Fátima Lopes recebeu a mulher de António Cordeiro no programa A Tarde é Sua, da TVI, desta segunda-feira, 6 de abril.
Helena Almeida falou sobre a doença do marido, paralisia supranuclear progressiva, desde os primeiros sintomas até à atualidade. Recorde-se que António Cordeio está internado na Casa do Artista, notícia avançada, em primeira mão, pela TV7 Dias. Tudo aconteceu depois de sofrerem um acidente em casa (caíram os dois) e de Helena ter visto o marido quase sufocar por duas vezes (uma vez que se engasgava). Foi aí que chegou a decisão, «das mais difíceis da sua vida», de internar o marido. Devido à pandemia do novo coronavírus, a estada de António Cordeiro na Casa do Artista teve de se prolongar e, de momento, a mulher está proibida de o visitar.
A apresentadora quis saber como tudo começou. A convidada revelou que o ator, que «sempre foi acelerado», começou a ter um discurso impercetível. «Fazia da frase uma palavra», começa por dizer. Os amigos também começaram a reparar que algo se passava. À mulher, o ator dizia que se eles não o percebiam, «problema deles».
Do discurso apressado, chegaram as «oscilações» de humor. «Tanto estava bem, como estava mal. Tanto estava chateado, como já não estava».
Helena começou a falar com alguns amigos médicos e uma psicóloga revelou que poderia tratar-se de uma depressão. Foi medicado e «melhorou um bocadinho». Fátima Lopes quis saber o que ela achava: «Eu nunca pensei que fosse depressão. Pensei que fosse um AVC. Que tivesse tido, sem se aperceber, e que aquelas fossem as sequelas.»
«Até lhe dizia que, se algum dia ficasse sem trabalho, podia ser taxista»
Mas os problemas continuaram. Desta vez, António Cordeiro, que sempre conduziu bem, «varria da estrada para o passeio e do passeio para o meio da estrada». «Ele sempre conduziu muito bem. Até lhe dizia que, se algum dia ficasse sem trabalho, podia ser taxista», revela.
«Isto foi há quatro anos. Eu não tinha a carta de condução e tinha de puxar o volante para a direita. Ele desviava-se para a esquerda». Perante a situação, o ator dizia apenas que a mão lhe «falhou». António Cordeiro, que se encontra intelectualmente «perfeito», não queria aceitar o problema. «Encontrava-se em negação, e percebe-se», comenta Fátima Lopes.
«Nunca mais vou trabalhar nesta casa»
Pelo meio, Helena recorda uma história emocionante. «Uma vez fomos ao Teatro Aberto… ele trabalhou muito no Teatro Aberto… o João Lourenço fez um peça em que o dinheiro revertia para o António», começa por dizer. Ao saírem do carro, com o ator já ligeiramente debilitado, a mulher foi ajudá-lo, quando este parou. «Está difícil arrancar?», perguntou-lhe. «Não. Estou a olhar para o prédio. Nunca mais vou trabalhar nesta casa. Nem nesta nem em mais nenhuma», respondeu o marido, que lhe disse, uns dias antes: «Tenho muita pena pela situação que estou a passar. Mas tenho a maior pena do mundo por nunca mais voltar a trabalhar!»
De volta à conversa do diagnóstico, Helena revelou que Zara, uma cirurgiã amiga do casal, convidou António para ir tomar café com ela ao Hospital do Barreiro. Ele foi. «Já que aqui estás, para despiste, não queres fazer uma TAC?», perguntou a médica. «Nada», comenta a mulher, em relação ao resultado.
«Ou é muito grave, ou não é nada»
Passou a ser seguido em psiquiatria. «Ele perguntava-me o que ia para lá fazer». Porém, foi daí que fez outros exames: punções lombares, entre outros. «Tudo dá negativo», diz. «A ressonância magnética dá um resultado. Nós vamos a um neurologista que olha para aquilo e diz:‘Ou é muito grave, ou não é nada. Mas eu não sei o que é! Não conheço’. É aí que a psicóloga nossa amiga, a Fátima, diz: ‘Eu conheço a cunhada de um professor, das doenças do movimento e de Parkinson, que é ótimo», conta.
