Começou a fazer teatro com apenas nove anos e ficou conhecido do público quando entrou na série Conta-me Como Foi. Mais recentemente, mereceu elogios pelo seu papel de assassino em Jardins Proibidos. Revelando-se à VIP, Fernando Pires, que completou 30 anos, diz que se sente ainda uma criança.
VIP – Ainda esteve dois anos num curso de Matemática e depois mudou para Marketing, tendo concluído a licenciatura. É melhor a convencer do que a somar?
Fernando Pires – A somar (risos). Gostava muito de matemática. Quando entrei para o curso o meu pai faleceu e afastei-me da representação. Mas depois apareceu um casting para o Conta-me Como Foi, onde entrava o Miguel Guilherme, que eu adoro, e decidi voltar a este mundo. Fiquei e já não consegui acabar a matemática. Como queria mesmo licenciar-me e gosto de publicidade, terminei o de Marketing.
E como é que com nove anos fez uma peça, À Espera de Godot, com o ator Mário Viegas?
O meu pai era sonoplasta e estava a fazer essa peça. Disseram que precisavam de uma criança e o meu pai disse: “Tenho lá uma em casa!” Mal ele imaginava que hoje sou ator.
E com 14 anos já dividia o palco com a Maria do Céu Guerra…
Sim. O meu pai, entretanto, foi para o teatro A Barraca e fiz umas quatro ou cinco peças como a Maria do Céu Guerra… Lá está, tive sorte na vida.
Os seus pais gostavam de vê-lo?
O meu pai trabalhava lá e a minha mãe ia sempre ver-me. Diziam-me que ia bem, quem trabalhava comigo dizia que eu tinha jeito. E comecei a perceber que era aquilo que eu também gostava de fazer. Houve alguém da Endemol que me viu a fazer uma peça e convidou-me para um casting, na altura para a série Querido Professor.
Em 2000, que é o seu primeiro papel em televisão…
Exatamente. Fiz isso, depois o meu pai faleceu e foi quando decidi afastar-me. Mas quando fiz o Conta-Me já estava mais do que convencido de que era mesmo aquilo que eu queria fazer.
Nunca foi criticado por não ter formação?
Não. A melhor forma de aprendermos é irmos fazendo. Se eu tivesse aparecido do nada, mas não. Fui crescendo como ator, comecei no teatro. O meu método de representação é muito espontâneo, muito inato. Faço o que vou sentindo.
Quando fez o Conta-me, começou a sair à rua e a ser reconhecido. Como foi lidar com isso?
Sim. Aliás, há pessoas que ainda hoje me reconhecem dessa série. O que menos me fascina no meio é esse lado da exposição. E atenção que eu não sou ninguém. Mas sou muito “pessoa normal”, gosto de andar de fato de treino e na minha vida, não gosto de ter preocupações… preferia poder jantar fora sem sentir que me estavam a olhar pelo canto de olho. Às vezes estou a fumar um cigarro num sítio público e a achar que se calhar não deveria estar a fazê-lo. Enfim, tento gerir isso da melhor forma.
E o seu personagem Tomás, o assassino de Jardins Proibidos. Como foi fazê-lo?
Foi muito bom terem-me dado um papel tão desafiante. Acho que não correu mal, mas não sei como fiz o personagem, não faço ideia.
E gosta de se ver?
Não gosto de me ver porque nunca gosto do que faço. Vejo apenas por questões profissionais, se o que eu estou a dar ao papel está a fazer sentido, quando o personagem entre em “piloto automático” já não vejo mais.
Entretanto, entrou de férias e fez uma viagem muito bem acompanhado.
Sim, fui com a minha namorada [a atriz Jani Zhao] à China e ao Japão de mochila às costas. Sempre quis fazer esta viagem e concretizei-a agora. Foi uma viagem inesquecível.
Completou 30 anos. Como está a ser?
Não ligo nada à idade. Sou uma criança. Ainda recebo a prenda do Dia da Criança…
E como tem sido gravar este novo papel na novela A Impostora?
É um papel muito bom porque é diferente do que fiz em Jardins Proibidos. Ele trabalha num mercado, é mulherengo, tem uma vertente mais cómica.
O que espera de 2016?
Que seja tão bom como este ano. A nível profissional foi ótimo, sinto-me mais liberto, com mais confiança para experimentar coisas novas e isso é muito importante para um ator. Não sou muito ambicioso. Se eu puder ter a minha vida pacata, está tudo bem. Gosto de fazer as minhas construções, jogar à bola…
Vai casar-se, ter filhos?
Não, não penso nada nisso. Sou uma criança, lá está. Saí agora da casa da minha mãe, há um ano e meio, aliás, a minha mãe ainda vai lá lavar-me a roupa. Sonho um dia ter filhos… lá para os 50 anos, como fez o meu pai. Tenho tempo.
Gosta de construções?
Gosto. Tem a ver com bricolage, andei a restaurar a minha casa toda. Foi um gosto que me foi incutido pelo meu pai. A minha casa tem uns 30 anos e pus chão, pintei paredes, construí móveis. É um escape que funciona muito bem para mim.
E essa paixão pelo futebol, que o faz jogar quase todos os dias?
Gosto mesmo. Jogo entre amigos. O meu maior sonho era ter sido jogador de futebol, mas lá está, não sou nada ambicioso e acho que é uma das minhas lacunas. Não fiz por isso. O bom de ser assim é que tenho uma vida descontraída, porque sou feliz com o que tenho, mas devia mexer-me mais para atingir novos patamares.
Ao teatro é que não voltou, entretanto?
Não e tenho imensas saudades. Mas ultimamente tenho andado a pensar nisso. Vamos ver.
Texto: Ana Gomes Oliveira; Fotos: Luís Baltazar; Produção: Nucha; Cabelo e maquilhagem: Vanda Coelho com Produtos Kioma e L’Oréal Professionnel
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