No mês da Consciencialização da Doença Celíaca, a Dra. Rita Mesquita Azevedo, Nutricionista do Grupo Trofa Saúde, fala-nos dos sintomas, do tratamento e da importância do acompanhamento nutricional.
O que é?
“A doença celíaca (DC) é uma doença crónica, autoimune, caracterizada pela reação imunológica ao glúten.
O glúten é uma proteína presente em cereais como o trigo, centeio e cevada.
A doença celíaca caracteriza-se por um estado de inflamação crónica da mucosa intestinal, ou seja, quando uma pessoa com doença celíaca consome glúten, é desencadeada uma resposta imune que afeta o intestino delgado. Isto pode levar a vários sintomas e complicações, tais como problemas digestivos e intestinais (diarreias; obstipação; flatulência…), deficiências nutricionais, anemia, fadiga, entre outros.”
Quais os sintomas?
– Sintomas gastrointestinais: diarreia ou obstipação (prisão de ventre), distensão abdominal, flatulência/aerocolia, dor abdominal, náuseas, vómitos.
– Sintomas Extraintestinais: fadiga/fraqueza, dores musculares e articulares, irritabilidade, depressão/ ansiedade, problemas de pele (dermatite herpetiforme), dor de cabeça, diminuição apetite, perda peso, osteoporose, anemia (défice de ferro, acido fólico, vitamina B12), infertilidade, esterilidade, aborto espontâneo recorrente, alterações funcionamento hepático.
– Sintomas na idade pediátrica: atraso crescimento, baixo peso, distensão abdominal.
Como é feito o seu diagnóstico?
“O diagnóstico da doença celíaca geralmente envolve análises de sangue e uma biópsia ao intestino delgado.
Os exames de sangue são realizados para verificar a existência de anticorpos da doença celíaca (anti gliadina; anti endomisio; anti transglutaminase). Se estes resultados forem positivos, é feita uma biopsia intestinal para confirmação de diagnostico. Caso os resultados sejam negativos, mas os sintomas persistirem pode ser feita a biopsia intestinal para confirmação de doença celíaca.
É crucial que os pacientes não estejam a praticar uma dieta isenta de glúten antes e durante os exames de diagnósticos, de forma a evitar resultados falsos negativos.”
Qual o seu tratamento?
“O único tratamento da doença celíaca é a dieta isenta de glúten – o que significa eliminar todos os alimentos que contenham na sua constituição trigo, cevada e centeio, bem como quaisquer produtos que possam ser contaminados com glúten durante a sua produção.
A dieta isenta de glúten é para toda a vida do paciente com doença celíaca, não só numa fase inicial como melhoria de sintomas, mas a eliminação total do glúten é crucial para a estabilidade e equilíbrio intestinal, pois pequenas quantidades de glúten consumidos podem desencadear respostas imunes.
A ingestão de glúten vai provocar alterações no intestino que impedem a absorção normal dos nutrientes, pelo que o acompanhamento nutricional nestes casos é fundamental, garantindo o correto aporte nutricional.”
Importância do acompanhamento nutricional na Doença Celíaca
O acompanhamento nutricional é crucial na gestão da doença celíaca, pois uma dieta isenta de glúten pode significativamente influenciar a ingestão de nutrientes e a qualidade da alimentação.
- O nutricionista tem o papel de fornecer informações especificas sobre a doença celíaca, o glúten e quais os alimentos que devem ser evitados e quais as alternativas sem glúten que podem ser introduzidas – Alimentos Específicos sem Glúten (AESG) – como por exemplo deve ser evitado o trigo, centeio, cevada, aveia, entre outros e podem ser consumidos por exemplo tapioca, batata, arroz, quinoa, entre outros.
- É importante realizar a aprendizagem da lista de ingredientes dos produtos alimentares, de forma a evitar a presença de glúten. Também é necessário alertar para alguns cuidados a ter em casa na preparação, confeção e armazenamento dos produtos alimentares, de forma a garantir a segurança na dieta isenta sem glúten, evitando a contaminação cruzada. Alguns cuidados a ter são: não utilizar a mesma esponja para lavar e enxugar louça com e sem glúten; usar tábuas, torradeiras, facas, entre outros utensílios de cozinha somente para o doente com doença celíaca e não partilhar com outros alimentos que contenham glúten.
- Deve haver a monitorização regular através de análises ao sangue de vitaminas e minerais como ferro, cálcio, vitamina D, vitamina B12 e ácido fólico nestes pacientes com doença celíaca, pois o risco de défices nutricionais é elevado, tendo o nutricionista o papel de ajuste de dieta e suplementação nutricional.
- Mesmo com a implementação de uma dieta isenta de glúten, alguns pacientes com doença celíaca continuam a apresentar sintomas gastrointestinais e compete ao nutricionista o ajuste de dieta para melhoria dos sintomas.
- Em alguns casos pode-se desenvolver intolerância à lactose, como resultado da produção deficiente de lactase pelo intestino.
- O nutricionista deve ter em atenção que muitos dos produtos alimentares isentos de glúten têm adição de açúcar, gorduras, corantes e conservantes, devendo ter o máximo de cuidado na escolha, para que esta seja a mais saudável e equilibrada possível. Além disso, os produtos à base de cereais isentos de glúten possuem quantidades inferiores de vitaminas do complexo B e ferro comparativamente às versões convencionais.
- Uma dieta isenta de glúten é desafiadora a nível social, familiar e emocional. O nutricionista tem a função de fornecer este apoio emocional e estratégias para lidar melhor com estes desafios.
- Para os católicos ter atenção que a hóstia distribuída na eucarística é uma fonte de glúten.
- Alguns medicamentos podem apresentar glúten na sua constituição, contudo é obrigatória a sua especificação.
- Prestar atenção também que alguns produtos de higiene e beleza podem conter vestígios de glúten, para aqueles que possam apresentar reação cutânea ao glúten.
Resumindo, o acompanhamento nutricional nos pacientes com doença celíaca é essencial para garantir uma dieta isenta de glúten saudável, adequada e equilibrada, evitando défices nutricionais e equilíbrio de sintomas gastrointestinais, mantendo uma boa qualidade de vida.
Este acompanhamento deve ser individualizado, específico e continuo, de acordo com as necessidades especificas de cada paciente. Contudo, é importante que o nutricionista esteja à vontade com esta situação clínica e trabalhar de forma multidisciplinar, com apoio de gastroenterologista, psicologia, entre outros.
Fotos: Freepik
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