Yolanda Soares
“Como diria Fernando Pessoa: ‘só disfarçada é que sou eu’”

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A cantora fala da sua aventura no mundo da música

Dom, 13/05/2012 - 23:00

 No segundo álbum, Yolanda Soares deixa a faceta romântica evidenciada no trabalho anterior e transforma-se numa verdadeira guerreira. Metamorphosis, assim se chama o disco, tem músicas em várias línguas e até num dialeto inventado onde “a letra e a música dançam em consonância”. Em entrevista à VIP, a cantora conta a sua já longa aventura no mundo musical e o que a levou, inclusive, a andar durante uns tempos a cantar em cruzeiros.

VIP – A verdadeira Yolanda Soares é mais parecida com a guerreira que surge em Metamorphosis ou com a romântica de Music-Box?
Yolanda Soares – Sou um misto das duas. Sou um reflexo da mulher portuguesa, lusitana. E a mulher portuguesa é guerreira, forte de personalidade, lutadora e destemida, mas também sensível, poética, romântica e sonhadora. Sou aquilo que o meu país me ensinou a ser.

O seu primeiro trabalho, Music-Box – Fado em Concerto, deu-lhe um mediatismo inesperado, com direito a convites da Presidência e a nomeações para os Globos de Ouro. Mudou devido a esse reconhecimento?
A única coisa que mudou foi uma maior vontade de seguir em frente. O reconhecimento do nosso trabalho é um incentivo para continuar a fazer mais e melhor e acreditar que o caminho que seguimos não faz sentido apenas para nós próprios, mas também para os outros que o recebem.

Em Metamorphosis canta em várias línguas, incluindo latim e um dialeto que nem sequer existe. A inovação e o risco são duas características que parece admirar. Não teme ser “demasiado avançada” para o seu tempo?
Avançada para o meu tempo? Este é o meu tempo. Não existe outro mais avançado, porque é neste que vivo, é neste que aprendo e só conheço este (risos). É o tempo de vermos mais além. De inovarmos e não permanecermos demasiado “agarrados” ao passado. É tempo de arriscar e mostrar que afinal somos contemporâneos num país cheio de História. Afinal, somos um povo destemido ou não?

Gosta de fundir vários estilos. De onde lhe surge essa apetência?
Surge da minha abertura criativa e das minhas influências ao longo da minha carreira. Fui “criada” na música erudita, pois além de ter começado muito cedo a aprender música no Conservatório de Lisboa, segui depois o curso de canto lírico. No entanto, tenho pais que cantam fado, um irmão que toca guitarra elétrica e piano e passei por várias experiências musicais que não se resumem a um estilo. Tive inúmeras experiências que me enriqueceram e me deram uma visão ampla do que pode ser a música num contexto mais alargado e menos estanque. Gosto de moldar uma obra como se de uma escultura se tratasse. De a tornar muito minha para que seja de alguma forma criativa e inovadora para os outros.

Apesar de se dizer uma cantora “do mundo”, também diz que Lisboa é a sua cidade. O que a atrai mais em Lisboa?
Atrai-me exatamente os recantos cheios de História e a contemporaneidade que a cada dia vão crescendo. Atrai-me a tradição que não se perde, mas a vontade de a transformar numa porta virada para o mundo. Atrai-me o Tejo que nos dá a sensação de saudade. Tudo em Lisboa é viciante porque mesmo a tristeza que se sente é transportada nas palavras dos grandes poetas e do fado. Nada é deixado ao acaso e tudo se aproveita em Lisboa. É a musa eterna, cidade luz. É um ponto de encontro. É um cais de partida e regresso.

O visual arrojado que exibe faz parte da criação de um personagem, ou é também assim no seu dia-a-dia?
São personagens que também existem no meu interior, mas não no meu exterior. São formas artísticas de representar ideias, emoções, conceitos e sonhos. Faz parte do meu imaginário também. A arte permite-nos vestir de forma arrojada e irreverente e ser aceite como algo perfeitamente natural e compreensível. A arte é isso mesmo. Total liberdade de expressão e de criatividade. E uma forma compreensível de mostrar o nosso interior. Como diria Fernando Pessoa: “Só disfarçada é que sou eu!”

Fez back vocals para Adelaide Ferreira. Que recordações guarda dessa altura?
As melhores. Foi com ela que aprendi muito sobre o rock, a ser uma mulher de palco e a soltar-me como cantora. Eu era uma menina de conservatório na altura. Ainda bastante “verde”, mas sempre cheia de vontade de aprender. A minha voz era muito lírica (o que não era mau, pois acrescentava uns agudos interessantes) e com ela aprendi a utilizar mais a voz de peito. Adorei trabalhar com uma das melhores cantoras de rock português, senão a melhor.

Andou, entretanto, quatro anos envolvida num projeto de música para cruzeiros. Foi uma boa experiência? Que locais visitou que ainda hoje recorde com saudade? Algum deles a influenciou artisticamente?
Trabalhar como cantora em cruzeiros foi uma experiência maravilhosa em todos os sentidos . Estava numa altura da minha vida que necessitava disso mesmo. Conhecer mais do mundo. Deu-me “calo” também, pois confrontei-me com a necessidade de cantar muitos géneros musicais nos espetáculos que eram preparados especificamente para apresentar nos cruzeiros. E viajei por inúmeros locais. Aqueles que mais recordo foram em Itália (Roma, Florença, Nápoles e Portofino), mas também adorei ir às Baleares e às Canárias, principalmente Lanzarote – a “terra de Saramago” – Santorini, na Grécia, o museu Hermitage, em São Petersburgo, na Rússia e de ir ao Egito conhecer as pirâmides.

O que a levou a cursar Direito?
A necessidade de me colocar à prova. Quis ir para Comunicação Social, pois adoro escrever e comunicar, mas fiquei em Direito porque, nesse ano, a faculdade para a qual me candidatei acabou por cancelar o curso. Decidi colocar-me à prova para realmente perceber que o que eu mais queria era a música. Quando desisti do curso de Direito fui com muito mais convicção para a “vida artística”. Arrisquei mesmo por grande paixão.

Continua a ambicionar ter filhos, mesmo que tal signifique fazer uma pausa na carreira?
Sim. Mas ter filhos não pode ser um ato de egoísmo, mas sim de grande vontade de dar sem receber. Quero ter filhos, mas na época em que vivemos torna-se cada vez mais difícil, pois quero dar qualidade de vida não só com a minha disponibilidade, como com tudo o resto que é necessário para uma crescimento saudável de uma criança. E vejo o futuro tão difícil que não quero apenas ter um filho para me agradar a mim, mas tendo a noção plena de que é um ser que coloco no mundo e que depende de mim para se tornar um adulto saudável e equilibrado. Certamente, quando tiver um filho farei uma pausa na carreira. Sem dúvida.

Texto: Miguel Cardoso; Fotos: Paulo Lopes; Produção: Nucha; Maquilhagem e cabelos: Ana Coelho, com produtos Maybelline e L'Oréal Professionel

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