Não, é uma coisa diferente. Fizeste-me falta”, disse o nortenho, ao mesmo tempo que confessou nunca ter ficado zangado. “Tu assumiste um papel paternal na minha vida, estiveste presente em todos os momentos importantes… Mas não te ia tocar à porta e fazer-te sinais de fumo”. Nessa altura, Goucha voltou a frisar que a sua atitude foi “imperdoável”.
“A expectativa é uma coisa doentia e eu alimentava-a imenso”
Hélder contou que não teve uma relação próxima com o pai, de quem nunca ouviu um ‘amo-te muito’. “Éramos o oposto, chocávamos muito”. No entanto, o apresentador foi durante vários meses cuidador do progenitor. “Esteve internado em Gaia durante vários meses e eu estive com ele todos os dias. Fazia-o com muito amor”.
Homem e profissional realizado, Hélder Reis assumiu a Goucha que a vida e as pessoas, ao longo do tempo, tiraram-lhe sonhos e expectativas. “A expectativa é uma coisa doentia e eu alimentava-a imenso para as pessoas, para circunstâncias ou para trabalho e sofria imenso”. Nesse exercício interior, acabou por perder alguns amigos. “A vida foi eliminando muita gente que não me acrescentavam e foi colocando à minha volta outras importantes”.
Texto: Carla S. Rodrigues; Fotos: Reprodução TVI
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