Mafalda Arnauth
Aos 35 anos, MAFALDA ARNAUTH acha que não seria justo ter um filho

Famosos

“Não tenho tempo na minha vida para ter um namorado”
Descobriu a sua voz já na faculdade quando, enquanto caloira, a obrigaram a cantar fado. Aos 35 anos, Mafalda Arnauth admite que esse momento lhe mudou a vida, já que deixou para trás o curso de Veterinária para seguir a vocação tardiamente descoberta. A mais recente paixão da sua vida: o sobrinho, Guilherme, de três meses.

Sex, 29/01/2010 - 0:00

Descobriu a sua voz já na faculdade quando, enquanto caloira, a obrigaram a cantar fado. Aos 35 anos, Mafalda Arnauth admite que esse momento lhe mudou a vida, já que deixou para trás o curso de Veterinária para seguir a vocação tardiamente descoberta. A mais recente paixão da sua vida: o sobrinho, Guilherme, de três meses.
 
VIP – Ficou satisfeita com o resultado final de “Flor de Fado” o seu mais recente trabalho?
Mafalda Arnauth – É um disco preenchido. Era minha intenção cantar as pessoas, representá-las enquanto flores, únicas, cada uma com o seu aroma, a sua cor. Depois do espectáculo, depois de fazer o disco, de editar e de cantar em vários países, acabo por perceber que faz todo o sentido e que as pessoas se revêem muito na intenção humana de cantar emoções; senti-me feliz com o facto de ter defendido tanto o disco.

Quando faz espectáculos lá fora, sente que o fado é cada vez mais uma bandeira de Portugal?
Sinto que continuamos a ser bandeira de Portugal e cada vez mais uma referência, mas que cada vez mais conhecem os intérpretes, cada figura do fado. Acho que as pessoas querem a Mafalda especificamente.

Por desconstruir o fado tradicional?
Neste disco, por revelar a minha essência enquanto fadista. A guitarra portuguesa não está tão presente, há um realce maior da guitarra clássica, quer na própria voz, mais contida, do que propriamente de exercício vocal. É talvez o meu disco mais verdadeiro.

Passaram dez anos desde o seu primeiro trabalho, qual foi a sua linha evolutiva?

Acabei por ser recompensada pela fuga ao óbvio, e quando finalmente gravei Amália, no quarto álbum, já não houve o perigo desses temas ensombrarem os outros. Portanto, as coisas levam um tempo maior em termos de popularidade e reconhecimento, mas também traz alguma credibilidade. Quando gostam, gostam mesmo.

Também não foi tão lento assim…

Não, mas só agora estou a chegar ao ano em que já se torna difícil dar
resposta a todas as mensagens que me mandam, aos convites que me são
feitos, mas tenho conseguido fazer isso ao longo dos anos e talvez por
isso tenha conseguido criar estes laços tão profundos com o meu público.

As suas letras são uma autobiografia?

Quase sempre. Até hoje, nunca consegui escrever ficção. Claro que nunca exponho ninguém, mas são as minhas histórias, as minhas vivências, é a minha visão das coisas.

Como é que chegou ao fado? Ou como é que o fado chegou a si?

Fui literalmente obrigada a cantar fado. Estava na faculdade, sabia por graça o “Cheira Bem Cheira a Lisboa”, a voz fazia aqueles volteios e ninguém acreditava que não soubesse mais fados. Disseram que a caloira, no dia seguinte, tinha de cantar fado. Tive de ir comprar uma cassete. E essa adrenalina física do fado, ao ser cantado, é transformadora. É visceral. Foi uma abordagem fresca, aquilo era tudo novo para mim. Tinha tido aulas de piano e sabia tocar um pouco de guitarra, mas nunca tinha tido formação de canto, então a descoberta do fado, da minha voz, a da minha voz no fado foi reveladora. Foi definitivamente uma mudança de vida. Eu nunca tive a ambição de ter uma vida artística, cantava escondida, explorava a acústica dos sítios, mas sempre que chegava alguém calava-me.

O curso de Veterinária ficou definitivamente para trás?
É um "amante" perdido. Mas é das decisões mais pacíficas da minha vida. Não há nada que me faça arrepender de ter escolhido a música. Eu escolhi aquele curso como podia ter escolhido vários. Preciso de conviver com animais, mas não era uma vocação. Como meia veterinária e meia cantora, os bichos iam ficar a perder.

Fala muito do seu irmão, é um grande amigo?

Sim. Acho que conseguimos ultrapassar de forma airosa aqueles problemas típicos de irmãos com quatro anos de diferença. Quando eu tinha 14 anos, perdemos um primo que era uma referência, e aproximam-nos muito, para sempre.

A família é um pilar?

Sempre. Agora, que temos um benjamim, ainda mais. Como já não sou muito nova, e o meu irmão também não, os meus pais não se estavam a dar conta que estavam a ficar sem netos e quando ele nasceu, tudo mudou. Não tenho a menor dúvida que é uma lufada de ar fresco. Eles eram muito centrados em nós, mas um neto torna tudo diferente. Há um músico que trabalha comigo há cinco anos e que fica em casa dos meus pais e eles já o tinham adoptado como filho, portanto creio que já havia esse necessidade de ver a família ser ampliada.

E como tia, a chegada do Guilherme mudou a sua vida?
É uma felicidade muito grande, acompanhar o processo todo, esperar que nascesse, ver nascer, tudo é fabuloso e traz um enorme sentido de responsabilidade.

Despertou-lhe o instinto maternal ou não sente essa necessidade?
Nunca foi algo que estivesse muito presente. Não me estou a ver ter um filho por uma necessidade pessoal. Não é algo que vá controlar obsessivamente, mas dentro do possível, com a vida que tenho, não acho justo. Se algum dia suceder, vai obrigar a alterações que serão bem-vindas, mas estou muito empenhada naquilo que faço e sinto que não é só uma realização pessoal, mas é quase uma missão. O canto, o transmitir
emoções, não são coisas que eu consiga entender de forma ligeira, secundária.

E tempo para namorar, para ter relações pessoais?
Não tenho. Mas como tenho uma boa convivência comigo própria e tenho essa tendência de isolamento, não me sinto propriamente fragilizada por não ter tempo para relações afectivas que exijam a minha presença constante.

Mas tem aparecido frequentemente com o Pedro Besugo…
É verdade, mas realço que é possível a amizade entre um homem e uma mulher.

Não tem necessidade de ter um relacionamento?
Não. Eu gosto de ter tempo para dedicar às pessoas e já basta com a família não ter tempo de estar com eles como gostaria. Portanto, não preciso, nem por regra, nem por urgência, de ter um relacionamento. Eu tenho a certeza, pelo que me tem acontecido, que o que há para nós e de bom, está reservado.

Texto: Elizabete Agostinho; Fotos: Bruno Peres Produção: Celisa Oliveira; Maquilhagem: Vanda Pimentel com produtos Maybelline e L´Óreal
Professionnel; Agradecimentos: Nuno Baltazar, EXTART & PANNO, ANA G, Hotel Penha Longa Sintra

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