Teresa Tavares
Atriz conta à VIP como encara o casamento

Famosos

“Ninguém que queira uma vida absolutamente segura e estável escolhe ser atriz”, diz

Qui, 16/04/2015 - 23:00

Começou a tocar piano bem cedo, porque o pai achava que tinha mãos de pianista. Só que, aos 16 anos, já representava em Jardins Proibidos. Agora, 15 anos depois, foi convidada para fazer a sequela dessa novela. Aos 32, mostra grande maturidade quando fala do seu percurso profissio­nal e pessoal. Fique a saber como foi a sua infância/adolescência no Ribatejo, três anos a apresentar o Curto Circuito, os períodos em que trabalhou no estrangeiro e como encara o casamento. 
 
VIP – Perdeu-se no caminho para esta entrevista? Já admitiu que se perde sempre a chegar aos sítios. 
Teresa Tavares – Não me perdi porque já morei nesta zona. Aqui foi fácil.      
  
Por que se atrapalha tanto com horas, dias e datas? 
Com as horas não me atrapalho. Sou muito pontual. E se me atraso dez minutos aviso. Sou mesmo é de me esquecer de coisas. Se deixo algo num sítio, depois já não sei onde está.
 
“Tento não ir para casa sempre pelo mesmo caminho.” Não gosta de rotinas?
Não. Ou melhor, as rotinas são necessárias, dão-nos segurança, são importantes, mas não sou uma pessoa muito rotineira. E acaba por ser um gesto de cria­tividade simples. Não ir sempre pelo mesmo caminho faz com que não me habitue sempre à mesma resolução em algo tão simples como o caminho para chegar a casa. 
 
É um estímulo?
Sim e existem estímulos em todas as coisas, até nas mais pequeninas.
 
É uma forma de se manter ativa…
Sim, tudo isto me mantém ativa e isso reflete-se na vida toda.
 
Como é que alguém que cresceu na Azambuja e passou parte da infância/adolescência em Aveiras de Cima com a amiga Diana começou a ter aulas de piano com a professora Isabel?
Muito simples: o meu pai achava que tinha mãos de pianista e quis que aprendesse. Comecei a ter aulas por isso.
 
Sabe tocar alguma música?
Sei algumas. Ainda tive aulas algum tempo. O engraçado é que foi essa professora que me fez ter curiosidade pelo teatro. 
 
Depois surge a adaptação à Farsa de Inês Pereira, a sua primeira incursão na área da representação. Foi aí que teve noção que queria ser atriz?
Isso foi uma brincadeira. Tinha grande curiosidade em ser atriz, mas não decidi em miúda. Era muito fascinada pelo cinema, via muitos filmes. Depois, quando tive experiências na área, senti que fazia sentido. Senti uma grande liberdade quando estava em palco e isso significava que aquele podia ser o caminho a tomar.

Depois do piano, a representação. Estava destinado que seria artista?
Acredito que se sou atriz é por algum motivo. As coisas foram acontecendo, mas a minha família não está ligada às artes e é normal que tenha feito um percurso até ser atriz.
 
Curiosamente, recebe o “telefonema mágico” para lhe dizerem que o papel em Jardins Proibidos é seu, quando está num intercâmbio cultural na Finlândia. Lembra-se o que sentiu?
Tinha 16 anos, foi o primeiro convite. E foi incrível. Na realidade, fiquei em estado de choque. Não falei durante algum tempo, mas foi ótimo, claro.

Sem perceber que seria o início de uma carreira, presumo…
Sim, foi o meu primeiro casting. Claro que quando se vai a um casting quer-se ficar, mas não se pensa nisso. Não estava à espera.
 
Tinha um jeito inato ou o curso de teatro, com a companhia Inestética, por volta dos 15 anos, foi importante para sobressair?
O talento tem de existir, mas é o trabalho que revela o talento. Quanto mais se trabalha, mais se revela o talento.

