Carla Vasconcelos não ficou indiferente à polémica que envolve Cristina Ferreira e Inês Herédia e que teve origem num comentário da personagem da atriz, Nelinha, da novela “Festa é Festa”. Numa cena, que a diretora de Entretimento e Ficção da TVI partilhou nas redes sociais, pode ouvir-se a personagem a falar sobre mulheres gordas.
“As gordas ficam lá atrás que até enchem o palco e é uma coisa boa, porque dá volume e as pessoas acham que está lá muita gente”, diz Nelinha. Esta publicação foi alvo de várias críticas, com muitos internautas a acusarem Cristina Ferreira e Inês Herédia de bullying e gordofobia, o que levou até a atriz a partilhar um vídeo a justificar este comentário da personagem.
No entanto, Carla Vasconcelos não gostou e usou também as redes sociais para abordar o assunto. “Enquanto textos como este continuarem a ser escritos e gritados agressiva e gratuitamente e os atores que os recebem continuarem a dizê-los sem questionar e achar no seu quarto de neurónio que vão ter muita graça, as mentalidades não saem da vergonhosa tacanhez miserabilista e preconceituosa em que se encontram“, começou por escrever.
“Agora, linda Inês Herédia, põe-te de mãos postas em sossego e imagina que a palavra que está nesse texto não é gordas a ocupar espaço… Consegues fazer esse exercício? Imagina que te davam o mesmo texto e encontravas palavras de substituição como pretos, paneleiros, monhê, fonga… por aí fora. O teu quarto de neurónio questionava? Dirias as alarvidades que te apareciam escritas? Ou para ti as gordas atrás a ocupar espaço não é um texto suficientemente agressivo para não o dizeres? Ou não pensas? Papagueias tudo o que te dão? A culpa é do texto…”, acrescentou.
Carla Vasconcelos fala da mensagem da novela “Amar Demais”
Carla Vasconcelos fala ainda da personagem que faz na novela “Amar Demais”, atualmente em exibição na TVI, e da forma como o tema da obesidade foi tratado: “Sabes, eu fiz de gorda na novela ‘Amar Demais’. Não sei se vês, está no ar. E ali foi um esforço imenso para que o assunto fosse abordado de uma forma educativa, de forma a combater o preconceito. Sabes quantas vezes vieram textos violentíssimos sobre gordos parar às minhas mãos? Sabes o que é ter os colegas a rever texto e a encontrarem forma de não dizer o que vinha escrito? A recusarem-se a dizer determinadas coisas que fossem apenas gratuitas? Sabes quantas vezes falei com a autora para lhe dizer o que acontece na verborreia dos outros quando se é gordo? Para que a minha experiência fosse aproveitada para um guião construtivo? Sabes quantas mensagens recebo por dia de pessoas destroçadas por ouvirem piadas agressivas como essa todos os dias? Pessoas reais, que choram por não serem aceites, por serem alvo de chacota? Pessoas que têm medo de ir buscar os filhos à escola e não vão porque não querem ser gozadas à frente dos filhos. Sabes da dor? Do desgosto, do desespero? Sabes lá tu”.
“Não sabes, porque tu e os acéfalos que deixam passar piadolas destas, não sabem nada. São os lá de trás e nós os da frente! Sabes quem pode fazer piadolas sobre ser gorda? Eu!!! Porque sou gorda e sei do que falo. O meu amigo Terry tem paralisia cerebral e faz stand up em Nova Iorque, sabes sobre quê? Paralisia cerebral. Ele pode. Eu não”, disse, acrescentando ainda: “Fazia-te um quadro esquemático, mas tu e todos os que deixam esta vergonha acontecer nunca conseguiriam entender”.
No final, a atriz terminou com uma mensagem carregada de força: “Obrigada a quem escreve, a quem aprova, a quem dirige, e a quem diz estas atrocidades que deviam estar banidas do pensamento de qualquer um de nós. O vosso contributo para acabar com preconceitos, é uma merda. Vocês estão lá atrás, embrulhados na vergonha que são”.
Texto: Patrícia Correia Branco; Fotos: Reprodução redes sociais
Siga a Revista VIP no Instagram