Ângelo Fernandes
“Fui abusado sexualmente aos 11 anos”

“Esse homem era um indivíduo em quem toda a gente confiava, uma pessoa prestável, amigável e que usava um certo estatuto no bairro, que ficava situado em Setúbal. Isto é o que normalmente acontece nas pessoas que provocam o abuso: são gente conhecida e de confiança”, conta Ângelo Fernandes à VIP.

O abusador aproximou­‑se de Ângelo, de forma inocente, começando a fazer perguntas sobre a escola e os amigos. Aos poucos foi ganhando confiança até chegar à parte do abuso. “Qualquer momento que eu tivesse de dúvida ou hesitação, depois passava porque achava que era uma pessoa amiga. Ou, então, era eu que estava errado e o que pensava não era verdadeiro”, recorda.

Ângelo viveu durante 20 anos em silêncio, com o sentimento de culpa e vergonha, o que é muito comum entre as vítimas de abusos sexuais. “Durante 20 anos não me lembrava do que tinha acontecido, mas estas consequências ficam presentes. Elas dão­‑se através da nossa forma de estar e do nosso comportamento. Lembro­‑me de sempre ter muita dificuldade em confiar nas pessoas, nomeadamente nos homens. Alguém que se aproximasse de mim e mostrasse afeto e interesse genuíno, ia achar que essa pessoa queria um contacto sexual. Foi isso que esse homem me passou. Isso juntamente com a vergonha e a culpa que eu próprio sentia. Obrigou­‑me a ficar em silêncio e a manter isto para mim, acabando por influenciar o meu dia­‑a­‑dia”, relata o fundador da associação.

A associação Quebrar o Silêncio nasceu da necessidade de Ângelo dar de volta toda a ajuda que recebeu, para superar este trauma, a outros homens ou crianças a quem tenha acontecido o mesmo. “Por isso senti a necessidade de criar, em Portugal, uma ajuda para os homens portugueses que tivessem passado por situações semelhantes”, refere o responsável deste projeto pioneiro no nosso país.

“O nosso site www.quebrarosilencio.pt é uma plataforma que tem todas as informações acerca do abuso sexual e mitos associados, com testemunhos de pessoas que passaram por esta situação. E podem entrar em contacto connosco através da linha de apoio 910 846 589 ou e­‑mail. Chegámos a receber pedidos através da nossa página de Facebook. Nós atendemos todas as formas de contacto que cheguem até nós”, conclui Ângelo Fernandes.

Texto: Mário Rui Domingues; Fotos: Nuno Moreira e DR

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