É o principal rosto do humor negro em Portugal e o primeiro humorista a ser processado pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC). Chama-se Rui Sinel de Cordes e vai atuar no Cinema São Jorge, no dia 22 deste mês, com o seu espetáculo Punchliner. Numa conversa acompanhada por um gin tónico, o humorista revela um pouco mais sobre si.
VIP – Oferecer-lhe um gin tónico é o sinal de que a entrevista vai correr bem?
Rui Sinel de Cordes – Sim, quase de certeza (risos). Com gin tónico corre tudo bem na vida.
Como é que o humor ganha uma dimensão profissional na sua vida?
Surge há quase dez anos. Tirei Ciências da Comunicação e no último ano do curso comecei a interessar-me mais pela escrita criativa. Depois pelo stand up comedy. Comecei a fazer espetáculos. Recebi um convite das Produções Fictícias. Passei a ser guionista, além de atuar, fui para outra produtora e mais tarde decidi abandonar tudo para apostar em mim. Foi quando fui para a SIC Radical fazer os meus programas.
Isso está ligado ao seu estilo de humor?
Sim. Estava a dar problemas às produtoras para quem trabalhava e às pessoas para quem escrevia. Era o que queria fazer e tomei a melhor decisão que podia ter tomado na vida. O seu estilo de humor não é muito comum.
Foi um rumo natural ou uma aposta?
É o único humor que sei fazer e nesse sentido é natural. Desde miúdo que tenho as características ligadas ao humor negro. Sempre fui rápido a procurar algo divertido nas situações trágicas. E não havia muita gente a fazer isso. E foi algo que me deu motivação.
Esta aposta foi ponderada ou tem sido uma surpresa para si?
Não previa nada. Faço o humor que me faz rir a mim. E tem sido sempre assim. O objetivo é este. Foi o primeiro humorista a ser processado pela ERC.
É algo para colocar no curriculum?
Por um lado, é giro dizer que sou o primeiro e que sou um grande maluco. Por outro lado, não tem piada fazer um especial de Natal que nunca mais poderá passar na televisão. Isto porque a ERC acha que no Dia de Natal as pessoas não se podem rir de certos conteúdos. É ridículo impor isto às pessoas. A SIC conseguiu ganhar o processo.
Já teve mais casos. Isto quer dizer que os portugueses têm pouco sentido de humor?
As coisas estão a mudar. Há um processo de adaptação. Tinha mais problemas há cinco anos do que tenho agora. São coisas que demoram.
Considera-se um humorista ofensivo?
Todas as pessoas têm o direito de se ofender e de não gostar de um estilo de humor. Eu tenho direito a fazer esse humor para milhares de pessoas que gostam deste humor e que não devem ter o acesso ao mesmo negado. Não faço humor para ofender alguém, mas é um tipo de humor passível de ofender alguém.
A sua imagem é o fato escuro. Porquê?
Sou assim. Nada é preparado tendo em vista a minha profissão. Visto-me assim imensas vezes. Se calhar, e sem necessidade nenhuma, visto-me assim quatro dias por semana. É algo normal.
Qual é o seu ponto forte?
É o palco e o stand up comedy. É o que gosto mais de fazer e onde posso explanar o meu humor à vontade. É uma confiança extra que ganho.
Um humorista pode ganhar muito dinheiro em Portugal?
Um humorista que se dedique ao seu trabalho pode ganhar muito dinheiro. Os tempos de ouro já foram, mas dá para ganhar dinheiro e viver bem.
Já sabe o que pretende fazer para o ano?
Costumo planear a minha vida e carreira com mais ou menos um ano de antecedência. Tenho uma série de coisas para decidir até ao final deste ano e acredito que vem aí um bom ano. Acredito que será melhor do que este.
Texto: Bruno Seruca; Foto: Luís Baltazar; Produção: Manuel Medeiro; Maquilhagem e cabelos: Ana Coelho com produtos Maybelline e L’Oréal Professionnel
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