Helena ligou, mas só havia disponibilidade para marcar consulta seis meses mais tarde. A amiga conseguiu falar com a cunhada do médico e António Cordeiro acabou por ser logo atendido. O casal foi lá a primeira vez, o médico medicou o ator, que «melhora ligeiramente», e pediu uma outra ressonância magnética mais específica e urgente. «Quando lá voltámos com o resultado ele abre e diz: ‘Não tenho boas notícias para vos dar’. Eu sabia que tumores não tinha, ele tinha feito todos os despistes. ‘Então é assim, o António tem uma doença degenerativa, chamada paralisia supranuclear progressiva’. Eu disse ‘Professor, desculpe. Quando viemos cá a primeira vez, o doutor sabia o que o António tinha?’ Ele respondeu: ‘Sim, bastava tê-lo visto a andar!’»
«Ele está preso no próprio corpo. É físico», conta ainda.
Em relação ao trabalho: «O António fez a última novela, mas toda a gente notou que havia ali um problema. Viam que o discurso dele não era fluente. Ele as falas sabia todas, o problema era mandá-las cá para fora. Ele acabou a novela e acabou o trabalho. Fizeram questão que ele continuasse a novela até ao fim. Cortaram cenas, como é óbvio, mas não o tiraram da novela.».
«Depois alguém apanhava-o caído na rua»
«Quem era este homem em casa?», pergunta a apresentadora.
«Chato, ele não aceitava a doença. Eu dizia para ele não se levantar porque ia cair, ele levantava-se e caía. Ele levantava-se 15 vezes e caía 15 vezes. Eu levantava-o. Sempre o levantei, sozinha. Ele já não é muito autónomo, continua a querer ser. Eu saía para fazer qualquer coisa. Ele apanhava-me fora e ele saía também. Depois alguém apanhava-o caído na rua e vinha trazer-mo a casa. Isto era a minha realidade. E toda a gente me culpava: ‘Porque é que deixas o António sair?’ Eu disse: ‘Ok. Tenho de o fechar à chave em casa. Ele quer sair, seja para o que for. Era ele a mostrar que era capaz», responde, com os olhos a brilhar.
«O António vai à casa de banho e eu tenho de lá estar. Tenho de estar sempre ao lado dele, exceto quando está deitado. O António não está acamado. Está de pé, anda», continua.
O casal viveu momentos muito difíceis a nível financeiro, porém recebeu muita ajuda de amigos e fãs do ator. «As ações de solidariedade vieram todas ter connosco. Agradeço do fundo do coração!»
«Sei que ele está feliz na Casa do artista»
«Sei que ele está feliz na Casa do Artista», revela a apresentadora.
«Passado uma semana de ter lá chegado, ou eu fiz um mau trabalho, mas deixou de se engasgar, come tudo. Está a comer arroz, que em casa, nem pensar. Está a comer fruta, sobremesa. Se calhar fui eu que fiz um mau trabalho», lamenta Helena.
«Cada macaco no seu galho», defende Fátima Lopes. «A Helena fazia com amor o que sabia, mas não é técnica. Não tem formação e especialização para fazer determinado tipo de cuidados muito específicos. É natural que ele, com as ajudas certas, tenha melhorado», continua.
«A Helena fez a sua recuperação e estava a preparar tudo para ir buscar o António. A ideia era esta. Entra o Covid-19 e é a aconselhada a não o tirar de lá», revela a apresentadora.
Perante a pandemia, Helena tem ainda que ajudar a mãe e os sogros, no entanto, os pais do ator «são teimosos e querem sair». «Sou eu que vou para o supermercado, farmácia. Agora expliquem-me como é que eu consigo tratar do António, da casa, de compras, das pessoas mais velhas? Eu disse isto tudo ao António. ‘E agora? Eu sei que tu não gostarias de estar aí, mas achas que agora é uma altura boa para ires para casa? E ele faz-me assim [acena com o dedo indicador, negativamente].»
Por fim, a apresentadora dá conta de que o ator está a ouvir a entrevista e que até lhe mandou um beijo.
Texto: Ivan Silva; Fotos: DR
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