Nunca pensou ser actriz até ao dia em que experimentou a representação. Desde então, Paula Neves, de 33 anos, tem crescido e conquistado o seu espaço no mundo da ficção, tornando-se numa das actrizes mais carismáticas da sua geração.
VIP – Como estão a correr as gravações da novela Sedução?
Paula Neves – Apesar de estarem numa fase cansativa, estão a correr muito bem. É aquela altura em que já se notam os meses de gravação e a intensidade do trabalho, embora ainda falte a recta final. Faço um balanço muito positivo. O núcleo de actores é fantástico, o ambiente é muito bom e gosto imenso da minha personagem.
As audiências não têm correspondido ao esperado. Isso nota-se no trabalho?
É algo que não conseguimos controlar e, honestamente, não temos nada a ver com o horário a que passa a novela. É claro que toda a gente sente porque queremos fazer o melhor trabalho, aquele que tem as melhores audiências. Noto que todos têm orgulho no que estão a fazer. É uma pena que não seja um sucesso maior.
Assume-se fã da sua personagem. Há muitas parecenças entre ambas?
Não (risos). A Laura é uma sobrevivente que sofreu e teve de lutar sozinha. Eu não passei por isso, sempre tive o apoio dos meus pais. Não tive a recusa de afectos que ela teve e que faz com que não se apaixone facilmente. Eu sou uma romântica apaixonada que não vive sem amor, romance e paixão. Sou um bocadinho pirosa a esse nível (risos).
Uma das paixões da Laura é a realização. A sua foi sempre a representação?
Não. Nunca pensei nisto e só passei a equacionar esta vida aos 19 anos. Em pequena, só me lembro de dizer que queria ser pintora de paredes. A partir da adolescência deixei de ter uma vocação. Aliás, quando escolhi o meu curso fi-lo por exclusão de partes. Peguei num caderno que tinha todos os cursos e comecei a riscar o que não queria. Sobrou Sociologia. Formei-me no ISCTE, mas percebi que não era aquilo que queria. Estava na Central Models e fui escolhida para a série Riscos. Foi a primeira vez na minha vida que senti tamanha adrenalina, prazer e emoção. Senti que era aquilo que queria. A partir desse momento sempre quis ser actriz.
Nunca perdeu o encanto?
Houve uma altura em que me desiludi. A instabilidade é muito difícil de gerir. Tão depressa estás confiante e achas que vais fazer isto até morrer como ficas sem trabalho e achas que nunca mais vais trabalhar. No último ano e meio comecei a dar aulas de interpretação e para o fazer dediquei-me muito mais à parte teórica. Isso fez-me voltar a ter paixão por esta profissão. Agora sinto que esta profissão é dura, mas é o que quero fazer até morrer e vou lutar por isso até ao fim, mesmo com toda a instabilidade.
Falar de Paula Neves quase obriga a falar de Anjo Selvagem….
Sim (risos). Foi o personagem mais importante que fiz em termos mediáticos, de intensidade, de trabalho e do que significou para a minha vida. Foi algo tão extremo que não é comparável com nada. Tenho um orgulho enorme nesse trabalho. Olho para trás e sinto-me uma privilegiada. Foi bom para mim e para a TVI, que começou a liderar as audiências nessa altura.
O personagem marca a sua carreira?
Sinto que marcou o meu lugar na Plural, na televisão e na memória das pessoas. Foi o trabalho que arranjou espaço para mim.
Naquela altura imaginava uma carreira igual à que construiu?
Só pensava no momento e não tinha noção nenhuma. Nem sequer tinha noção do impacto que tinha junto do público. Não me esqueço de ter ido a um programa na Praça da Figueira onde estavam milhares de pessoas. Senti-me uma estrela rock.
E quando o projecto acabou?
Tive um esgotamento. Estive cerca de oito meses sem sair de casa. Não me apercebi do impacto que tinha junto das pessoas.
Como tem observado as mudanças de actores entre canais?
O que está a acontecer no mercado é bom para todos. A concorrência faz com que o empenho seja maior porque estamos a competir com alguém e isso aumenta os padrões de qualidade. É saudável haver duas estações a apostar na ficção nacional. Espero que a RTP se junte a este grupo.
