Tem 41 anos mas a sua carreira já conta com mais de duas décadas. Em 1993, Anabela Teixeira estreava-se como protagonista da minissérie Viúva do Enforcado, pouco depois de acabar o Curso de Atores, que haveria de prosseguir na Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa. Vinte anos depois, a atriz faz um balanço otimista e apaixonado de um percurso que passou várias vezes pelo estrangeiro. Na pele de Marta, voltou a ser protagonista de Os Nossos Dias, a série da tarde da RTP que acabou de gravar no ano passado e ainda está a ser transmitida. Entre outras experiências e aprendizagens, diz que lhe falta explorar o seu lado cómico, algo que espera concretizar em breve, e que pretende continuar a defender o cinema português, nomeadamente através da Academia Portuguesa de Cinema. Há praticamente 14 anos, o músico Frederico Pereira roubou-lhe o coração e a atriz, no amor como na profissão, entregou-se por completo.
VIP – Antes de mais, que balanço faz de Os Nossos Dias e da sua protagonista?
Anabela Teixeira – Embora ainda esteja no ar, as gravações terminaram com muita antecedência, mas as pessoas vêm ter comigo porque gostam muito da Marta. A Marta é muito real, é uma personagem dos nossos dias e as pessoas identificam- -se muito com ela. Vai sofrendo, vai ultrapassando obstáculos… Gostei muito de lhe dar corpo. Foi um trabalho muito intenso, tanto a nível físico como psicológico. Fazer uma protagonista implica um ritmo mais acelerado, uma responsabilidade acrescida. Já não me acontecia há algum tempo e gostei muito desta oportunidade. Ela é uma supermãe. Eu ainda não sou mãe – gostava muito de ser, ainda não aconteceu –, mas inspirei-me na minha mãe para esta personagem, porque ela foi um exemplo de amor. Sempre foi enfermeira, é uma pessoa muito altruísta, dá tudo pelos filhos, portanto, observei- a muito, de uma forma diferente, não como filha, mas como atriz, e isso permitiu-me ver uma série de coisas. Aprendi muito com a Marta. Eu dou tudo às minhas personagens, mas elas também me dão muito a mim.
Já que falou da maternidade… Disse, em tempos, que só precisava de ter um filho para se sentir completa. Continua a sentir essa necessidade?
Há 13 ou 14 anos que eu e o Fred [Frederico Pereira] estamos juntos e, desde que as pessoas perceberam que nos amamos, e depois de perceberem que não íamos casar, começaram a perguntar quando é que íamos ter filhos. Sinto muito essa pressão social. Também há a questão do relógio biológico, mas cada vez menos a mulher e o homem têm de ter essa pressão sobre eles, pois há o avanço tecnológico… Nós somos pessoas muito saudáveis, mas também somos responsáveis, gostamos muito do que fazemos, da nossa profissão. Esperamos, um dia, vir a ser pais, mas também penso, cada vez mais, que, se isso não acontecer na nossa vida, se calhar é porque tem de haver uma aceitação. Não é o momento para que isso aconteça. Não estou a ser nem pragmática nem dramática, mas não gostamos de sentir, nem eu nem o meu marido, que somos condicionados por algo que a sociedade nos impõe. Há casais que são felicíssimos sem filhos a vida toda, há outros que não, que sofrem imenso, há outros ainda que adotam…
Estão juntos há mais de 13 anos. Há alguma receita mágica para manter uma relação apaixonada e harmoniosa?
Estamos juntos desde o início de 2001, sim… Eu não sei se há receita, mas, por acaso, cozinho bem! (risos) Agora a sério, acho que não é pelo estômago que se agarra um homem. Acho que o respeito pelo outro é importante, a comunicação também, e depois, claro, é preciso amar muito. Amar é tudo, é querer estar com o outro, é querer ouvir, querer entender, não tentar impor uma vontade. Ao longo destes anos, ele tem sido, realmente, o meu companheiro, a minha família. Nem me imagino a ser eu, sem ele.
São parecidos?
