Filipa Maló Franco
“Voltar à televisão não faz parte dos meus planos”

Quem é que não se lembra de Clarinha, a menina da série Super Pai? Filipa Maló Franco cresceu e tornou-se uma mulher cheia de garra. A psicóloga acaba de lançar o primeiro livro, Terra Maya, tem um blogue com o mesmo nome, e está a terminar o último ano do mestrado em Psicologia Clínica. Afastada do pequeno ecrã, diz que se sente realizada profissionalmente e que voltar à televisão não faz parte dos seus planos.

VIP – Acaba de lançar o seu primeiro livro. Do que se trata?
Filipa Maló Franco – É verdade, e é com grande orgulho que falo dele. Este é um livro sobre bem-estar, aliado a um testemunho fundamentado. Explora a minha verdade, o porquê da importância de um equilíbrio entre a mente, corpo e espírito, como também, exponho aquilo que resultou comigo, todas as mudanças que fiz na minha vida, porque nem sempre tive este estilo de vida. Posto isto, falo de áreas como a meditação, mindfulness, ioga, alimentação saudável, a importância de uma perspetiva mais positiva e de cuidarmos e gostarmos de nós, entre outras, que, a meu ver, são muito importantes no que toca a um maior bem-estar e na mudança de “chip” e de perspetiva que tanto falo. Além disso, conta também com 23 receitas fáceis, saudáveis e deliciosas para toda a família. 
Considero que é um livro bastante completo.

Sentiu necessidade de escrever este livro? O que a motivou?
Confesso que escrever um livro não estava nos meus planos próximos. Sempre foi algo que quis escrever, mas achei que fosse um objetivo para ser considerado no futuro. Pouco depois de ter lançado o blogue, também ele denominado Terra Maya, a proposta para escrever um livro que abordasse de certa forma aquilo que exponho no digital, ficou em cima da mesa. De início era algo que me assustava bastante, nunca tinha pensado nisso, mas a verdade é que quando abracei este desafio, todo o livro saiu de forma muito natural. Escrevi no verão passado, durante as minhas férias por sítios maravilhosos cá em Portugal: alto-mar, junto dos golfinhos, no Gerês e nas praias lindíssimas do Algarve. É fruto de uma grande conexão com a Natureza e de uma grande entrega, tanto na parte escrita como em algumas ilustrações presentes no livro (a capa foi desenhada por mim, com aguarelas). A verdade é que abri o meu coração e é um livro feito com muito amor.

Por quê o nome Terra Maya?
Esta é uma das perguntas que mais me fazem e realmente o nome mais tarde revelou ser uma surpresa muito bonita. Quando decidi criar um blogue, descobrir o nome que para mim encaixasse na perfeição não foi simples. Lembro-me que a solução que arranjei, foi pensar naquela ideia, naquilo que queria transmitir e transportar para um espaço físico. Lembrei-me de um sítio no meio da Natureza, um sítio muito parecido com um local onde dormi em Bali e senti o cheiro da erva molhada, a incenso e óleo de erva- -príncipe.  O som do vento nas árvores e dos pássaros e a terra molhada por baixo dos meus pés e imaginei-os, a enraizarem, naquele local maravilhoso. Percebi imediatamente que o meu nome tinha de remeter para a Terra. Terra Mãe era a grande opção mas como já existia, procurei sinónimos para mãe, e encontrei a palavra Maya. Mais tarde vim a saber que o nome «Maya» não é tão simples quanto parece e está relacionado com a cultura indiana, significando «ilusão», a mesma que constitui a Natureza do Universo, estando por isso relacionada com uma força maior, um Universo e, segundo algumas lendas, com a necessidade que existe de nos descobrirmos. Posso dizer que fiquei bastante emocionada quando soube deste significado, porque é exatamente este o meu propósito com este blogue e posteriormente o livro: partilhar a importância de nos conectarmos connosco, com os outros e com o Universo.

Como é que tem sido a aceitação por parte do público?
Espetacular. Estou muito orgulhosa e sinto-me muito realizada porque, sem dúvida, o feedback tem sido incrível. Entrou logo nos tops das livrarias cá em Portugal, chegou inclusivamente a estar no top três e ao fim de três semanas posso dizer, que já está na segunda edição. Tenho recebido mensagens de apoio e de muito amor em relação ao livro e não podia estar mais feliz e grata. 

