A publicação de Carolina Deslandes, de 26 anos, surge da necessidade de mostrar que a educação dada pelos pais em casa, vai influir diretamente no tipo de adultos que as nossas crianças se vão tornar. Mãe de dois meninos, Santiago e Benjamim, a cantora sentiu necessidade de abordar o assunto.
“Nunca tive muita noção do preconceito relativamente às tatuagens. Nem às tatuagens nem a coisa nenhuma. Até uma dada altura da minha vida eu partia do princípio que as pessoas eram todas boas, e que ninguém desejava mal a ninguém nem se achava superior fosse pelas escolhas que fizeram na vida ou pela cor da pele ou religião. Não me passava pela cabeça que isso existisse sequer.
Em minha casa sempre lidamos com todas as pessoas da mesma forma, toda a gente viesse de onde viesse, era merecedora do nosso respeito”, começa por contar.
Mas a noção de Carolina quanto ao preconceito viria a mudar, mais tarde, a aquando da entrada para a escola. “Depois fui para a escola e apercebi-me de que as coisas não eram bem assim, os homossexuais eram os paneleiros, as miúdas de vestido eram as porcas, os negros eram os pretos ou macacos ou matumbos. E eu questionava-me “Mas quem é que educou esta gente?”
Carolina atribui a culpa, em parte, aos educadores.
“A verdade é que a maioria das pessoas vive a falar em casa em frente aos filhos sem ter noção de que as coisas que diz vão condicionar a formação da sua personalidade e do seu futuro. Não podemos viver em casa a dizer “olha-me este paneleiro” a apontar para a televisão e depois pedir que uma criança de 10 anos não chame paneleiro a um homossexual e não ache que ele é de facto um ser inferior ou esquisito”, escreve.
Com o passar dos anos, e com as suas primeiras tatuagens feitas depois dos 18 anos, Carolina foi sentindo na pele o preconceito.
“A verdade é que quando és aceite em casa pelas pessoas que te são mais próximas, ganhas arcabouço para lidar com os de fora. Sentes que “tens as costas quentes” no bom sentido.
Comecei por ouvir coisas como “tens noção de que vais ficar velha e isso fica horrível não tens?” Ou “não tens pena de não poder usar vestidos?” (LOL) ou a melhor de todas “e se isso da música não resultar arranjas trabalho onde toda tatuada?”, relata.
“Nunca mais me vou esquecer do dia em que fui a um jantar todo xpto daqueles com 45 talheres diferentes em que uma senhora olhou para mim e disse “Ah que horror! Os seus pais não têm um desgosto de vê-la assim pintada?” E eu calmamente respondi “Não. Os meus pais ficam orgulhosos por terem criado uma filha que não é mal educada nem inconveniente”, conta, recordando o momento.
“E é só isto que peço e que tenho como algo fundamental : ter a capacidade de explicar aos meus filhos que toda a gente é igual. Que as pessoas são o que trazem no coração e nada mais. Quero explicar-lhes que não vivemos no mundo dos brancos ,dos pretos,dos gays das porcas dos gordos, dos tatuados e dos monhés. Vivemos no mundo das pessoas. E se soubermos ser melhores para elas, vamos ensina-las a serem melhores para os outros. Uma vez desatei a correr para o comboio,a fugir de um rapaz que eu julguei que estava a correr atras de mim para me roubar. Quando ele finalmente me alcançou deu-me uma moeda de 20 cêntimos que eu tinha deixado cair lá atrás. Nunca mais me vou esquecer desse dia. Se nós dermos uma oportunidade de ver o mundo com outros olhos, pode ser que ele nos sorria”, termina, pedindo que se espalhe a palavra.
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