Mas com 16 anos e sem experiência teve de ser talento…
Provavelmente, sim. Fiz as coisas por instinto. Mas acredito que o talento não pode ser desligado do trabalho. Como diz Picasso, “o talento existe, mas tem de nos encontrar a trabalhar”. 
 
Entre as duas edições de Jardins Proibidos passaram 15 anos. Quais as diferenças que sentiu? Começando pelo convite.
Foi bastante diferente. Na primeira vez não estava à espera e teve um impacto incrível. Desta vez, fiquei surpreendida, pois não imaginava que iam fazer uma sequela, mas o facto de ser uma sequela e de um trabalho muito marcante – estava a começar muita gente: eu, Daniela Ruah, Vera Kolofzig, Maya Booth – gerou logo curiosidade sobre esse mesmo convite.

E para além de estar toda a gente mais adulta sentiu que estes 15 anos passaram rápido?
Foi estranho. Só pensei que passaram esses 15 anos agora. Não tinha feito as contas.
 
Aos 17 anos muda-se, sem os pais, para Lisboa. Como é que foi o confronto com a independência?
Sempre fui muito independente. Foi um passo que fazia muito sentido e foi muito bom. Lido muito bem com o facto de estar sozinha. 
 
Sabia cozinhar?
Sabia fazer umas coisinhas [risos]. 
 
Com o primeiro cachet comprou uns sapatos para o baile de finalistas. Como eram os sapatos?
[risos] Foi a primeira compra de “adulto”. Eram altíssimos, muito elegantes, mas foi uma grande canseira a noite toda. 
 
Quando chega de sapatos novos ao baile de finalistas, já começa a ser conhecida. Como é que reagiam os amigos e pessoas mais próximas?
Houve aquele entusiasmo de me começarem a ver na televisão, ainda por cima, não havia assim tantos atores jovens… mas a minha vida pessoal continuou.

Nos primeiros anos na representação surge também a hipótese de apresentar o programa Curto Circuito, na SIC Radical. Um “acidente”, como já disse, que durou quase dois anos. Não sente saudades de apresentar?
Nunca pensei ser apresentadora. Foi ótimo, diverti-me imenso e usufruí dessa experiência da melhor maneira. Não digo que não voltaria a apresentar, mas nunca pensei que o meu caminho fosse ser apresentadora. Por isso, não há essa questão da saudade, só boas recordações.
 
Fazia três horas de televisão e sem teleponto. Não gostava de experimentar um projeto como, por exemplo, o Achas que Sabes Dançar?, que também teve uma atriz na apresentação?
Sinceramente, não penso nisso. Se surgisse um convite, ponderaria, mas não sou pessoa de dizer que não faço isso ou aquilo.
 
Durante um ano e pouco frequentou o curso de Ciências da Comunicação da Universidade Nova de Lisboa. Nunca pensou em retomar as aulas?
Já sabia que queria ser atriz quando entrei para o curso. Segui o percurso normal de acabar o secundário e inscrever-me na faculdade. 

E devia ser boa aluna, pois as maiores médias dos cursos de Jornalismo eram na Universidade Nova…
Sim, era. E todas as experiências são importantes. Por exemplo, como atriz é tão válido fazer o Conservatório ou estudar em Londres – como estudei – como fazer uma viagem, conhecer pessoas novas. Tudo enriquece.
 
Nunca pensou voltar para acabar o curso?
Não tenho muito essa coisa de pegar em algo que ficou para trás. Mas nunca tinha pensado nessa hipótese.
 
No filme Sangue do Meu Sangue protagonizou uma cena de sexo um tanto ousada. Lida bem com a nudez?
O filme é do realizador João Canijo, que adoro e com quem trabalharei sempre. É um mestre para mim. É um grande filme e a cena fazia todo o sentido na história. Por isso, nem se coloca a questão se faz sentido.

E voltava a beijar na boca a Rita Andrade? Deram um beijo no Rock in Rio.
Ai, essa história… Foi uma brincadeira, tínhamos 20 anos. Só que, por acaso, estava lá uma câmara.

