Bruno Candé, ator de 39 anos, foi morto este sábado, 25 de julho, por um homem de 80 anos. O crime aconteceu numa rua em Moscavide, concelho de Loures.
Testemunhas e familiares alegam que Bruno Candé o idoso tinham desavenças, alegadamente relacionadas com o cão do ator.
Nas redes sociais, várias figuras públicas manifestaram a sua indignação.
«Foi um crime de ódio – contra um actor, um pai, e decerto que neste país tão não-racista, haverá quem tente inventar “justificações” para o crime (“na volta ele provocou o outro”). Mas nada justifica isto: Bruno, 39 anos, artista, pai de três filhos, todos com idades abaixo dos cinco anos, foi rasteirado por um monstro que, depois de o mandar ao chão, disparou contra ele. Já há dias que o assassino o insultava, e já tinha agredido a cadela que acompanhava Bruno para todo o lado. Tendo em conta que o monstro tem 80 anos, não será difícil que a prisão lhe seja perpétua, como merecido. Que a justiça se faça. E um grande abraço solidário para a família e amigos do Bruno.», escreveu Nuno Markl.
Sandra Faleiro, numa curta mensagem, salientou: «Há racismo em Portugal! Ainda temos um longo caminho a percorrer…».
Paula Lobo Antunes lançou a pergunta: «E agora? É só lá fora?».
O ator Nuno Gil reforçou que Candé foi «assassinado na rua com um facilitismo aterrador». «O porquê da sua morte é mais que atroz, repugnante, e revelador de como há um racismo sistémico em Portugal. É esta permissividade invisível que assusta, que prolifera, que vai ganhando terreno. Querido Bruno, muita paz para a tua partida».
Bruno Candé sofreu acidente em 2017 e esteve em coma
Na página oficial de Facebook da Casa Conveniente, companhia de teatro dirigida por Monica Calle e à qual pertencia Bruno Candé, está uma biografia que descreve o percurso do ator. «Uma força da natureza, uma gargalhada e uma alegria contagiantes, um coração gigante. Pai de 3 filhos, o Ivo, o Ruben e a Bia».
Candé nasceu em Lisboa em 1980 e começou a fazer teatro na Casa Pia. «Em 1995 foi convidado a frequentar o curso de teatro do Chapitô com Bruno Schiappa, onde participou em vários espetáculos. Começou a colaborar connosco, Casa Conveniente em 2011 com o espetáculo A Missão – Recordações de uma Revolução encenado por Mónica Calle e com o qual ganha o prémio de melhor espetáculo do ano em 2012. Foi ator dos espetáculos Macbeth, O Livro de Job, Rifar o Meu Coração, A Sagração da Primavera, Noites Brancas de Mónica Calle; Drive In de Mónica Garnel, Atlas de João Borralho e Ana Galante. Trabalhou ainda com José Miguel Vitorino, Inês Vaz. O Candé fez ainda cinema com direção de Margarida Cardoso e televisão», pode ler-se.
«Hoje [sábado] dia 25 de Julho de 2020, o Candé estava sentado num banco, a passear a Pepa, a sua cadela, e um homem – com quem aparentemente tinha tido uma discussão por causa da Pepa, na passada quarta feira, – saiu de um restaurante, depois de almoçar, e disparou 4 vezes sobre ele», acrescenta ainda o grupo de teatro.
O mesmo post relembra ainda o acidente que, há 3 anos, deixou o ator incapacitado. «Em 2017, Candé sofreu um acidente grave e esteve em coma, tendo perdido a memória e capacidades motoras. As primeiras palavras de que ele se lembrou foi o texto do espetáculo A Missão de Heiner Muller. Neste momento, a Casa Conveniente e Zona Não Vigiada têm trabalhado num novo projeto – O Escuro Que Te Ilumina, a partir da vida e recuperação do Candé, que está a ser preparado para 2021. No dia de hoje, torna-se certo que este projeto vai acontecer, com uma nova força».
Texto: Raquel Costa | Fotos: redes sociais
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