A arquiteta e designer de interiores Isabel Salema Garção, que comemora 30 anos de carreira, recebeu a VIP na sua casa do Estoril e falou sobre o seu percurso profissional, o seu papel de avó – tem dois netos, Zé Maria, de cinco anos, e Francisco, de oito meses – e projetos a realizar. Com a nora, Benedita, tem uma relação de grande cumplicidade e vão brevemente a Paris.
VIP – Está a comemorar 30 anos de carreira, mas concluiu o curso de Decoração e Arquitetura de Interiores da Fundação Ricardo Espírito Santo em 1975. Não deveriam ser mais anos?
Isabel Salema Garção – Estou a comemorar 30 anos de carreira em 2014. Deveriam ser mais, mas fui para a África, quando voltei tive os meus dois filhos e só comecei a trabalhar mais tarde.
Como vê estes 30 anos?
Passaram a correr. Foram muito intensivos e tive sempre trabalho. Mudou muita coisa nesta área. Hoje em dia é mais complicado, há mais concorrência. Antes, mandava-se fazer tudo e eu, normalmente, mandava fazer peças artesanais. Hoje, acabou o individualismo, é tudo mais coletivo.
Com tantos anos de experiência, sente que ainda tem alguma coisa a provar?
Temos sempre coisas a provar e a aprender. Uma das coisas de que eu mais gosto em decoração é que todos os dias aprendemos, há sempre novidades e mudanças.
Continua a privilegiar a personalização?
Eu tento fazer trabalhos personalizados, mas é muito mais caro. Mesmo quem tem dinheiro compra coisas mais baratas.
Viu-se obrigada a mudar o seu estilo?
Não. Sou fiel ao estilo contemporâneo com apontamentos clássicos. Até a minha casa é assim, apesar de estar um bocadinho clássica de mais. São coisas que herdei, o meu marido é clássico e, por isso, tive de encontrar um estilo intermédio.
De que maneira podemos ver refletido o seu estilo na sua casa?
Herdei algumas coisas e não as ia deitar fora. Mas gosto das coisas despojadas, não gosto de muita coisinha e acho que esta casa está com muita coisinha. Adoro o moderno e a versão de casa que eu gosto é moderna com móveis e peças antigas a valorizá-la, como a cómoda que tenho na sala, a arca e também gosto das peças de prata. A mesa dourada que tenho na sala dá um toque moderno e tem uma grande presença.
Tem alguma peça que lhe seja particularmente querida?
Gosto imenso da Sant’Ana que está em cima da secretária e toda a vida a vi em casa da minha avó.
Quando decorou a sua casa, que sentimentos procurou que ela transmitisse?
Que se sentisse que tinha sido eu a decorá-la. Das coisas que mais gostei de incluir foi uma peça do artista plástico José Guimarães, porque deu modernidade à casa. Sinto-me confortável na minha casa, mas talvez a fizesse com tons mais cinzentos e brancos, tons mais neutros. Em criança, surpreendia, de vez em quando, a sua mãe e alterava a decoração de casa.
Os seus filhos ou netos alguma vez fizeram isso?
Nenhum fez isso. A minha mãe sempre gostou de ter tudo arrumado e eu, volta e meia, virava tudo do avesso. Sempre gostei de fazer isso.
O seu neto mais crescido está na idade de mexer em tudo…
O Zé Maria tem piada, porque ele chega e diz: “Avó, aquilo é novo.” Ele é muito observador.
Será que ele vai seguir a profissão da avó?
Tem jeito para o desenho. Não sei, talvez. Ou arquitetura, que era o que eu gostava de ter tirado.
Algum dos seus filhos seguiu a sua área?
Nenhum deles. O meu filho mais velho, Pedro, gosta e passa a vida a mudar a casa, é o marido da Benedita. Estão casados há oito anos e já mudaram de casa quatro vezes e até mesmo a disposição dos móveis. Trabalha no ramo imobiliário. O Bernardo, o do meio, está ligado à tecnologia e a Carolina, a mais nova, trabalha em gestão.
Lamenta não ter ainda um sucessor?
