Aos 31 anos, Andreia Teles está a ter a experiência da sua vida: ela é Victoria, na novela Destinos Cruzados, uma manequim em fim de carreira que não aceita o facto de estar a envelhecer. A atriz começou por ser manequim, por isso, identifica-se com este papel. Porém, salvaguarda que não tem nada a ver com a personagem que é “raivosa e má”. Conheça a nova cara da TVI, que antes apresentou o programa das madrugadas Sempre a Somar, e que vive dividida entre o Porto – onde nasceu, tem a família e a filha Mia, 20 meses, para quem vive –, e Lisboa, onde grava a novela de António Barreira.
VIP – Como está a ser a experiência de viver esta Victoria?
Andreia Teles – Está a ser muito boa enquanto atriz.
Não é isso que queria ser quando fosse grande?
A nível de televisão eu quero mesmo é ser apresentadora. Mas ser atriz está a deixar-me um bichinho. Nunca imaginei que aos 30 anos tivesse esta oportunidade.
Fale-me desta Victoria que é uma manequim em final de carreira e que vai ter problemas precisamente por não aceitar que está a envelhecer.
Quando fiz o casting não tinha ideia que a Victoria era tão má. Pensei que ela era só fútil. Mas não. Ela é terrível e isso está a ser fantástico porque me faz experimentar coisas que nunca senti na vida.
Como por exemplo?
Raiva e ódio. Ela é muito raivosa, extremamente egoísta, é muito má para a enteada. Eu fui mãe há pouco tempo e fazer essas cenas custa-me muito. Ela diz coisas à enteada que são mesmo más. No entanto, ela não se sente má, sente que a realidade dela é a correta. Ela sempre cuidou muito da
parte exterior, mas nunca cuidou do interior.
Identifica-se pouco com a Victoria?
Praticamente nada, a não ser com a parte final de carreira. Sinto que ainda não cheguei lá, mas a verdade é que gradualmente há trabalhos que já não faço. Na moda estão sempre a entrar caras novas e eu sinto que este meu ciclo está a fechar. Começas a perceber que tens de ter uma vida real, que tens de trabalhar um mês inteiro para ganhar o teu ordenado; não vais ganhar num dia ou dois o que uma pessoa normal ganha num mês. Por isso, é importante continuares a estudar e teres uma vida real. É muito fácil ficares deslumbrado trabalhando no mundo da moda, porque se a vida te corre bem ganhas muito dinheiro.
O que depois traz problemas. A Victoria passa por aí, não é? Vai refugiar-se nas drogas.
Sim, infelizmente essa é uma realidade. Eu fiz algumas pesquisas sobre droga para interpretar a Victoria. Vi filmes para ter uma noção das coisas que acontecem. Uma bebedeira já toda a gente apanhou, e não é muito difícil de representar, mas alguém que é adito é diferente. Então estudei o que leva alguém a consumir, quais são os efeitos durante e depois, se há ressaca ou não. Descobri uma série de coisas sobre a cocaína que não fazia ideia.
Ficou mais desperta para o problema das drogas?
Fiquei, se bem que hoje em dia já todos ouvimos falar, já todos tivemos pessoas próximas a consumir. É assustador.
É importante falar disto em novelas. É importante fazer das novelas o espelho da sociedade.
Sim, eu espero sinceramente que a Victorianão seja um exemplo a seguir. Acho que infelizmente, a Vitória tem tudo e vai ter de perder tudo para perceber que não lhe faltava nada para ser feliz. Acho que há muitas pessoas assim na realidade.
A Andreia dá valor ao quê para ser feliz?
À família, aos amigos. Sou muito apegada às pessoas.
E à cidade? É natural do Porto e esta novela obriga-a a vir a Lisboa frequentemente.
Sim, vivo metade cá, metade lá. Já não é a primeira vez. Na altura do Sempre a Somar tive de me mudar mesmo para cá, porque gravava todos os dias.
Qual a maior diferença que sente entre as cidades?
As pessoas. Quando há alguém do Norte cá nota-se logo a diferença. Somos muito mais calorosos, recetivos. Acho que os lisboetas são desconfiados. Mas como tenho amigos do Porto que moram cá refugio-me muito neles. Agora quando estou cá estou focada na Victoria; quando regresso ao Porto sou a Andreia.
