Júlia Pinheiro entrevistou a agricultora Catarina Manique e a conversa foi transmitida no programa Júlia, da SIC, desta sexta-feira, dia 10 de julho. A participante na experiência social Quem Quer Namorar com o Agricultor?, da estação de Paço de Arcos, queria ser modelo quando era pequena e, em 2016, chegou mesmo a fazer um workshop de Moda com Liliana Queiroz.
Porém, o tema da conversa rapidamente passou para o período mais difícil da vida de Catarina. Com apenas 12 anos, foi-lhe diagnosticada uma leucemia mielóide crónica e tudo mudou.
«Nunca fui uma criança 100% saudável. Era muito fraquinha. De repente, comecei a sentir-me muito cansada e tinha muitas nódoas negras e dores. Na altura andava no rancho e queria desistir e ninguém percebia. Cansava-me muito, custava-me imenso ir aos ensaios. A minha menstruação vinha em abundância. Fiz tratamento mas o mal já cá devia andar. Já me andava a sentir mal e a minha mãe levou-me ao hospital. Só queria estar sossegada no meu cantinho, com as persianas do quarto da minha mãe fechadas, sem barulho», começa por contar.
No hospital, disseram a Teresa, mãe da jovem, que Catarina era «uma menina mimada, que tinha apenas um vírus gripal e que podia ir para casa». «Oito dias depois voltei lá, muito mal», recorda.
«Continuava a tremer muito e estava roxa»
Antes de dar entrada no hospital pela segunda vez, a fundanense estava a passear com a mãe e a irmã quando se sentiu mal. «Comecei a ver as pessoas todas amarelas, a ouvir as pessoas lá ao fundo. Quando começaram a andar eu pus a mão na minha mãe e ela viu que algo não estava bem. Dali fui para o hospital do Fundão. Pensavam que tinha tido uma baixa de açúcar, mas eu continuava a tremer muito e estava roxa. Mas a minha mãe queria que me fizessem umas análises. E ainda bem que batalhou senão já não estava viva hoje. A minha mãe agarrou o médico pelos colarinhos e disse: ‘Você vai fazer as análises à minha filha, a bem ou a mal.’»
«Comecei a ver muita gente à minha volta, picaram-me o dedo muitas vezes. Saí dali e fui para o hospital da Covilhã. Quando cheguei, a minha mãe, o meu pai e a minha irmã já lá estavam. Estava tão desnorteada que não percebia nada. Quando lá cheguei voltaram a fazer-me exames, mas vi que algo se passava. No fim de repetir os exames disseram à minha mãe o que se passava. Depois tive de ir para Coimbra», conta.
Catarina Manique teve de fazer um transplante de medula óssea
Catarina Manique teve de fazer um transplante de medula óssea. «Graças a Deus a minha irmã foi 100% compatível comigo. A minha mãe também era, a 70%, mas eles quiseram fazer com a minha irmã. Era criança, sabia que estava mal, mas não dava conta da gravidade», confessa.
À apresentadora, a convidada admite que se trata de «uma recordação difícil, mas boa porque» está «cá». «Desde que entrei no programa que tive de reviver o meu passado todo. Nunca pensei que custasse tanto. É uma grande lição de vida!»
Catarina esteve um mês em isolamento antes de fazer o transplante
Júlia Pinheiro desabafa: «É nestes dias que eu me zango. Só os adultos, e ‘entradotes’, é que deviam ter doenças!»
A mãe e a irmã de Catarina nunca a deixaram sozinha. A agricultora recorda-se de ouvir a mãe rezar, numa altura em que estava pior. «Eu não estava em mim. Na primeira semana deram-me uma quimioterapia mais leve, mas depois deram outra, para matar tudo. Foi mais complicado. Perdi tudo, até as sobrancelhas». No entanto, Catarina revela que no isolamento não haviam espelhos
«O mais provável era eu sair dentro de 4 tábuas»
Durante a conversa, a agricultora falou sobre «a coisa feia» que lhe disseram em Lisboa. «Foi um mundo novo. Vivi de perto todos os tipos de doenças. Chorei muito nesse dia. Pensava: ‘Vou ficar assim?’ Fomos à consulta e o médico explicou-nos o que é que se iria passar. Não me davam garantias que eu saísse viva de lá, o mais provável era eu sair dentro de 4 tábuas. Ou então tomar medicação durante 5 anos e o mais provavel era eu falecer. Naquela altura aquilo chocou-me tanto e acho que só aí é que caí na realidade e percebi que estava mesmo mal», conta.
«Decidimos que fazíamos o transplante, mas eu chorei, chorei, chorei. Não queria que me caísse o cabelo, ficar tão magra. Só queria ficar bem. Tive um mês isolada e depois tive outro mês internada fora do isolamento. Era tudo novo. Viraram-me da cabeça aos pés. Fizeram-me exames a tudo antes de entrar em isolamento», recorda.
«A medula da minha irmã não queria aceitar o meu corpo»
«Graças a Deus correu tudo bem». «Mas os primeiros tempos foram difíceis… a medula da minha irmã não queria aceitar o meu corpo e aí estive muito mal mesmo. Estive ligada a 7 máquinas, foi aí que ouvi a minha mãe rezar. Muito mesmo. Nos dias em que estive pior, há uma memória que nunca me vou esquecer. Ela adoeceu, ficou gripada, e não podia lá estar. Ficou sentada dias e dias no parapeito do meu quarto, do lado de fora, e falávamos pelo telefone», conta com as lágrimas a escorrerem-lhe pelo rosto.
«Desviem-se que ela está podre»
A jovem regressou a casa no dia 21 de dezembro de 2003. «Pedi muito para ir passar o Natal em casa. Estava a ver que não ia conseguir, porque apanhei o bicho hospedeiro», revela.
Catarina admite que nunca imaginou «que teria de usar máscara outra vez». «Mas agora as razões são outras», interrompe Júlia Pinheiro, referindo-se à pandemia da Covid-19.
A agricultora recordou os tempos em que tinha de usar a mascara por causa do transplante: «Notava que as pessoas se desviavam. Diziam coisas horríveis: ‘Desviem-se que ela tem uma doença infecciosa. Desviem-se que ela está podre’!»
Atualmente, a doença da jovem está controlada.
Texto: Ivan Silva; Fotos: Instagram e DR
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