Cláudio Ramos
Chora após estreia e justifica-se: «disse várias vezes SIC em vez de TVI»

Nacional

Cláudio Ramos estreou-se este domingo, 12 de abril, na TVI. O apresentador escreveu um longo texto de reflexão após a emissão, onde revela ter chorado assim que entrou ao carro

Seg, 13/04/2020 - 17:20

Cláudio Ramos estreou-se na TVI este domingo, 12 de abril e, após a transmissão, escreveu um longo texto de reflexão no blog pessoal. «Voltei à televisão dois meses depois de ter saído.» Assim começa o texto de análise depois da emissão com um propósito solidário Nunca Desistir. Depois de 18 anos na SIC, o comunicador mudou de estação para conduzir Big Brother 2020, mas a pandemia do novo coronavírus obrigou à estreia do reality show. A estreia de Cláudio Ramos na TVI foi, assim, diferente daquilo que estava previsto.

No programa especial, o apresentador esteve com Fátima Lopes, com quem trabalhou durante vários anos nas manhãs da SIC. E foi precisamente ao lado dela que Cláudio Ramos cometeu várias gafes, fazendo referências ao canal em que trabalhou e não àquele onde agora está.

«Estive entregue como sempre estou, com o nervoso da responsabilidade que é inerente à profissão e distraído como sou por natureza e, por isso, ao longo da emissão, disse várias vezes SIC em vez de TVI. Não tombou o Carmo nem a Trindade por fazê-lo», defende o apresentador no seu blogue, revelando a reação do Diretor de Programas da TVI, Nuno Santos, aos seus enganos: «O meu diretor, que estava à minha frente, entendeu e sorriu cúmplice, assim como os espectadores – estive 18 anos a dizê-lo e é natural que aconteça».

Cláudio Ramos não dá o assunto por encerrado aqui e lembra as gafes que cometeu nas primeiras emissões d’O Programa da Cristina, que fez Cristina Ferreira trocar a TVI pela SIC ao fim de 16 anos. «Lembro-me de quando comecei a trabalhar com a Cristina, várias vezes lhe chamei Júlia [Pinheiro] e foi uma sorte ontem não ter chamado Cristina à Fátima. Eu sou por natureza uma pessoa distraída, acho que isso ficou muito evidente nos últimos tempos e ainda que mudem registos e formatos a essência de um comunicador de verdade não se esconde e só passa verdade para casa se ele não se esconder. Eu não me escondo. Socorro-me de ‘muletas’ que me ajudem mas não me escondo, nem nas distrações nem na responsabilidade», afirma a nova estrela da estação de Queluz de Baixo.

«Tenho tanto de forte como de frágil»

Enganos à parte, Cláudio Ramos faz um balanço do dia em que estreou na TVI, em circunstâncias anómalas, as mesmas com que se faz televisão desde que a pandemia da Covid-19 afetou Portugal. Uma novidade para o apresentador, que estava confinado em casa há mais de um mês até aceitar o convite de Nuno Santos para participar ativamente nesta emissão especial.

No final, não conseguiu conter a emoção. «Foi um dia de emoções misturadas. Chorei assim que entrei no carro de volta a casa. Chorei quando cheguei a casa, porque sou assim também. Tenho tanto de forte como de frágil. São muitas coisas misturadas numa pessoa em poucos dias. Mas a vida é assim, estamos todos mais frágeis com o que está a acontecer e percebi o quão importante é estar na linha da frente. Percebi, mais ainda, que a televisão que se faz hoje não é a televisão que deixei há dois meses. É uma televisão mais vazia de gente, sem o calor do público presente, sem o afeto do toque, e apenas com a conversa dos olhos por detrás de uma mascara. Isso derrubou-me. Talvez por estar há tanto tempo em casa sem ir a estúdio o choque foi maior, porque parece que, de repente, a pandemia nos roubou também o lado humano por detrás das câmaras.»

A nova realidade com que se deparou, este domingo, impediu-o de fazer coisas tão simples e banais mas imperativamente não recomendadas agora. Agora que o mundo mudou. «Não abracei a Fátima, com quem voltei a trabalhar quinze anos depois e me recebeu de braços abertos, não abracei a alegria da Fernanda [Serrano], não agradeci ao [Pedro] Texeira com um abraço apertado a surpresa boa que tem sido nesta mudança, não abracei a minha Maria [Botelho Moniz], que estaria a estrear-se com igual responsabilidade e precisaria de um abraço como precisei eu, não abracei o Manel [Luís Goucha] nem lhe disse ao ouvido ‘finalmente dividimos estúdio’…», lamenta Cláudio Ramos. «Falámos todos à distância, sem dizermos nada uns aos outros…»

E continua, valorizando os demais profissionais, atrás das câmaras, que igualmente proporcionaram levar a cabo a emissão Nunca Desistir: «Não abracei a equipa que se foi apresentando aos poucos, atentos, dedicados, com olhos brilhantes e caras tapadas por mascaras que são a defesa. É a prova real do que tantos profissionais de televisão estão a fazer nestes dias para que em casa de cada um exista companhia. Esta é a televisão que temos, feita também ela por heróis. Pequenos soldados do audiovisual que, escondidos, marcham para que a emissão se cumpra.»

Cláudio Ramos não tem palavras para descrever estas imagens. «É emocionante ver. É arrepiante o silêncio e eu, depois de chegar a casa, trocar mensagens com meia dúzia de amigos, tombei. A realidade é lixada… Mas é a realidade que temos e é com ela que temos de lidar, é esta realidade que temos de fintar. E vamos fintando.»

«Quando cheguei a casa chorei. Chorei, porque percebi no terreno que o mundo, nunca mais será o mesmo. Não se iludam. E isso é difícil de engolir», remata o apresentador.

Texto: Dúlio Silva; Fotografias: reprodução redes sociais

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