Habituada desde cedo a trabalhar todos os anos quase sem férias, Anabela Teixeira, de 38 anos, vive por estes dias um dos seus personagens mais intensos. O papel de Sofia Fragoso de Rosa Fogo, da SIC, está a exigir de si uma entrega e uma força psicológica gigantesca, mas, embora surpreendida com a história de “uma mulher que lutou pelo nascimento de um filho e se vê surpreendida com um cancro na mama e um tumor cerebral na melhor fase da sua vida”, a atriz, que celebra 20 anos de carreira em 2012, diz-se preparada para voltar a fazer chorar os portugueses.
VIP – Está diferente. A Sofia Fragoso “levou-lhe” o cabelo comprido, mas também deve estar a exigir muito de si…
Anabela Teixeira – Sim, é um papel complicado… A Sofia consegue finalmente engravidar, mas quando acha que tem tudo o que sempre quis é-lhe diagnosticado um cancro da mama e um tumor no cérebro…
Um papel carregado de emoções…
É muito real. Não fazia ideia do quanto esta situação é real. Sempre gostei de fazer de heroína e aceitei-a pelo desafio, mas não sabia que existiam assim tantas pessoas a sofrer com situações idênticas. É assustador.
A Anabela é uma mulher que sempre se mostrou preocupada com as questões de saúde. Tem cuidados especiais?
Tento ter uma alimentação bastante cuidada. É um assunto que me interessa bastante e leio muito sobre saúde e longevidade. Pelo que sei, esta é a única vida que temos, por isso é aproveitá-la o melhor possível.
É vegetariana?
Quando como fora tento ir a restaurantes de comida vegetariana, mas em casa é impossível. Confesso que não sei cozinhar. Faço uns pratinhos, mas a minha formação culinária é da Beira Baixa e do Alentejo (risos). Tento, mas não me sai grande coisa. Num futuro relativamente distante, gostava de tirar um curso de professora de ioga e de cozinha vegetariana ou macrobiótica.
Mesmo assim, tem atividades que já lhe devem ocupar bastante os dias…
Faço acupunctura, ioga, dança oriental e pilates, entre outras coisas menos regulares. E quando não o faço sinto-o no corpo.
A dança é algo que vem consigo quase desde sempre…
Danço desde os 18 anos. Tenho cinco anos de danças orientais e ando muito entusiasmada, confesso. Não é aquela típica dança oriental, com lencinhos e coisas assim. É muito visceral, muito ligada à terra, o que me ajuda a soltar energias e a trabalhar a expressão corporal.
Raramente tem tido tempo para férias. Mesmo assim sente essa necessidade de estar ativa?
Um ator tem de ser uma pessoa sempre preparada. Eu, por exemplo, trabalho todos os dias em casa. Um ator pode trabalhar até aos 100 anos, o que é algo que não acontece com todas as profissões. Viver com um músico [o namorado Frederico Pereira] inspira-me a manter-me ativa, porque, tal como eu, ele também trabalha todos os dias. O nosso corpo é a nossa ferramenta, as expressões que revelamos ajudam-nos bastante a conseguir chegar às pessoas…
Num papel tão dramático isso deve sentir-se ainda mais…
Sem dúvida, mas mais importante do que eu chorar numa cena é saber que o telespectador chora. Fico muito feliz quando as pessoas me abraçam a chorar. Às vezes até brincam e perguntam-me porque é que nós representamos tão bem.
Desde o início da sua carreira tem estado quase sempre a trabalhar. Acaba uma novela e começa um filme, ou vice-versa. Não sente necessidade de parar durante uns tempos?
Sinceramente… sentir até sinto, mas no nosso país férias é algo que um ator não se pode dar ao luxo de ter.
Como compensa essa necessidade?
Trabalhando ainda mais e aproveitando duas semanas por ano para ir a Espanha fazer uma reciclagem numa das mais prestigiadas escolas para atores profissionais. Quando volto, sinto-me revigorada, mas tenho de voltar a trabalhar, até porque se a vida custa a todos, aos atores, que trabalham intermitentemente, custa ainda mais.
E ainda está na direção da nova Academia de Cinema Portuguesa…
Era um sonho antigo do Paulo Trancoso e que foi concretizada agora. Estamos em plena laboração e para o ano vamos entregar os primeiros prémios.
Uma espécie de Oscar à portuguesa…
Sim. Ainda não sabemos como lhes vamos chamar, mas serão uns prémios dados por gente do cinema ao que de melhor se faz na sétima arte portuguesa.
Com tanta atividade, lá em casa não se queixam?
Não. Temos uma relação há tempo suficiente para isso estar mais do que resolvido.
Estão juntos há dez anos, mas nunca casaram. Por algum motivo?
Gostamos de viver em pecado (risos).
Texto: Miguel Cardoso; Fotos: Rui Costa; Produção: Romão Correia; Maquilhagem e cabelos: Ana Coelho, com produtos Maybelline Professionnel
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