Como é a Andreia?
Sou uma pessoa normal. Tenho a minha família, a minha filha, gosto de passear na praia, gosto de ir ao cinema, ao teatro, gosto de ler, adoro brincar com a minha filha. Neste momento quando estou no Porto a minha prioridade é estar com a minha filha.
Ela é pequenina. Como é deixá-la para vir trabalhar?
Ela nunca conheceu outra realidade. Eu sempre viajei. A Mia nasceu e logo um mês depois eu já estava na Academia RTP, onde montei um programa de entretenimento com duas amigas manequins. Eu nunca tive a sorte de ficar muito tempo em casa, de viver para ela.
Tem uma base familiar que a ajuda com a Mia?
Sim, a Mia é uma criança supermimada. Os meus pais são a minha maior base, apoiam-me incondicionalmente em tudo o que eu faço. E a Mia é superamada. Óbvio que sinto uma dor no peito quando a tenho de deixar, mas depois ligo–lhe e ela está sempre a rir. Diz umas palavritas… “mamã”, “papá”, mas nada de especial ainda. Mas já é um bocado chantagista e independente. Ela tem uma forma de estar muito parecida com a minha: muito tranquila, está sempre tudo bem.
Mudou muito depois de ser mãe?
Sim. Eu acho que tu vives muito bem sem ser mãe, mas a partir do momento em que o és tudo muda. Eu sempre quis ser mãe, mas não fazia a mínima ideia de como ia mudar. Desperta em ti um amor incondicional, não dás um passo sem pensar no teu filho, é a ela que vais deixar o teu legado. Pensei muito antes de aceitar fazer a Victoria porque ela é problemática, andar sempre em lingerie. Tenho de pensar que não posso fazer coisas que deixem a minha filha com vergonha. Penso sempre em primeiro lugar na minha filha. Deixei de ser uma criatura de vontades.
É uma mãe completamente apaixonada pela filha?
Sim, completamente. Adorava ter uma data de filhos, mas isto está tão complicado. Mas se a vida permitir vou ter mais filhos. Apesar de ser manequim, não tenho medo de estragar o corpo.
Diz que anda muito em lingerie na novela. Não é estranho sendo mãe?
É muito estranho. Graças a Deus quando entro em cena a Victoria entra de tal forma em mim que eu esqueço-me da minha filha, dos meus pais, do pai da minha filha, esqueço-me de tudo e não penso muito no quanto estou exposta. Eu estou magra, mas não me sinto completamente em forma, porque não tive tempo para treinar como gostaria.
Mas gosta do que vê ao espelho?
Sim, se bem que melhoraria muita coisa. Mas acho que isso é o que sente qualquer mulher. Tenho de me contentar com o que há. Até porque a Victoria já está em final de carreira, portanto não tem de estar maravilhosa como devia estar quando se tem 20 anos (risos). Mas enquanto mulher sinto-me bem.
E é fácil fazer um papel de mulher sexy e sedutora?
Para qualquer mulher que tenha sido mãe ter de interpretar uma mulher sedutora, com um corpo maravilhoso – como escreve o António Barreira –, eu tive medo de fisicamente não estar em condições para tal. Mas depois de ser mãe, voltar a fazer algo enquanto mulher que marca como exemplo de um corpo perfeito é bom, faz-me sentir bem. Acho é que tenho outra maturidade para encarar esta personagem.
Está preparada para a fama e para o assédio dos fãs?
Quando apresentei o Sempre a Somar dizia às pessoas que me abordavam que estavam enganadas, que não era eu. Mentia à força toda (risos). Agora com a Victoria… Eu não tenho a produção dela, eu sou muito maria-rapaz a vestir e acho que as pessoas não me vão reconhecer. E espero que isso aconteça. Tenho medo (risos)! A Victoria é muito má, tem o perfil para ser apedrejada na rua! Mas vou ter de aprender a reagir, se isso acontecer.
Texto: Sónia Salgueiro Silva; Fotos: Bruno Peres; Produção: Manuel Medeiros; Maquilhagem e Cabelos: Vanda Pimentel com produtos Maybeline e L’Oréal Professionnel
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