Com esta obra pretende ajudar muitas pessoas? De que forma?
Mais do que ajudar muitas pessoas, pretendo apresentar uma nova perspetiva, aquilo que resultou comigo e que as pessoas aprendam um pouco mais sobre os temas que considero importantes, que lhes pode fazer sentido ou não. Não acredito em fórmulas mágicas e, por isso, o meu caminho não tem de ser igual ao seu. Cada pessoa é diferente e a subjetividade de cada um deve ser tida em conta. Contudo, aquilo em que acredito mesmo é que um maior bem-estar só se consegue através do equilíbrio entre as três dimensões do nosso ser: mente, corpo e espírito.

 O que representou para si ter no dia do lançamento a “família da série Super Pai”?
 As pessoas que ficaram na minha vida foi a melhor coisa que o Super Pai me deu. Temos uma ligação muito forte e claro que foi maravilhoso ter o apoio deles.

As pessoas ainda se lembram da menina de Super Pai?
 Acho que o Super Pai nunca vai ser esquecido.

Como é que recorda esses tempos?
Com muito carinho. Foi uma fase muito engraçada da minha vida.

Que características é que ainda guarda da menina de Super Pai?
Mais do que a menina do Super Pai, da Clarinha, guardo a experiência e principalmente o que trouxe de lá: as pessoas.
 
Continua a manter relação com as suas “irmãs” da série?
Sim, somos muito amigas e temos uma verdadeira relação de “manas”, que ficou fora da ficção. Elas foram das primeiras pessoas a saber deste projeto, tanto do blogue como do livro e apoiaram-me sempre incondicionalmente. 

Fez mais alguma coisa em televisão?
Fiz televisão desde os dois anos e depois do Super Pai fiz muitas dobragens, algo que gosto muito também. 

Não tem vontade de voltar?
 Apesar de ser com carinho que olho para essa fase da minha vida, neste momento, a minha vontade é exercer aquilo para o qual tenho vindo a estudar, que acredito ser a minha verdadeira vocação: psicologia. 

Como foi o seu percurso desde que a série acabou?
Foquei-me nos estudos, até porque nunca tive como objetivo ser atriz. Tirei uma licenciatura em Ciências da Saúde, e quando fiz o pré-clínico, em Medicina Dentária, percebi que não era por aí o meu caminho. Mais tarde, alterei o meu rumo profissional e dediquei-me à Psicologia, que sempre foi algo que amava. Já tirei a minha segunda licenciatura e neste momento estou no último ano do mestrado em Psicologia Clínica.
 
Se surgisse um convite para voltar à televisão, voltava ou já não faz sentido na sua vida?
 Neste momento o meu único objetivo profissional é acabar o curso com sucesso, que está quase a terminar e dedicar-me à Psicologia e claro, ao Terra Maya, um projeto que me enche o coração e que já trouxe muitas coisas boas à minha vida. Voltar à televisão não faz parte dos meus planos.

Quando é que foi criado o blogue?
Nasceu no dia 20 de março de 2017.

Sentiu necessidade de criar um blogue?
Sim, tudo começou com as receitas que me iam pedindo na minha conta de Instagram. Claro que não podia fazer um blogue só de receitas e decidi falar do meu estilo de vida, associando a Psicologia e, claro, abordando uma área que adoro: o bem-estar e o equilíbrio. 

Revela no blogue que nem sempre teve um estilo de vida equilibrado…
Penso que quando somos mais novos, é difícil termos essa consciência, do que é equilibrado ou não e principalmente durante a adolescência, os excessos são normais e de certa forma, importantes. Também, passamos por um processo intenso de autodescoberta e autoconsciência, processo esse que apesar de ser contínuo ao longo da nossa vida, por vezes desperta-nos, e foi isso que aconteceu. Quando percebi que era demasiado stressada, que tinha uma alimentação rica em produtos processados e açúcares refinados, que não gostava de mim e que por isso, as minhas escolhas afetavam a minha mente, corpo e alma, foi aí que entendi que tinha de mudar o rumo da minha vida. Tomar conta do meu corpo com o objetivo de o tornar o mais apto e saudável possível passou a ser uma prioridade. Apercebi-me do poder que a nossa mente tem, da importância de uma perspetiva mais positiva, como também de ser essencial aceitarmos que a perfeição não existe e que é normal termos todo o tipo de emoções. Também,  que temos virtudes mas que também temos defeitos Nós somos perfeitos, dentro da nossa imperfeição e essa imperfeição, é maravilhosa.

