A SIC (Sociedade Independente de Comunicação) celebrou o 27.º aniversário este domingo, 6 de outubro, e Cláudio Ramos não deixou passar a data em branco, ele que faz parte do canal há 20 anos. No seu blogue escreveu um longo texto em que fala sobre o seu percurso no canal de Paço de Arcos, outrora Carnaxide.
«Esta imagem de má qualidade, roubada ao ecrã, tem uns 20 anos. Foi o dia da minha estreia na SIC. Sete anos antes já tinha enviado currículos, cartas, cassetes, feito telefonemas. Já tinha ouvido mil vezes o genérico de abertura, já tinha ensaiado em casa mil aberturas feitas por mim. Sete anos anos antes já eu me tinha candidatado a tudo e mais alguma coisa, sabia tudo de cor, terei feito quase todos os castings, conhecia toda a gente nova que tinha tido a sorte de ser abraçada logo no começo», começa por escrever.
«Não foram positivas. Nenhuma delas»
«Há sete anos esperava nervoso pela chegada do correio para saber se, na volta, existia uma resposta. Existiram muitas. Guardo-as todas. Não foram positivas. Nenhuma delas. Mandei sugestões, mandei ideias de programas, alterações de guiões, tudo o que possam imaginar… Não aconteceu. Aconteceu mais tarde», continua.
Cláudio Ramos revela que tudo começou num «casting atrevido» que fez para o programa Noites Marcianas. «Um miúdo chega com uma cassete gravada e entrega na recepção da SIC, com um envelope ao cuidado do Dr. Emídio Rangel. No mesmo dia fui chamado pela produtora para fazer o casting a sério. No mesmo dia do casting soube que ficava», conta.
No entanto, o «vizinho» de Cristina Ferreira «esqueceu-se» de um pequeno pormenor, uma vez que não referiu que vivia em Vila Boim, no Alentejo. «Estavam convencidos que vivia em Lisboa, foi o que escrevi na carta. Sabia que se dissesse que estava a viver no Alentejo, há vinte anos, não teria sido escolhido. Já tinha passado por muitos exemplos que me levaram a acreditar nisso. Fiz trinta por uma linha, mas no dia marcado, bem antes da hora marcada cá estava eu pronto para ‘fazer como na cassete‘, palavras do Dr. Emídio Rangel, diretor de programas na altura», explica.
«Existirá sempre um lugar para a televisão como a entendemos hoje»
«Para mim, já naquela altura televisão era alma, vida, comunicação, entretenimento, informação. É por isso que a faço. Eu sou um apaixonado pelo mistério da caixa mágica, que tem que se saber reinventar a cada década. A que se avizinha não será fácil, porque hoje existe muita concorrência mas, da mesma maneira que o teatro não acabou com o cinema e a rádio não acabou com a chegada da televisão, estou convencido que existirá sempre um lugar para a televisão como a entendemos hoje. Divertida e a chegar a toda a gente.»
O rosto da SIC garante que «nunca quis fazer outra coisa na vida» e que já em pequeno as brincadeiras passavam todas pela televisão. Fazia de apresentador do Festival da Canção, «imitava as locutoras de continuidade» e inventava «espetáculos onde criava os participantes para os poder apresentar». «Eu não respiro outra coisa», confessa.
«Nem tudo é fácil, nem todos os dias são de risos ou vitórias»
No entanto, o apresentador garante que «nem tudo é fácil, nem todos os dias são de risos ou vitórias». «Bati muitas vezes a portas que não abriram, tive muitas reuniões que não resultaram. Fiz muitas vezes o caminho de volta a casa depois de sair do estúdio frustrado no carro por não conseguir fazer o que queria. Subi muitas vezes as escadas para casa com uma sensação de vazio imensa. Adormeci a planear conteúdos, palavras, histórias… o esforço tem de ser grande. Para captar a atenção do outro lado é preciso uma reinvenção constante e no dia que isso não acontecer vale mais desistir. Somos a companhia das pessoas. É nelas que penso, por isso, tenho um respeito tão grande pelo daytime, onde os programas se destinam a uma franja que depende de nós para sentir o pulso ao dia, e quanto mais formos o pulso delas, mais respiram. Quanto mais elas nos respirarem, mais vida a televisão tem», continua.
«A SIC está de parabéns por estes 27 anos. Digam o que disserem, sem ela Portugal não chegava ao mundo com os olhos da realidade, com as cores tão nítidas e com a verdade estampada no ecrã. Digam o que disserem, sem ela eu não teria realizado tantos dos meus sonhos e conhecido tanta gente que faz parte da minha vida, como há tantos anos faziam os amigos e vizinhos que me viam fazer teatros, espetáculos, falar ao microfone e reviravam os olhos convencidos que não passaria daquilo… valeu a pena a insistência. Passados tantos anos, deixei de ser vizinho ‘só’ deles para ser do País inteiro, isto significa que eu tinha alguma razão. Muito obrigado a todos», remata.
Veja a fotografia na nossa galeria.
– Que programas da SIC mais ficaram na memória dos portugueses? (Vídeo)
Texto: Ivan Silva; Fotos: Reprodução Instagram
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