O pai de Emanuel morreu a 1 de janeiro, depois de ter sofrido três AVC, ter ficado paralisado e ter contraído covid-19. O progenitor do cantor viveu os últimos meses de vida entre o lar onde vivia e o hospital e o artista contou agora que nunca deixou de fazer o “Domingão”, na SIC, porque era a única forma de o pai o ver, uma vez que não podia visitá-lo devido à pandemia.
Emanuel fez estas revelações durante uma entrevista a Daniel Oliveira, transmitida no “Alta Definição” deste sábado, 19 de junho. “Tinha o meu pai também num lar, numa situação muito difícil e vivenciei situações, direi, estranhas. Tinha o meu pai ali e aí reforçou-se a vontade de agradar àquelas pessoas e acredita que muita gente estava muito feliz (…)”, começou por contar.
O cantor estava afastado dos pais por força da pandemia, mas o “Domingão”, programa da estação de Paço de Arcos e que passa, como o nome indica, aos domingos, era uma forma de os pais verem o mais velho. “Foi crucial. Na fase final do meu pai, em que ele ficou meses, ora no lar, ora no hospital, por último sempre no hospital em que não podia ser visitado por nós, o ‘Domingão’ era quando ele via o filho mais velho, e o filho mais velho representava a família”, explicou, revelando também que o progenitor “fisicamente já não se mexia. Estava completamente imobilizado”. “O pior de tudo é que ele não nos conseguia ver. Como sabes, ninguém podia visitar os familiares nos hospitais e o ‘Domingão’ era a solução para ele, e eu sabia disso”, realçou o artista.
“Não impunha nada, era um homem extraordinário”
O “rei da música pimba” como foi apelidado nos anos 90, contou ainda a Daniel Oliveira que o pai “era muito ligado à família”. “Conheceu a minha mãe quando era uma criança, namoraram, casaram, criaram filhos, e viveram sempre em consequência da família e dos filhos. Estar separado de nós e nós separados dele… Estávamos habituados à personalidade dele, que era um homem que gostava de expôr a sua vontade e a sua vontade era omnipotente. Não impunha nada, era um homem extraordinário”, disse.
Emanuel continuou: “Ele ficou paralisado, teve três AVC, até ficar na última e depois teve covid… ainda isso. Venceu isso tudo. Só não venceu no dia em que percebeu que chegou o dia 1 de janeiro”, data em que juntava a família toda para uma almoçarada. “Ele sempre teve esperança que o ia fazer (…) Ele viveu com esta esperança. Quando o dia 1 passou e ele não veio cá, desistiu”. O pai do cantor morreu com 88 anos.
Questionado pelo apresentador por que razão Emanuel não deixou de fazer nenhum ‘Domingão’, a resposta foi perentória. “Por causa dele… Não me faças chorar”, emocionou-se, continuando, com lágrimas nos olhos: “Por causa dele. Foram os dias mais difíceis da minha vida, Daniel. Ninguém sabia, ninguém deu por isso. Não disse a ninguém. Ninguém. Fiz pelo meu pai. Ele faleceu na sexta-feira e eu fui fazer o Domingão”.
“Sou um homem que gosta de ter fé e quero ter fé e não prescindo de ter fé. Acho que, quando nós temos essa faculdade, é mais fácil viver. O meu pai regressou a Deus, porque foi sempre uma boa pessoa. Quando tens esta convicção, as pessoas que amamos jamais morrem, apenas partem mais cedo. E esta convicção é a convicção que tenho hoje. Quando fiz o ‘Domingão’, eu tinha a convicção, de que estava a fazer bem ao meu pai e fi-lo”, garante.
“Temos de tratar da nossa mãe e estamos a fazê-lo”
Emanuel continuou a falar dos pais durante a entrevista ao “Alta Definição”. “Eu e os meus irmãos somos muito gratos por ter tido um pai como ele. Não era muito afetivo, não demonstrava as suas emoções, mas era um homem de família, trabalhador, Não se zangava com ninguém”, disse, falando também de como tem sido a vida da mãe após a morte do companheiro de uma vida: “Temos de tratar da nossa mãe e estamos a fazê-lo. Um dos meus irmãos vive com ela, vendeu a sua casa, para perceberes a união familiar, a união que nós temos. O meu irmão Luís vendeu a casa dele e foi viver com a minha mãe. O meu irmão Jerónimo tem tempo, vai para lá, fica lá aos 15 dias e, portanto, estamos a tratar da minha mãe muito bem. É muito dramático”
Questionado sobre o que diria ao pai se tivesse oportunidade, Emanuel respondeu, mas com muita emoção. “Gostava que tivesses ficado mais dez anos… porque era isso que eu pensava que ia acontecer. Acreditava plenamente que o meu pai ia ficar cá até aos 95 anos”, afirmou. “Falas com ele ainda hoje?”, perguntou Daniel. “Falo”, responde o artista após hesitar devido à emoção.
Texto: Andreia Costinha de Miranda; Fotos: Reprodução SIC
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