Quando é que se deu o clique e decidiu deixar de ligar tanto ao que os outros diziam e olhar mais para si?
Lá esta, quando percebi que a forma como me vejo, como cuido de mim e da minha perspetiva, influenciam as minhas atitudes e comportamento. A autoestima, apesar de ser um conceito bastante complexo, é crucial no que toca a um maior bem-estar. Se nós não gostamos e cuidamos de nós, não podemos esperar que os outros o façam da melhor maneira. Uma das minhas maiores lições foi quando percebi que o que nós permitimos que entre na nossa vida está relacionado com o quanto gostamos de nós e o quanto nos valorizamos. 

Foram momentos complicados?
De certa forma sim, principalmente quando me apercebi disso. Comecei a sentir um grande sufoco e uma enorme vontade de me encontrar e de alterar o rumo da minha vida, tanto a nível da alimentação, porque tinha excesso de peso o que não era saudável, como também o facto de perceber que era essencial cuidar de mim, a todos os níveis. O stress em excesso, considerado “mau stress”, também teve diversos impactos na minha vida e de certa forma, ainda bem. Se não fosse esse desequilíbrio, nunca teria encontrado o meu caminho… 

Como é que a espiritualidade e a meditação mudaram a sua vida?
Com a meditação aprendi a parar, a respirar e a viver mais o momento presente. Ainda esta semana publiquei um post sobre o tema no blogue, porque considero que com tanto ênfase que se dá hoje em dia à meditação – e ainda bem – as pessoas não se apercebam da sua simplicidade. No que toca à espiritualidade, esta é muito subjetiva mas de certa forma, está relacionada com a conexão connosco, com os outros, com mundo e com um outro transcendente. O voluntariado teve o seu impacto obviamente e ajudou a moldar muito a pessoa que sou hoje. Fiz voluntariado cá em Portugal, durante muitos anos e fui duas vezes para Cabo Verde, onde aprendi que conectarmo-nos com os outros, entregarmo-nos, preenche-nos muito mais do que qualquer bem material. Também aprendi a dar valor às pequenas coisas.

No seu blogue fala do falhanço. Sente que já falhou várias vezes? Em que circunstâncias?
Claro… quem é que nunca falhou? O falhanço é muito importante e uma vida sem a possibilidade do mesmo era demasiado fácil e sem a surpresa que tanto a caracteriza. Adoro desafios, estou continuamente a desafiar-me e claro que por vezes não corre bem. Agradeço todas as vezes que falhei, porque sempre que o mesmo acontece, obriga-me a fazer uma retrospeção, a perceber onde é que errei, onde posso melhorar e sei que para a próxima dou o meu melhor. Se mesmo assim correr mal, acontece; bola para a frente, a vida é mesmo assim e ainda bem.

Quem é o seu porto seguro?
O meu namorado, a minha família e os meus melhores amigos. As pessoas pelas quais nos rodeamos são essenciais ao nosso bem-estar e é com elas que quero estar quando o meu mundo treme e não só. 

O seu namorado, Pedro Gameiro, também a ajudou na criação do livro. De que forma?
Sim. Tenho muito orgulho no Pedro, pela pessoa que é, como também, no seu percurso profissional. O Pedro além de ter formação em desporto também tirou o curso de Nutrição e não havia melhor pessoa para me ajudar na pesquisa e escrita dos assuntos relacionados com o tema. Sou apologista de que não devemos falar do que não sabemos e como queria ter uma pequena parte de nutrição presente no livro – porque considero que comermos bem é essencial – a ajuda do Pedro foi fulcral e não tenho palavras para lhe agradecer todo o apoio e dedicação que sempre teve.

Há quanto tempo começaram a namorar?
Três anos e meio.

 Como é que se conheceram?
 Há alguns anos, quando andámos na mesma faculdade.

O casamento faz parte dos vossos planos?
Temos outras prioridades, de momento… mas sim.

E ter filhos? 
Também, claro.

Quais são os seus maiores sonhos?
Tenho muitos, mas falando apenas dos meus sonhos relacionados com a minha vida profissional: quero acabar o mestrado com sucesso, ter um longo e sólido caminho enquanto psicóloga, e continuar a tocar no coração de muitas pessoas, que sem saberem, me inspiram diariamente com todo o amor que me transmitem.  

Texto: Carla Vidal Dias; Fotos: José Manuel Marques 

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