Recentemente, teve uma experiência no cinema francês ao participar no filme Moi, Bernadette, J'ai Vu!
Foi uma participação curta, mas maravilhosa. Estamos a falar de um filme de época. Nunca me tinha visto assim. Foi uma sensação maravilhosa.
E o facto de ter gravado em francês?
Não falo francês, mas tive de o fazer (risos). Pedia aos meus colegas para me dizerem as frases, gravava e depois estava sempre a ouvir e a repetir. Não sei se não tenho que ser dobrada (risos).
A sua carreira está direccionada para a televisão. Foi uma opção?
Assim aconteceu. Gosto muito de fazer televisão e novelas. Detesto a opinião de que é uma arte menor. Mas estou com saudades de fazer teatro, algo que irá acontecer este ano. Mas também gostaria de fazer cinema e acho possível fazer tudo. O suporte da carreira e aquilo que me dá alguma segurança e sustento de vida é a televisão. E além disto também adoro dar aulas.
Com a "Trinca-Espinhas" veio o rótulo de maria-rapaz. Foi complicado descolar-se dessa imagem?
Pessoalmente não, porque nunca fui maria-rapaz. As pessoas é que me viam assim. Houve uma altura em que senti necessidade de me apresentar de uma forma mais feminina e elegante. Precisava de me sentir mais mulher e que os outros me sentissem mais mulher. Muitas pessoas ficaram com essa imagem, a de menina reguila.
Os papéis e as produções fotográficas mais ousadas foram o ponto de viragem?
Foram "o grito do Ipiranga" (risos). Não tem muito a ver comigo, mas precisava de mostrar que tenho um lado feminino e sensual.
Revê-se nas fotografias mais ousadas?
Não, mas vejo aquela "gaja" e adoro (risos). Acho que as fotos estão lindas e que são sensuais e adoro o resultado final, mas não me imagino assim. Acho que não sou sexy, mas sou sensual. Aliás, todos somos sensuais quando estamos com alguém que gostamos.
Alguma vez ficou desesperada por ser muito magra?
Controlo o meu peso todos os dias. Pode dizer-se que sou ligeiramente obcecada (risos). A minha preocupação é não perder peso e não baixar dos 50 quilos. Mas a partir dos 30 passei a gostar de ser magra.
Nunca quis mudar nada no corpo?
Houve uma altura em que pensei aumentar o peito e fazer outras coisas, mas é algo que não tem a ver comigo. Tenho imensos cuidados, vou ao ginásio, uso cremes e faço tratamentos estéticos.
Em busca de uma beleza natural…
Sempre com esse objectivo, porque não gosto de coisas artificiais. Não gosto da onda do kit unhas falsas, pestanas falsas, lentes de contacto, extensões no cabelo e mamas falsas. Não tem a ver comigo. A beleza natural é mais bonita, mas é menos valorizada.
Como é que o seu marido, Ricardo Duarte, lida com as cenas ousadas?
De uma forma espectacular… não vê!
É assim desde o início da relação?
Sim, porque não é masoquista (risos). É algo que o incomoda e portanto não vê. Ele tem consciência do que é o meu trabalho e daquilo que tenho que fazer.
O facto de Ricardo não ser uma figura pública faz com que seja um refúgio para si?
Sim. É o meu porto seguro e alivia-me ele não estar nesta área. Apesar de ser uma área fascinante, o fascinante tem sempre outro lado mau que é aterrorizador. Haver alguém de fora que não está no meio da confusão ajuda a relativizar as coisas.
Que barreiras gostava de ultrapassar até aos 40 anos?
A nível pessoal gostava de dar o próximo passo da relação que é ter um filho. Acho que está na altura, pela idade e pela nossa vida. Como estamos a falar até aos 40 anos, talvez dê esse passo duas vezes (risos). Profissionalmente, gostava de solidificar a carreira. Quero ser actriz sempre! Quero melhorar e continuar a entregar-me aos projectos de corpo e alma. Quero continuar a dar aulas, fazer teatro e cinema. Quero ser feliz.
Texto: Bruno Seruca; Fotos: Rui Costa; Produção: Romão Correia; Maquilhagem e cabelos: Vanda Pimentel com produtos Maybelline e L’Oréal Professionnel
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