Os números de mortes e infetados em Portugal devido à pandemia de coronavírus estão a assustar o País e os portugueses estão cada vez mais cuidadosos para evitar mais contágios. Em fase de isolamento social, são cada vez mais as saudades de estar com amigos e familiares, de ir trabalhar e ter «liberdade.»
No dia em que Marcelo Rebelo de Sousa publicou o decreto de renovação do estado de emergência por mais quinze dias, Guilherme Geirinhas recorreu ao Instagram para fazer uma reflexão sobre como tem encarado a quarentena e sobre tudo aquilo que mudou na vida vida. O humorista, de 30 anos, compara Portugal a Itália, num texto que está a tornar-se viral nas redes sociais
«Somos a próxima Itália. Em Itália, onde fui feliz durante seis meses, as casas não são uma barreira para o mundo. Os homens barbeiam-se à janela, as mulheres regam as plantas de pijama. Todos os edifícios têm um pátio interior comum, para onde os apartamentos espreitam através de janelas. Já nelas, os vizinhos discutem muito alto, enquanto enrolam cigarros. Lá em baixo, crianças jogam à bola com uma lata vazia de coca-cola e balizas feitas de camisolas», começou por escrever.
«Em Portugal, estamos muito no nosso quadradinho. O tapete à porta de casa limpa não só os sapatos, como também a vontade de estar com os outros. As nossas casas são um portal para o isolamento. Somos o país dos condomínios com cancela à porta. Dos seguranças, de mãos atrás das costas, a controlar por cima do ombro quem entra e quem sai. Estamos sempre de persianas para baixo, privacidade para cima. As campainhas à porta do prédio têm câmara incorporada, já que o áudio nunca foi suficiente para inspecionar quem quer furar a nossa privacidade. Aceleramos o passo para evitar os vizinhos no elevador», continuou.
«Portugal tornar-se na próxima Itália, pode ser a nossa salvação»
Guilherme Geirinhas confessou aos mais de 126 mil seguidores que tem no Instagram que, nos últimos dias, se tem «sentido em Itália», mas pelos melhores motivos.
«Tenho saído para dar uma volta à noite, sozinho, e reparei que as janelas, agora, estão abertas.As persianas já não baixam e as luzes estão acesas. Naquele segundo andar, vi duas pessoas a montar um móvel e tive vontade de subir para ajudar. Não me senti a invadir o seu espaço. Elas queriam que eu visse aquilo. Há um desenho do arco-íris na caixa de correio do meu prédio, em vez da habitual publicidade. Consigo ouvir os talheres dos vizinhos a almoçar na varanda. Dou por mim a ficar na conversa com o estafeta», admitiu.
O humorista concluiu a sua reflexão considerando «Portugal tornar-se na próxima Itália, pode ser a nossa salvação.»
«Sinto que nunca estivemos tão próximos, mesmo não podendo sair de casa. Desde que as persianas subiram, a solidão tem baixado. Estamos todos com medo que Portugal se torne na próxima Itália, mas dentro de casa isso pode ser a nossa salvação», terminou.
A publicação de Guilherme Geirinhas já conta com quase 20 mil «gostos» e vários comentários, entre eles o de Mariana Monteiro e o de Pedro Boucherie, que aproveitaram para elogiar a reflexão no humorista.
Texto: Mafalda Mourão; Fotos: Reprodução Instagram
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