Mostra de Teatro do Brasil, integrada no programa do Ano do Brasil em Portugal, trouxe Jackson Costa e Bianca Byington a Portugal com a comédia musical Farsa da Boa Preguiça, uma obra de Ariano Suassuna. Até 16 de dezembro, várias peças consagradas subirão ao palco do Teatro D. Maria II, em Lisboa. A VIP falou com os dois atores na véspera da estreia da peça em solo luso e mostraram-se os dois muito expectantes com a reação do público português. Mas no sábado, dia 24 de novembro, foram aplaudidos de pé de forma entusiástica. Para Jackson Costa – ator que está atualmente na novela Gabriela no papel de Douglas – é a primeira vez que vem a Portugal e que sai do Brasil. Já Bianca Byington é repetente.
VIP – Como é trazer pela primeira vez a Portugal a peça Farsa da Boa Preguiça, uma obra de Ariano Suassuna?
Bianca Byington – Há três anos que a peça estreou e o Jackson entrou a meio do caminho quando começámos a viajar com o espetáculo. É delicioso poder apresentar a peça aqui.
Qual é que acham que será a reação do público português?
JC – O público português está habituado a ver as novelas brasileiras e algumas delas com um pouco daquele universo do nordeste da obra de Jorge Amado, que o povo conhece mais, embora seja Ariano Suassuna o autor. Mas as novelas sempre retratam aquele universo nordestino e sabedoria popular, por isso achamos que terão facilidade.
BB – É uma incógnita para mim, mas talvez pelas novelas os portugueses tenham familiaridade com o sotaque. A obra é do Ariano e ele é muito sofisticado no humor e brincadeiras. Tomara que tenha a mesma empatia que no Brasil.
É uma comédia e interpretam um casal rico.
BB – Rico e nada conservador no sentido em que ele é apaixonado pela mulher do poeta e eu pelo poeta (outras duas personagens centrais).
A Bianca já esteve em Portugal a filmar um filme – Viúva Rica Solteira Não Fica, de José Fonseca e Costa. Como é regressar?
BB – É a terceira vez que estou em Portugal. Da primeira vez vim como turista e em passeio e depois vim para o filme que foi feito em Viseu. Estive três meses em Portugal. E agora voltei com esta peça numa mistura de trabalho e lazer, porque já conseguimos tirar tempo para passear.
Notou diferenças?
BB – A primeira vez que estive aqui foi em 1985, ou 86, e quando voltei em 2005 achei que Lisboa estava completamente diferente. Depois da Expo’98 modernizou muito.
E o Jackson? É a sua primeira vez cá?
JC – Sim. É a primeira vez que saio do Brasil e eu não queria sair. Quando a produção me ligou, eu não queria. Mas depois percebi que ia dar mais trabalho para eles do que para mim arranjarem alguém para me substituir.
Mas porque é que não queria vir?
Eu gosto de ficar no meu lugar e fazer os mesmos caminhos todos os dias. Não sei se é uma característica do baiano, mas eu não queria sair da cidadezinha onde eu moro, que é a mesma cidade onde Jorge Amado nasceu.
E o que está a achar?
JC – É um lugar maravilhoso. Acho interessante que da primeira vez que saio do Brasil venho para um país de língua portuguesa, de onde toda a nossa História se originou. Se eu não tivesse tomado a decisão de vir naquela altura, eu não viria mais, porque li numa entrevista que o Ariano Suassuna nunca saiu do Brasil e eu queria ser igual a ele com uma peça dele. Mas eu só li isso depois.
Como é que imaginava Lisboa?
JC – Todas as ideias que eu tinha em relação a Portugal estão a ser superadas. É muito mais encantador do que eu imaginava, principalmente por preservar durante muitos séculos toda uma cultura. A cidade de Lisboa inspira poesia e aqui dá para compreender um pouco melhor Fernando Pessoa, que quando eu via nas fotografias eu achava que era um passado, mas não é não, é muito presente. Andamos na rua e vemos pessoas como o Fernando Pessoa. Eu vejo o Fernando Pessoa na rua o tempo inteiro, a figura dele, quando passa uma pessoa assim para mim pode ser ele.
BB – Nós compreendemos muita coisa do brasileiro e da nossa História quando vimos a Portugal pela primeira vez. Lembro-me da sensação de entender uma coisa: “Ah, claro. É daqui que a gente vem.” Claro que temos outras misturas, mas é uma familiaridade profunda, é como se conhecêssemos a nossa mãe finalmente.
O que acham deste Ano do Brasil em Portugal?
JC – Acho fantástico. A nossa cultura vem para cá e a vossa vai para lá. Eu não estaria cá, por exemplo, se não estivesse a acontecer isso. Acho muito interessante esse intercâmbio, porque a cultura brasileira é muito rica, provém de várias influências.
BB – A ideia é trazer também coisas que não sejam tão óbvias, como o Brasil dos Índios.
Mas acho que lá falta alguma divulgação deste projeto.
Diriam que é uma forma de mostrar o Brasil que não é só o das novelas?
JC – Com certeza. Eu acho isso muito importante. As novelas mostram bastante da cultura brasileira, mas tem muita coisa que acontece e que as novelas não mostram. Nesse sentido é interessante que venham essas linhas artísticas que não passam e não cabem numa televisão.
Nomeadamente o teatro brasileiro, uma vez que está a decorrer a Mostra de Teatro do Brasil até 16 de dezembro.
JC – Ariano Suassuna começou esta peça no teatro popular, no Brasil. Este teatro pode acontecer em qualquer lugar, inclusive nas ruas, e existem várias montagens deste espetáculo nas ruas no Brasil, que tem características do vendedor ambulante, que é escola para muitos atores de teatro. Mas não só, se observarmos bem os apresentadores de televisão no Brasil, o Sílvio Santos, por exemplo, era um vendedor ambulante e ele hoje é um comunicador. O vendedor ambulante tem de ser um grande comunicador e esta peça tem essas características e é interessante que isso seja mostrado também.
Podemos vê-lo atualmente na novela Gabriela no papel de Douglas. Como foi participar no remake?
JC – Já terminámos de gravar. Acho que foi a primeira novela que eu desejei fazer. O ano passado estávamos em Curitiba com esta peça e eu vi um paletó (casaco) de linho branco à venda e dei por mim a pensar que muitas personagens masculinas de Jorge Amado usavam isso. Comprei como que invocando Jorge Amado, porque era o centenário dele, e deu certo. Convidaram-me para participar. Vibrei muito quando comecei a fazer a novela. Tem um elenco fantástico.
Texto: Helena Magna Costa; Fotos: Liliana Silva; Produção: Romão Correia
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