Pode ser que seja o Zé Maria. Gostava que, um dia mais tarde, ele ficasse a tomar conta do seu atelier? Isso era ótimo. Gostava imenso. Não vou trabalhar eternamente. Mais uns dez ou 15 anos, já ele estará mais crescido e já me ajuda, ou a minha nora… Ela já esteve a trabalhar comigo e pode ser que um dia destes volte.
Ser mãe e avó são, de facto, os papéis mais importantes da sua vida?
Isso são. O mais importante é a minha vida particular, a minha família, os meus netos, filhos e a minha nora. Ela é uma querida.
Gostam de fazer programas juntas?
Vamos agora a uma feira em Paris. Eu vou a todas as feiras, normalmente. Vou ver as tendências, as cores e os novos projetos.
Gosta de contar histórias ao Zé Maria?
Nesta idade gostam sempre de saber tudo… Ele tem piada, porque gosta imenso de me perguntar: “O que é que a avó fez hoje? A avó é quem manda no atelier?” Adora perguntar-me isto: “O que é que fez?” E eu explico-lhe que estive com o mestre-de-obras a dar as medidas das casas de banho, a dizer onde é que põe o espelho…
E ele interessa-se por isso? Interessa-se!
É engraçadíssimo, porque pergunta-me imenso essas coisas. Disse-me, há pouco, que vai às feiras.
Mas de onde vem a sua inspiração?
Gosto imenso do Frank Gehry e da Andrée Putman. Quem também me inspirou imenso foi a Maria José Salavisa, trabalhei com ela seis anos.
É difícil separar o seu gosto pessoal daquilo que lhe é pedido por um cliente?
Não. Acima de tudo está o que o cliente gosta, as suas necessidades e expectativas. Uma das minhas principais características é a versatilidade. Já aconteceu terminar um trabalho e dizer: “Não gosto nada, quero mudar tudo”? Não. Só houve uma vez em que eu ia fotografar uma casa no Algarve, estava tudo em tons de salmão, bege e branco, e cheguei lá e a cliente tinha posto vidro grosso em cima das mesas para não se riscarem. O vidro com a espessura acima de um centímetro passa a verde e as mesas ficaram todas verdes, cortou o tom de salmão.
E conseguiu convencê-la a tirar os vidros?
(Risos) Achei que era um bocadinho de mais. Deixei ficar, disfarcei e tirei algumas fotografias.
Já realizou trabalhos fora de Portugal, como na Roménia, mais recentemente em Angola, e também está com um projeto no Qatar.
Agora, também estou a fazer um hotel. Tenho um projeto para a Croácia e estou com clientes em Angola.
Vai ter de andar a viajar muito…
Vou, mas eu adoro andar de um lado para o outro. Nunca vou só em trabalho. Mesmo agora, que vou a Paris, vou estar dois dias na feira, mas reservo um terceiro dia para ir ver museus, ir às compras, ver restaurantes novos… Junto as coisas.
E, uma vez que diz que tem a casa cheia, consegue conter-se e não trazer nada para decorar a casa?
Normalmente, não trago. Trouxe uma vez para a casa de Lisboa. Fiz uma estufa com plantas e trouxe de comboio umas gaiolas de Madrid. Fiz a viagem com uma prima e estávamos numa cabine em que, para entrarmos, as gaiolas tinham de sair; depois, entrávamos e puxávamos as gaiolas para dentro. Cheguei a Lisboa, quando pus as gaiolas no sítio, não gostei e dei-as (risos). Achei que ficava possidónio as gaiolinhas no meio da estufa. Só para ver como sou rigorosa: se não gosto, não ponho, prefiro não ter.
Para terminar, gostava de perguntar-lhe o que seria, nesta altura da sua carreira e da sua vida, o desafio ideal?
Gostava imenso de fazer uma pousada no Brasil, daquelas em cima da praia, tipo Estrela D’Água, em Trancoso, no Brasil. A casa principal pertencia à cantora Gal Costa e a comida era toda muito natural. Eu dou muita importância à arquitetura sustentável.
Texto: Helena Magna Costa; Fotos: Bruno Peres; Produção: Romão Correia; Maquilhagem e cabelos: Ana Coelho com produtos Maybelline e L'Oréal Professionnel
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