Não, somos muito diferentes. Ele é muito assertivo. A mim, pelo contrário, custa-me imenso dizer “não” e, quando sou confrontada com algo inesperado, às vezes reajo de forma exagerada. Sou muito sensível e, quando sinto que o ambiente está estranho, tento fazer algo. O Fred é muito tranquilo. Acho que, se calhar, nos contagiamos. E, depois, ele apoia-me imenso no meu trabalho, o que é muito importante.
É frequentemente júri de festivais de cinema: em novembro vai estar no Festival Caminhos do Cinema Português, em Coimbra, faz parte da comissão de notáveis dos Globos de Ouro… Sabe-lhe bem avaliar cinema? É diferente ver um filme como crítica do que como espetadora?
Gosto muito de ser júri de festivais, dá-me imenso prazer. Vou agora a Seia, em outubro, e também já fui júri do Festival Indie, entre outros. Eu só consigo ver um filme como espetadora. Adoro ir ao cinema e se não for ao cinema uma vez por semana começo a “flipar”. Portanto, quando tenho oportunidade de ver filmes todos os dias, fico feliz. Acho que o gosto pelo cinema português surgiu muito do facto de ter pertencido à comissão de análise dos Globos de Ouro, há cerca de dez anos. Comecei a perceber que há muitos filmes que não via porque estavam pouco tempo em sala, e comecei a aperceber-me da pluralidade do cinema português. Claro que há realizadores de quem sou fã há muitos anos e há outros que descobri mais recentemente. Agora estou mais numa fase de criação, e também gosto desta efervescência. Sinto isso, por exemplo, no Porto, porque como praticamente não há televisão, há muito mais criatividade. O Fred é do Porto, no ano passado estive lá quatro meses com a peça Casas Pardas, e acho que eles fazem, concretizam. Senti muito isso no Brasil quando trabalhava com os miúdos na favela do Vidigal. Eu, toda europeia, a dizer que tínhamos de fazer um projeto para o final do curso, e eles perguntavam: “Que projeto quer fazer? Começamos já amanhã”. Eles construíram, tijolo a tijolo, o teatrinho lá do bairro. Era preciso um teatro, eles fizeram-no. Às vezes sinto que essa energia de criação não é a nossa praia e eu, neste momento, estou a tentar ligar-me a ela.
O que fez desde que terminou as gravações de Os Nossos Dias? Tem tido muito projetos?
Fizemos As Mulheres de Abril, também no Porto. Têm surgido projetos bastante interessantes. O mais importante é fazer boas escolhas, até mais do que o facto de os trabalhos serem em televisão, teatro ou cinema. O texto é o mais importante.
Sente que, depois destes 20 anos, pode dar -se ao luxo de escolher, de dizer “não”?
Sim, acho que estou rodeada de uma equipa muito forte, que é como uma família. Estou rodeada de pessoas muito bonitas que têm tudo a ver comigo, que me dão muita força, e sinto que estou cada vez mais perto de mim própria.
Mais segura de si também?
Não sei se segurança é uma coisa que se aplica a mim. É importante ter autoestima, gostar de mim, sentir-me bem, estar feliz. Acho que cheguei a um ponto que me permite relaxar e, eventualmente, dizer “não”, mas com consciência. E o “sim” também é com consciência, a apontar para algum caminho. E não me sinto sozinha nessa escolha, o que é muito importante. Ser ator é comunicar e esse trabalho de equipa é essencial à minha vida. Sinto muito isso quando vou fazer formação e workshops. Adoro estar com colegas a pesquisar, a errar, a falhar… Por isso é que acho que a segurança não é o centro da questão. Todos nós queremos alguma estabilidade, mas acho que no trabalho de ator estamos sempre a experimentar e, às vezes, é no erro que está a perfeição.
Texto: Elizabete Agostinho; Fotos: Bruno Peres; Produção: Manuel Medeiro;
Maquilhagem e cabelos: Vanda Pimentel com produtos Maybeline e L’Oréal Professionnel
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