O programa de investigação liderado por Ana Leal pode ter os dias contados. Quem o garante é a jornalista da TVI. Numa explosiva entrevista ao Sol, a jornalista da estação de Queluz de Baixo faz acusações e revelações sem precedentes. Entre as quais um alegado telefonema do atual primeiro-ministro António Costa que tinha por objetivo o seu despedimento.
Questionada sobre quais as mais fortes tentativas de bloqueio ao seu trabalho, Ana Leal responde que o que mais a preocupa é que «um político, à época ministro, que acha que pode à distância de um telefonema ligar para uma administração ou para uma direção de informação a dizer: ‘Despeçam-na!’».
A jornalista da TVI afirma que não é «um caso recente» mas que «já aconteceu várias vezes». «Curiosamente essa pessoa chegou a processar-me e perdeu em tribunal depois de recorrer». Ana Leal acaba por revelar que a pessoa em causa é nada mais nada menos do que o atual primeiro-ministro. «Estamos a falar do primeiro-ministro, António Costa. E estamos a falar do SIRESP».
Ana Leal investigou pela primeira vez o Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP) em 2013. Este sistema, recorde-se, foi homologado por António Costa, quando exercia as funções de ministro da Administração Interna.
Nesse ano, Ana Leal foi suspensa depois de ter questionado a direção de informação (na altura liderada por José Alberto de Carvalho) sobre a não emissão de uma peça sobre o SIRESP no Jornal das 8 apresentado por Judite Sousa. A TVI iniciou um processo disciplinar contra Ana Leal, tendo-a suspendido. A peça acabou por ser emitida no dia seguinte e o Conselho de Redação pediu esclarecimentos. Os editores da estação recusaram ter havido «qualquer espécie de censura» e a jornalista avançou com uma acção judicial contra a própria estação.
Em outubro de 2014, Ana Leal e a TVI chegavam a acordo e a jornalista voltava à estação.
«Vão acabar com o meu programa»
Mas Ana Leal não se fica por aqui. Nesta entrevista, acusa ainda a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) de querer acabar com o seu programa que, recorde-se, estreou em novembro de 2018. «Não tenho dúvidas nenhumas que quer acabar com o meu programa». A jornalista explica que o regulador dos media está a «tomar decisões sumárias». «Muitas das deliberações publicadas a enxovalhar o meu nome e o do programa para as quais nem sequer me ouviram».
Ana Leal diz que o regulador atua como um «tribunal», acusa também a ERC de querer terminar o seu programa «em nome de interesses políticos». «Se um dia o programa terminar, não vai ser por mim nem pela minha equipa. Se algum dia o programa terminar fica aqui a prova de que não será por vontade própria, porque há muitas formas de acabar com um programa. Este programa era semanal, passou a ser quinzenal, dizem que é porque já não são comportáveis os custos que implica», explica.
Mais à frente, a jornalista garante que tem a certeza de que o formato de investigação vai mesmo terminar. «Para mim, é um facto consumado, mais cedo ou mais tarde vão acabar com o meu programa».
TVI reage e coloca ónus da responsabilidade em Ana Leal
A TVI já reagiu às declarações de Ana Leal ao Sol. Fonte oficial da estação de Queluz de Baixo revela que «esta entrevista foi dada sem autorização da direção de informação e as declarações da jornalista só a comprometem a ela» .
«A TVI não decide criar ou acabar com programas em função de pressões externas. No que respeita a este caso concreto, o diretor Sérgio Figueiredo já recebeu muitos telefonemas por causa daquele espaço de investigação, mas nenhum deles até a data partiu do primeiro-ministro ou de quem com ele trabalha».
Os alegados temas supracitados referem-se a um período em que José Alberto de Carvalho era diretor de informação. Sobre esse «tema do passado» a resposta da TVI é curta. «A direção de informação não vai pronunciar-se». O hipotético fim do formato de investigação também não é nem confirmado nem desmentido. «Nunca comentamos assuntos internos».
Texto: Raquel Costa; Fotos: arquivo Impala e reprodução redes sociais
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