As cores, as tintas e os pincéis são a vida de Bruno Netto. É pintor e dá vida a murais e telas desde os seis anos. Aos 40, o artista está de regresso a Portugal após uma reconhecida carreira internacional. Diego Rivera, famoso pintor mexicano, é uma das suas maiores inspirações. Matisse é outro grande artista, com o qual se identifica.
Bruno Netto tem como clientes várias figuras públicas e sonha um dia pintar um mural no Palácio de Belém.
Revista VIP – Como é que descobriu o gosto pela pintura. É uma paixão de infância?
Bruno Netto – Sim, isto é uma paixão de infância. Desde os seis anos que descobri que queria desenhar e pintar. Fui desenvolvendo e cimentando [as técnicas] primeiro lá fora onde vivi muitos anos e depois quando regressei a Portugal, há três anos e meio.
Na infância fazia muitos desenhos para oferecer à família?
Mais para os colegas, na verdade. Foi na escola que descobri que tinha este talento natural.
Que movimentos artísticos é que o inspiram mais?
Eu vivi no México durante um largo tempo e eu sou muito inspirado pelos muralistas mexicanos. Gosto muito do Diego Rivera, do [David Alfgaro] Siqueiros, o meu trabalho gira muito à volta dessa linha artística.
Ao analisar as suas obras é possível perceber que usa cores fortes. Esta é uma tendência que gosta ou usa porque agrada mais ao público?
É porque eu gosto mesmo e vem da linha dos murais mexicanos. O trabalho do Diego Rivera, por exemplo, era muito colorido. Eu sou um pouco como o Matisse, que usava muito a cor para expressar sentimentos.
E no seu dia-a-dia que influências vai buscar para as suas obras?
No dia-a-dia como trabalho com grandes empresas e grandes hotéis, entre outros, já me dão um tema para trabalhar. Apresento um esboço e depois é aprovado.
Os objetos que tem em casa também o inspiram?
Não, nem tanto. São cenas que eu retrato do dia-a-dia, tanto nos murais como nos quadros. Trabalho com algumas figuras públicas e ainda há pouco fiz um quadro para o José Figueiras, por exemplo, que é um bom amigo meu, que foi inspirado no dia a dia dele. Também trabalho com o Chakall, também foi feito de acordo com a identidade dele.
Já fez retratos e obras para figuras públicas. Pode divulgar mais nomes?
Já fiz para a Merche Romero, por exemplo, que é uma boa amiga minha também. Não sou um pintor retratista, atenção, não gosto de fazer retratos tipo foto. Uso o meu estilo, que depois se insere dentro do que a pessoa quer. Para o Chakal fiz um projeto muito maior, um mural muito grande num dos restaurantes dele. Para a Merche já foi de acordo com o que ela é, foi uma pintura de corpo inteiro. Depende do que as pessoas querem e são. Fiz cenários para teatro, trabalho muito para atores. Estive com o Cláudio Ramos, por exemplo… Já fiz um trabalho com o Diogo Piçarra. O mundo artístico da pintura mistura-se, às vezes, com o mundo do teatro e cinema e com a música. Sou também um grande amigo do Vitor de Sousa. Fiz-lhe um retrato, até fui à RTP entregar ao programa da Tânia Ribas de Oliveira. Também já fiz algo para o Fernando Alvim…
Quem e para quem gostava de pintar? Para que outras figuras públicas nacionais gostava de trabalhar?
Não tenho tanto uma pessoa mais tenho um sítio. Digo sempre isto: eu gostava muito de fazer um mural grande no Palácio de Belém, para o professor Marcelo passar e ver.
Já participou em várias exposições internacionais. Como é que é a reação ao seu trabalho lá fora?
Tive uma grande positividade e receção, mais do que cá dentro, que ninguém conhecia ainda. O meu nome é muito conhecido no México, na Holanda, onde vivi 13 anos, em Espanha também. Gostam muito porque é algo diferente: sou o único muralista português a pintar a óleo. Mais ninguém pinta a óleo e essa é uma das minhas particularidades. A qualidade é bastante melhor. Também faço muitos trabalhos para câmaras municipais e juntas de freguesia.
Gosta mais de pintar murais ou de quadros. Há uma diferença?
Há. Gosto muito de murais, mas depende do estado de espírito.
Viveu vários anos fora de Portugal e até já ganhou um prémio na Hungria. Sente que os portugueses não valorizam a arte, que nos outros países há uma maior abertura?
Há sim! Ainda bem que pergunta isso. Desde que cá cheguei que vejo realmente que nós como povo não temos este tipo de cultura. Quando vou trabalhar uma das perguntas que mais me irritam é: ‘Mas pagam-lhe para fazer isto?’. As pessoas não têm noção que é um trabalho, pensam que é uma brincadeira. As pessoas não têm cultura de arte. Na Holanda, por exemplo, já não é assim. As crianças são ensinadas desde pequenas a dar valor. Luto muito contra isso cá em Portugal, contra a indiferença e a falta de conhecimento. Não é por maldade, as pessoas não sabem ter uma opinião. Acham ‘giro’, que é outra palavra que me irrita profundamente.
Considera que esse trabalho cultural tem de ser feito na infância, na escola? É uma lacuna da nossa educação?
Sem dúvida, tenho várias amigas que são professoras primárias e secundárias e dizem-me sempre isso. Na escola não se ensina, não é aos 30 anos, ou mais tarde, que se vai ganhar o gosto. Ou já se gosta desde pequeno ou então não têm interesse por uma coisa que é desconhecida. Isso é muito mau, porque as pessoas ficam menos cultas. Vejo que as pessoas que passam na rua não sabem dar valor ao meu trabalho.
Quando olha para uma tela em branco qual é a primeira coisa que faz?
Depende do que vá pintar. Faço o desenho a carvão. Não tenho nenhum tipo de superstição ou ritual. Isso é mais para fazer os artistas mais misteriosos. O que acontece, às vezes, é o quadro começar a se perder, queremos ir para um lado e o quadro vai por outro, mais depois recupera-se outra vez.
Até hoje qual foi o trabalho que mais o marcou?
Boa pergunta. A nível de mural e dimensão foi um que fiz há três anos em Odivelas, que era um mural de 100 metros de comprimento. O que mais gostei de pintar, que me deu um enorme prazer pelo sítio e tema, foi talvez um mural no interior de um hotel na baixa de Lisboa – O Meraprime Gold. Só fiz um piso, ainda me falta fazer os outros quatro. Gosto muito de murais interiores, não sou apologista de exteriores.
Porquê?
Quero desligar-me dos graffiters, as pessoas pensam que sou graffiter quando estou na rua a fazer algo. Tenho que explicar que não, que isto é óleo. Também se estraga com a água, a chuva, o vento… O interior é mais prestigiante.
Texto: Ricardina Batista; Fotos: Divulgação
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