Nuno Carvalho
“Desejei várias vezes ter morrido na arena”

Famosos

Forcado e a noiva, Carina Rodrigues, contam à VIP como têm sido as suas vidas desde que o forcado foi colhido no Campo Pequeno

Sex, 15/03/2013 - 0:00

"Oque me vai fazer bem é estar com os meus amigos, porque é isso que mantém  a minha alma intacta.” E foi rodeado de
amigas – giras por sinal – e da noiva, Carina Rodrigues, que Nuno Carvalho, mais conhecido por “Mata”, contou, ora emocionado, ora a sorrir, como vê o seu futuro na condição de tetraplégico.

VIP – Depois do Campo Pequeno, também na Moita vai haver outra corrida de solidariedade para o ajudar…
Nuno Carvalho – No dia 16 de março está a ser organizada outra corrida pela minha associação, a Associação Nuno de Carvalho “Mata”, e cujo objetivo é conseguir apoio para mim e, futuramente, ajudar quem está em situações semelhantes.
Quem faz parte do cartel?

NC – Os cavaleiros João Moura, Luís Rouxinol, os matadores Vítor Mendes e Luís Bolívar e o novilheiro Manuel Dias Gomes e os Forcados Amadores do Aposento da Moita.
Conseguiram 115 mil euros no Campo Pequeno, mas ficaram sem parte da verba…

NC – Com a crise que o País atravessa, ver-se esta onda de solidariedade é de louvar. Como foi organizada pelo Campo Pequeno, que é uma entidade comercial, tiveram de pagar impostos, mas mesmo assim foi conseguida uma grande quantia. Na corrida da Moita isso não vai acontecer, porque é organizada pela minha associação, que é sem fins lucrativos, o que vai fazer com que a totalidade da verba reverta a meu favor. Tem uma noção de quanto precisa para ter uma vida digna daqui para a frente?

NC – Assim que tive o acidente houve logo uma reunião com a Associação Nacional de Forcados onde fizeram as contas para fisioterapia, enfermagem, carro, cadeira elétrica, casa adaptada, medicamentos, uma pessoa que possa cuidar de mim e estimaram que para ter uma vida digna iria gastar cerca de dois milhões de euros… Só em fisioterapia, que terei de fazer para sempre, são mil euros por mês.
É totalmente dependente…

NC – Completamente! Foi-me dado 90 por cento de incapacidade.
E é irreversível?

NC – Noto mais desenvoltura a nível de braços, postura de tronco e equilíbrio, que é bastante importante neste género de lesões altas, mas pode ser possível uma recuperação… ou não.
Tem saudades de pegar um touro?

NC – Sim… Quando estávamos na corrida do Campo Pequeno a Carina perguntou-me se eu queria estar ali a pegar um touro… foi a única vez que chorei nesse dia. Sim, queria.
Tem acompanhamento psicológico?

NC – Não. Não sinto necessidade. Os meus amigos têm sido a minha melhor terapia.
E tem umas “enfermeiras” todas giras, isto é um luxo!

NC – Não diga isso senão a Carina fica com ciúmes. Eles têm sido a minha melhor terapia. Devo-lhes a vida. Mente sã igual a corpo são, portanto o apoio de todos os meus amigos tem sido bastante importante. Estar a esconder-me não vai resolver nada, nem são meia dúzia de palavras que possa desabafar com um psicólogo que me vão fazer bem. O que me vai fazer bem é estar com os meus amigos, porque é isso que mantém a minha alma intacta.
Alguma vez desejou ter morrido na arena?

NC – Sim, várias vezes. E perguntei várias vezes porque sobrevivi, porquê eu? Perguntei a Deus, que mal fiz para merecer tal crueldade? Estou preso ao meu corpo, mas agora com alguma distância consigo ver as coisas de maneira diferente e, se calhar, tudo tem um porquê. Espero, daqui a 20 ou 30 anos, olhar para trás e conseguir compreender…   
Ficava muito nervosa quando o Nuno ia fazer uma pega?

Carina Rodrigues – Por incrível que pareça, não. Sempre disse: “Confio naqueles bracinhos.” E nunca me passou pela cabeça que isto pudesse acontecer, mas a vida foi traiçoeira e pregou-nos esta partida. Aquilo foi uma queda mal dada. Estava a ver a corrida com os nossos amigos, na Moita e arranquei logo para o hospital. Quando me disseram qual era a situação caiu-me o mundo em cima da cabeça.
Agora também tem de se adaptar a uma nova realidade…

CR – Tempos de simplificar as coisas de maneira a continuarmos a fazer o que gostamos. Neste momento não podemos andar muito só os dois, porque não consigo fazer as transferências do carro para a cadeira sozinha, mas no dia em que tiver a cadeira elétrica e o carro adaptado é mais fácil. Aí podemos ir os dois sozinhos.
Namoram há quanto tempo?

CR – Há cinco anos. Conhecemo-nos desde miúdos. Namorámos pela primeira vez no sexto ano. Depois fizemos dois intervalos (risos).

NC – Ela dizia que me odiava, que eu era vaidoso e quando eu passava fazia cara feia, mas afinal ela gostava era de mim e ficava com ciúmes (risos). Numa noite de Carnaval, mascarado de velho, conquistei-a!
Pediu a Carina em casamento em Alcoitão. Antes do acidente já tinham falado nisso?

NC – Sim, praticamente vivíamos juntos e já tínhamos pensado muitas vezes nisso. Curiosamente um dia antes do acidente tínhamos tido uma discussão a falar do nosso futuro… a vida é curiosa.

CR – Estava literalmente a mandá-lo trabalhar para nos podermos juntar (risos).

NC – Depois aconteceu aquilo e tem demonstrado muito amor por mim. Costumo dizer que eu sou a mente e ela o corpo. A Carina é uma continuação de mim. Sempre nos completámos e achei que era altura
de mostrar o meu amor por ela. Pedi-a em casamento e ela aceitou logo, claro.

CR – (Risos) Agora vamos tratar das coisas, mas com calma, porque a prioridade é ele recuperar mais, mas gostava que fosse para o ano.
Pensavam ter filhos?

CR – Sim e é um sonho possível, mas com custos. Com a lesão do Nuno o sistema reprodutivo também ficou afetado, mas sabemos que há uma maneira de garantir que um dia posso ter um filho do Nuno, congelando o esperma, mas isso tem um custo elevadíssimo. E depois também tem de haver uma aprendizagem, também a esse nível, entre nós os dois.

NC – A minha lesão é alta, mas os tetraplégicos, como eu, não são tão afetados a nível sexual como os paraplégicos. No meu caso, tenho sensibilidade no corpo todo. Em Alcoitão temos a consulta de disfunção sexual e já sei que é possível ter filhos pela via normal, mas para garantir, pode ser necessário congelar o esperma. Graças a Deus, pelo que tenho visto na consulta, pode ser pela via normal. Caso não seja, recorre-se à ajuda médica. O meu sonho de ser pai e casar mantém-se!
Querem uma casa adaptada?

NC – É um dos meus principais objetivos. Nestas situações as pessoas pensam numa cadeira, mas o que é uma cadeira se não tivermos um lar? Se não tivermos conforto? A casa onde vivia não está preparada para isso, porque ninguém compra uma casa a pensar numa infelicidade destas! Portanto, um dos meus principais objetivos é numa casa adaptada. Já ando à procura. A meu ver é o mais importante. 

Texto: Carla Simone Costa; Fotos: Paulo Lopes; Produção: Romão Correia; Maquilhagem e cabelos: Ana Coelho com produtos Maybelline e L’Oréal Professionnel

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