Gonçalo Diniz e João Ricardo
Cenas hilariantes em palco

Com o final das gravações de Mar Salgado, Gonçalo Diniz e João Ricardo despediram-se do Joni e do Bento, os personagens pelos quais se apaixonaram, com lágrimas e saudades de Setúbal, onde foram recebidos de braços abertos.

João Ricardo diz mesmo que o amigo e colega se tornou “o líder” espiritual de Setúbal e que quis retribuir de alguma forma este afeto estreando no Fórum Luísa Todi a peça de teatro em que estiveram a trabalhar nos últimos meses. É que, por entre a amizade que criaram com os seus papéis cómicos, encontraram-se como parceiros teatrais e acabam de estrear A secreta obscenidade de cada dia, que encena um diálogo entre Sigmund Freud e Karl Marx.

Como surge a ideia para esta peça?

Gonçalo Diniz – Surge de um sonho que tinha de trabalhar com o João. Queria fazer uma peça com ele e, quando tive a sorte de contracenar com ele no Mar Salgado, propus-lhe a ideia. Ele diz sim, sem acreditar muito. Apresentei-lhe um texto brasileiro, que não lhe chamou muito a atenção, e ele apresentou-me um livro deste chileno, Marco Antônio de La Parra, e surge isto. Apresentei-lhe a estrutura toda montada e aí sim, ele deu a mão à palmatória.

Quem é o psicanalista, quem é o filósofo, e como decidiram quem seria quem?

GD – Imaginei-me fisicamente naquela figura do Freud, mas perguntei ao João Ricardo e ele disse logo ‘então sou o Marx’. Têm o mesmo peso cénico, mas nunca questionámos isso sequer. Fazer esta peça depois de Mar Salgado facilitou ou, pelo contrário, por ser um registo diferente, criou mais constrangimentos?

JR – Neste momento, apetece-me trabalhar com o Gonçalo. Ter esta peça faz sentido, obviamente, mas há uma vontade de trabalhar com o meu amigo e ator Gonçalo Diniz, e eu que antes da telenovela achava que ele era uma pessoa sem interesse, ele sabe disso.

Por alguma razão?

JR – Acho que pelos mesmos motivos de muita gente e porque está conotado com uns programas de televisão. Agora que o conheço é das pessoas que acho mais interessantes.

Tem essa ideia, Gonçalo, de que poderá transmitir uma imagem errada de si?

GD – Já vivo bem com isso, mas sei que isso acontece. O facto de ter participado na Quinta das Celebridades arruinou a minha imagem. Tenho até pessoas da família que pensam como o João. Foi uma fase da minha vida. Se pudesse voltar atrás, jamais voltaria a entrar nesse programa. Participei por uma necessidade financeira, precisava daquele dinheiro, mas demorei dois anos a limpar a minha imagem, se é que alguma vez limpei.

A ida para o Brasil tem a ver com isso, foi uma fuga?

GD – Não fujo de nada, vou é atrás de coisas novas. Fui em busca do crescimento pessoal e artístico.

E já nada o prendia ao Brasil, já não havia nada a aprender?

GD – Há sempre coisas a aprender no Brasil, mas vim com o convite para esta novela. Foi uma decisão difícil mas acho que fiz a melhor escolha. Agora com esta peça voltei para a minha terra, estou muito feliz aqui.

João, também tem mais projetos na SIC?

JR – A SIC é o meu canal, portanto está sempre alguma coisa em cima da mesa, mas sei que quero fazer mais teatro com o Gonçalo. Damo-nos muito bem, em termos de encenação, esteticamente, não há egos, queremos ambos que o outro brilhe.

Há sonhos que partilhamos… porque não criar uma companhia de teatro?

GD – Acho tão raro isto acontecer, não há dois egos ali, temos os mesmos ideais, e o resto é tudo criatividade, naquela peça acontece porque há duas pessoas que não têm medo do ridículo.

Texto: Elizabete Agostinho; Fotos: José Manuel Marques; Produção: Manuel Medeiro

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