A perturbação dismórfica corporal está cada vez mais presente na sociedade de hoje em dia. Compreenda o transtorno e as opções de tratamento com a ajuda da Dra. Cátia Lopes, Hipnoterapeuta das Clínicas Dr. Alberto Lopes.
– O que é a dismorfia corporal?
A perturbação dismórfica corporal é caracterizada por uma excessiva preocupação com um defeito corporal imaginário para o paciente. Este tem a tendência a desenvolver uma marcada angústia associada ao suposto defeito corporal e que interfere significativamente nas interações sociais.
– Quais são as causas mais comuns desta perturbação?
Várias teorias têm tentado explicar a etiologia da dismorfia. A psicanálise refere a causa associada a conflitos emocionais/sexuais inconscientes ou a sentimentos de culpa e baixa autoestima. Teorias biológicas apontam como causa desregulação no neurotransmissor serotonina e outras perturbações do âmbito neurológico. Já os modelos cognitivo-comportamentais referem que pode ser uma variedade de fatores interligados e que causam a dismorfia, tais como predisposição genética, fatores culturais, vulnerabilidades psicológicas e experiências adversas ocorridas na infância.
– Quais são os sintomas mais comuns?
- Preocupação excessiva com o defeito corporal imaginário, predominantemente defeitos faciais (nariz e queixo);
- Angústia;
- Evitamento social;
- Medo de rejeição;
- Isolamento social;
- Comportamentos compulsivos, como passar muito tempo em frente do espelho a maquilhar, pentear, desfazer a barba;
- Comparação excessiva com os outros na tentativa de provar que tem um defeito real;
- Comportamentos suicidas (24 a 29% referem tentativas de suicídio).
– Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico deverá ser feito por profissionais de saúde mental (psicólogos e psiquiatras), tendo em conta critérios de diagnóstico específicos.
– Que tipo de consequências tem a curto e longo prazo? São muito graves?
- Isolamento social
- Ideação e tentativas de suicídio
- Depressão
- Ansiedade
- Comportamentos obsessivo compulsivos
- Ideias delirantes
– Quem está mais vulnerável a este problema? É mais comum em alguma faixa etária?
Os dados referentes à prevalência da dismorfia não são realmente conhecidos, já que estes indivíduos tendem a procurar principalmente profissionais da área da estética, dermatologia e cirurgia plástica para a resolução do problema. No entanto mostra-se mais frequente no sexo feminino, com idades compreendidas entre os 15 e 30 anos.
– Que tipo de acompanhamento e tratamento exige uma pessoa com esta perturbação?
Fundamentalmente a psicologia e também acompanhamento psiquiátrico. Em alguns casos o tratamento psicológico combinado com psicofármacos tem mostrado melhores resultados, principalmente quando surgem delírios associados à preocupação excessiva com o defeito. Importa referir que o tratamento destes pacientes não deve passar por tratamentos estéticos/ cirúrgicos, tendo em conta a ausência de melhoria do quadro sintomatológico depois destes procedimentos.
– É possível recuperar completamente?
A resposta ao tratamento requer pelo menos 16 semanas de terapia combinada com psicofarmacologia. A taxa de resposta é de 50%–80% ao tratamento farmacológico combinado com acompanhamento psicoterapêutico. São comuns recaídas e comorbilidades com depressão e ansiedade.
– Como é que a família e os amigos conseguem ajudar uma pessoa com esta condição?
Ajudar alguém nesta condição sobretudo passa por aceitar os sentimentos da pessoa, oferecer tempo e espaço para partilhar pensamentos e sentimentos e ajudar na procura de apoio e ajuda especializada.
– É possível prevenir a dismorfia corporal?
Tendo em conta a variedade de fatores que se podem combinar para desenvolver uma dismorfia corporal, o fator no qual a prevenção pode ser mais eficaz relaciona-se com as experiências adversas ocorridas na infância. Estas referem-se a experiências de cariz traumático contra a criança/adolescente, ambiente familiar disfuncional e negligência.
Fotos: D.R.
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