Treze anos depois de se ter estreado no pequeno ecrã, o número que a maioria das pessoas encara como sendo de azar parece ter trazido sorte a Sílvia Alberto. É que, depois de ter passado os últimos tempos a dar a cara apenas em projetos pontuais na RTP, a apresentadora regressou recentemente ao ativo, na condução do novo formato de Só Visto!, que voltou a estar presente na grelha das tardes de domingo da estação pública e, até ver, sem um final anunciado.
VIP – Sentia saudades deste registo?
Sílvia Alberto – A RTP sempre me tem pedido projetos díspares, o que, por um lado, é positivo, porque posso explorar a minha versatilidade e experimentar coisas diferentes, sem cair na rotina. Por outro, isso não me permitia ir mais longe, no que diz respeito ao desenvolvimento do trabalho.
Sendo assim, o novo Só Visto! chegou no momento certo.
Chega numa altura em que a estabilidade e a continuidade no ecrã me agradam. Depois, gosto da possibilidade de poder criar uma rotina para a minha vida pessoal. Gravar todas as semanas, preparar entrevistas, visionar e, depois, apresentar o trabalho no final da semana. É um bocado ter com o que contar, numa época que é muito complicada para todos nós e em que a estabilidade é muito importante. Depois, adoro biografias, conhecer histórias de pessoas. Adoro a conversa que posso ter com o entrevistado. O Só Visto! é um programa de social, ainda que tenha a apresentadora mais antissocial que há. Sinto que posso estruturar o conteúdo, elaborar a entrevista a pensar no convidado, na pessoa, nos seu percurso, e depois editar. Isso dá-me muito prazer, já não o fazia desde os tempos da SIC.
Remete-se para o início da sua carreira?
Só não é um regresso às origens porque agora estou mais segura. Antes, ficava com uma tremenda dor de cabeça sempre que elaborava uma entrevista; agora, as coisas saem mais facilmente e mais rápido. Sinto mais confiança.
Uma confiança adquirida pela experiência e pela idade… Tem 32 anos.
É uma idade bonita (risos). Não sei se se trata por ser mais mulher ou não. Mas também é uma confiança no sentido em que já consigo olhar para trás. Sinto-me mais segura, tenho mais certezas, sei o que devo ou posso dizer e o que me vai deixar desconfortável a seguir. Não sou facilmente apanhada desprevenida, como era antes. Acho que, nesta idade, há um lado que é muito prazeroso. Gosto muito desta idade e, se pudesse, ficava por aqui. Mas quando falo de confiança, também me refiro ao conforto que me é transmitido por toda a equipa, desde as minhas colegas que dividem o programa comigo à produtora com que estamos a trabalhar. São pessoas críticas, têm sempre um “não” a dizer. E eu gosto muito de trabalhar com pessoas difíceis, pessoas que me estimulam mentalmente. Também posso conseguir encontrar isso na condução das entrevistas.
É-lhe difícil ouvir um “não”?
Pelo contrário, gosto de ouvi-los (risos). Não me faço rodear por pessoas que acham que o meu trabalho está maravilhoso e que não é preciso mais. Faço-me rodear por pessoas que são autocríticas e que não têm pudores em criticar o meu trabalho. Só assim posso evoluir e isso é que é estimulante e interessante. Mas também há inseguranças, claro.
Como é que lida com isso?
Resolve-se num trabalho de equipa e em parceria. É através desse debate que surgem as soluções. Encaro como um processo natural de trabalho.
Como é que uma pessoa que se diz antissocial encara um programa de social?
(risos) Eu explico: no programa, encontram-se pessoas relacionadas com eventos onde outras figuras públicas gostam de ir e nos quais eu raras vezes me incluo ou identifico. Não crítico quem gosta. Eu sou reservada e preservo o meu lado pessoal. Dentro do registo do programa, consigo estar no meu canto, a fazer aquilo que gosto de fazer, que são as entrevistas.
Por que é que lhe custa tanto falar do seu lado pessoal?
Optei por esta postura, é o que faz sentido para mim. Todos nós temos vidas privadas e aspectos que partilhamos. Há coisas que ficam em família e que se contam entre os nossos, que não se partilham. Acho que o sentido de preservar a intimidade é uma coisa óbvia. Para mim, faz sentido ter as duas coisas separadas. No momento em que ambos se confundam, acho que a gestão deve ser complicada. Se misturasse as duas coisas não teria serenidade, nem paz, nem o respeito dos meus, que sabem como eu funciono.
Texto: Micaela Neves; Fotos: Luís Baltazar; Produção: Manuel Medeiro; Cabelos: Inês Franco; Maquilhagem: Vanda Pimentel, com produtos Maybeline e L’Oréal Professionnel
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