De Portugal para o conceituado Ballet Bolshoi: descubra Carlota Rodrigues, a jovem que arriscou tudo por amor à dança. Desde os seis anos que Carlota se rendeu ao bailado, frequentando a Escola de Dança do Conservatório Nacional, em Lisboa, desde o quinto ano do ensino básico até ao décimo. Posteriormente, um curso de três semanas em Nova Iorque, o Bolshoi Summer Intensive New York, em 2012, catapultou-a para a Rússia, para onde foi possível ir graças a uma bolsa de estudo da Gulbenkian. Um mundo novo, de onde espera recolher ensinamentos preciosos…
VIP – Como e quando surgiu a sua paixão pelo ballet?
Carlota Rodrigues – Nasceu comigo, nem me lembro de quando começou. Desde pequena que dançava sempre que se ouvia música em casa, ainda ao colo; depois, já era eu que pedia música e dançava, até que decidi ter aulas. O ballet junta duas das minhas grandes paixões, a dança e a música.
Como se deu a aventura de começar a frequentar a Academia do Bolshoi?
Fiz um curso de verão da academia em Nova Iorque durante três semanas, a partir do qual fui convidada a frequentar a escola em Moscovo a tempo inteiro.
Como é o seu dia-a-dia numa academia de dança com tantos “pergaminhos”?
Aulas das 9 às 18 horas, alguns dias com ensaios extra até às 19h30. Trabalho individualmente durante mais duas horas e meia. É importante fazer exercícios extra de fortalecimento e alongamentos. Para além das aulas de dança (que são dança clássica, acting, danças de caráter – típicas de vários países –, pas de deux – dueto) e repertório, tenho aulas académicas, como Língua Russa, História, História do Ballet, do Teatro e das Artes, Economia, Filosofia, Sociologia, etc.. Sinto que têm muito para ensinar, trazem muita experiência todos os professores com toda a paixão que têm pela dança.
E está quase a graduar-se no Bolshoi. Será a primeira portuguesa que o consegue; o que significa isso para si?
É um reconhecimento do meu esforço e dedicação, fruto do meu trabalho. É claro que tenho orgulho nisso. Reconheço que não teria chegado aqui sem as bases que recebi no conservatório.
O que imagina que possa ser o seu futuro? Irá conseguir fazer parte da companhia residente do Bolshoi?
Imagino-me a trabalhar numa companhia de dança clássica e contemporânea. Acho que o futuro se constrói hoje passo a passo, dando aqui e agora o meu melhor e tirando prazer no que faço. Quanto ao Bolshoi, talvez, e se tiver essa oportunidade claro que a agarrarei.
O que sente quando entra no teatro Bolshoi, com toda aquela magnificência dourada e os ecos de bailarinos e compositores famosos?
Parece um sonho. É um sítio fabuloso e sagrado. Quando se está lá dentro não se pensa noutra coisa ou lugar. Tem uma atmosfera, uma magia inigualáveis… Dançar lá, tem sido uma das melhores experiências da minha vida.
O que prefere mais neste momento, dança contemporânea ou clássica?
Depois de fazer um curso de contemporâneo em Itália durante uma semana, apercebi-me que quero dançar as duas coisas. As linhas, a beleza e a procura da perfeição do clássico, mantendo as tradições, e a libertação do contemporâneo, a procura do novo, do movimento espontâneo, o que também é ótimo!
Como é o seu dia-a-dia em Moscovo? Já fala russo? Já tem amigos russos?
Este é o meu quarto ano. Falo russo fluentemente e tenho amigos russos. Como há também outros estrangeiros, no dia-a-dia falo inclusive inglês, espanhol e português. O russo é uma língua riquíssima e comecei este ano a estudar Literatura Russa! São um povo muito expressivo, mas só se expressam quando querem e a quem querem. Daí a ideia de serem frios.
Já se habituou ao rigor do clima de Moscovo?
Que remédio! Aprendi a gostar do frio. O que me faz mais confusão ainda hoje é a pequena quantidade de luz do sol. Em pleno inverno o sol nasce pelas 9h30/10h e às 17 horas já está escuro… E a luminosidade não é a mesma que em Lisboa.
Do que mais sente saudades de Portugal?
Da família e dos amigos, mas sinto que estão sempre comigo e que me apoiam.
Texto: Luís Peniche; Fotos: DR
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