Guilherme Moura
«Já recebi mensagens de mães que sabem o quanto é difícil lidar com o autismo»

Entrevista

Guilherme Moura estreou-se em televisão na pele de Bernardo Blanco, na novela Nazaré, da SIC. Na ficção, o ator dá vida a um jovem autista, papel que tem sido muito comentado por parte do público. A VIP entrevistou o artista e conta-lhe tudo!

Qui, 09/01/2020 - 20:10

Guilherme Moura tem 22 anos e estreou-se em televisão como Bernardo Blanco, na novela Nazaré, da SIC. Na ficção, o ator dá vida a um jovem autista, desprezado pelo pai, com uma inteligência especial e uma bondade imensa.

A VIP esteve à conversa com Guilherme Moura, que nos contou tudo acerca do seu percurso até aqui, e, ainda, sobre os maiores obstáculos com que se deparou para este enorme desafio.

VIP – Como é que surgiu a paixão pelo mundo da representação?

Guilherme Moura – Quando era mais miúdo era ginasta, fiz tumbling em competição até aos 16 anos. Aos 12, um encenador de quem gosto muito e por quem tenho muita admiração, o John Romão, foi ao meu clube porque precisava de um ginasta para um espetáculo, O Arco da Histeria. Falou com o meu treinador e ele deu-lhe o meu nome. Acabei por ficar a fazer o espetáculo e foi aí o meu primeiro contacto com o trabalho de ator. Até lá não tinha noção nenhuma do que era esse mundo.

Eu queria ser dono de uma papelaria, na minha inocência (risos). Até lá nunca tinha pensado em ser ator. Fiz o meu primeiro espetáculo em 2012 e, mais tarde entrei, para a Escola Profissional de Teatro de Cascais, no ensino secundário. Quando terminei continuei na área, fui para a ESTC (Escola Superior de Teatro e Cinema), curso de Teatro, ramo atores, e entretanto fui sempre trabalhando em vários espetáculos. Para além disso, fiz também cinema, algumas curtas metragens, e, mais recentemente, a longa-metragem Amor Amor, de Jorge Cramez, que esteve no cinema em 2017. Este ano fiz o primeiro projeto em televisão.

Gosta mais de teatro, de cinema ou de televisão?

O que gosto mais é do trabalho de ator, desde que seja um projeto interessante e que me desafie. Gosto de fazer tudo. Claro que, como comecei no teatro e tenho seis anos de estudo, me sinto mais à vontade em palco.

Como é que surgiu o convite para entrar na novela Nazaré?

Foi através de um casting. O meu agente mandou-me para o casting geral. Depois desse casting, como gostaram de mim, chamaram-me para aquela personagem. Viram que conseguia fazer aquele papel, que não é propriamente fácil, e acabei por ficar.

Qual foi o maior desafio, depois de começarem as gravações?

Normalmente, em teatro, tem-se um processo de dois meses de ensaios, mais ou menos, para construir o que queres apresentar. Há todo um processo em que nos preparamos para apresentar uma coisa. Neste caso, para fazer a novela, foi mais complicado porque sentia que já tinha de ter algo definido logo no primeiro dia de gravações. Não podia ir descobrindo. Disseram-me logo que a minha personagem era um rapaz com autismo de alta funcionalidade. Depois disso foi uma construção minha.

Em que é que se inspirou?

Nunca tive nenhum contacto próximo com o autismo. Então, para me preparar, li sobre o autismo e vi vários documentários e filmes. Quando já estava a ensaiar, eu a Joana Aguiar, que faz de minha irmã, e a Sandra Barata Belo, que faz de minha mãe, na novela, fomos à Federação Portuguesa do Autismo e foi aí que eu conheci um rapaz que tinha autismo e que era funcional. Ele já tinha trabalhado mas tinha os seus problemas.

Tive uma conversa com ele e entendi que não é assim um caso tão estranho e tão diferente do nosso. Inspirei-me e tive sempre esse rapaz na minha cabeça durante o processo. Durante as gravações fui ganhando vários tiques. Surgiu. Nem tinha pensado em criar um tique só que, com o texto e com as cenas que me davam, com as relações que eu tinha com as pessoas, o não olhar nos olhos e não tocar, o ser muito pragmático e literal, foi-me trazendo a mim, Guilherme, coisas para eu trabalhar.

Qual é a sensação de entrar numa novela pela primeira vez e ser-se logo líder de audiências?

É bom, é ótimo. Sinto que assim o meu trabalho pode ter mais hipótese de ser valorizado. Tem mais espectadores. É notório que as pessoas se interessam e gostam do conteúdo.

Agora, com toda esta exposição, já começa certamente a ser conhecido na rua. Como tem sido?

Tem sido muito bom. Não tem sido «ali vai vai o rapaz que faz uma novela», é mais pela personagem em si.  As pessoas abordam-me e dão-me os parabéns pelo meu papel. Dizem-me que é uma personagem muito importante. Quem conhece e lida com pessoas com autismo, diz que o estou a fazer bem. Há poucos dias, estava no supermercado e o rapaz que trabalhava na caixa, e que eu não estava nada à espera que me reconhecesse e me desse os parabéns, disse-me: «são 60 cêntimos e parabéns pelo seu trabalho, faz um grande papel!». Ainda não estou habituado.

Também recebe mensagens nas redes sociais?

Recebo. De igual forma como me abordam na rua. Falam do assunto do autismo, que nunca foi muito falado na ficção. Já recebi mensagens de mães e de familiares que sabem o quanto pode ser difícil lidar com esta condição. Percebem e reconhecem o trabalho todo que tive para lá chegar. 

Poderá ler a entrevista na íntegra brevemente na sua Revista VIP. Em banca este sábado!

 

Texto: Joana Dantas Rebelo, Fotos: José Manuel Marques/Divulgação e D.R., Produção: Elisabete Guerreiro, Cabelo e Maquilhagem: All About Makeup, Agradecimentos: Vestigius 

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