Pois, o Youtube está cheio de visualizações…
Jamais voltaria a fazê-lo, porque uma coisa que era uma brincadeira ganhou proporções exageradas. 
 
Trabalhou para SIC e TVI, mas nunca teve contrato. Não gostava de ter exclusividade, até para lhe dar alguma segurança?
Financeiramente, é provável que dê, mas depende muito dos projetos e para o que me convidam. Mas tenho sorte, porque tanto trabalho em teatro como em televisão e cinema. Já tive oportunidade de fazer também cinema em francês e em inglês. E ninguém que queira uma vida absolutamente segura e estável escolhe ser atriz. 

Quais as diferenças entre o cinema português, francês e inglês?
A língua [risos]. Os atores não fingem. Representar é viver sob outras circunstâncias e é isso que torna isto mais interessante. Mas a grande diferença é que trabalhar noutra língua te tira da zona de conforto. É um desafio. Fico nervosa.
 
Parece-me que gosta de desafios. Até fundou um teatro…
Sim, sou uma das fundadoras do Teatro do Vão, com o qual trabalho regularmente. 
 
A primeira paixão foi o cinema, mas começou pelo teatro e fez mais televisão. Via-se a fazer outra coisa?
Não, mas também nunca pensei nisso.

A estagnação assusta-a?
Claro e não sinto nada que esteja estagnada. Mas é uma atitude. Se não me deixar estagnar, não fico estagnada.

Pergunta que não gosta, mas que desta vez gostava que respondesse: prefere fazer a boa­zinha ou a má da fita?
Depende da situação [risos]. É importante variar. Mas ser o bom ou mau da fita não é só isso. O bom tem muitas coisas por trás que, se calhar, são secretas e misteriosas e é importante explorar. O mau tem uma razão qualquer para ser mau. É isso que tento: ver as coisas para além das etiquetas. 

Escolher entre constituir família e o trabalho é como escolher entre o pai e a mãe?
É. Não temos de escolher. Evidentemente, temos de fazer escolhas na vida e fazemo-las todos os dias. Sempre acreditei que ser atriz não invalida que constitua uma família, tenha uma vida pessoal muito cheia e tudo mais.
 
Os atores nunca sonham com casar e ter filhos pois já se casam nos filmes?
Isso tem mais a ver com a parte da cerimónia. Pessoalmente, quando era miúda, não sonhava casar e ter filhos. Mas sempre sonhei imenso viajar. Assim que pude, viajava, até sozinha.

E é verdade que não gosta de fazer planos?
Sim. Mas sou focada e gosto de saber o que quero.
 
Com que frequência “vai à terra”? 
Sou muito ligada à minha família. Como é muito perto, às vezes, vou lá só jantar. Mas eles também me visitam.

Viveu mais de um mês na Irlanda. Sentiu saudades?
Estive fora muitas vezes em trabalho, mas é ótimo voltar e estar com as pessoas de quem gosto. 

Como é que uma ribatejana adora o mar e percebes?
Não sei, mas adoro. Gosto muito do Ribatejo, mas viveria mais facilmente perto da praia. 

É uma ribatejana de segunda?
Não, tenho imenso orgulho nas minhas origens, mas sou muito mais pessoa do mar. E do mar sinto falta.

O Ribatejo tem as touradas. O seu pai foi toureiro a pé e tem um primo cavaleiro. Já admitiu que é uma aficionada. Qual foi a última vez que foi a uma tourada?
Já não me lembro. Lá está, sou mais do mar.

O que é ser atriz? 
É a minha forma de expressão, é a minha profissão, a minha forma de comunicar com o Mundo. 
 
Texto: Humberto Simões; Fotos: Bruno Peres; Produção: Zita Lopes; Cabelos e maquilhagem: Vanda Pimentel com produtos Maybelline e L’Oréal Professionnel

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