A celebrar 60 anos de vida e 45 de carreira, Ágata está preparada para entrar numa nova fase da sua vida. Os últimos meses foram de sofrimento e dor, causados por um divórcio marcado pela traição e por um cancro na bexiga. Fez uma cirurgia para emagrecer, ultrapassou os momentos difíceis e, agora, está até disponível para viver um novo amor.
VIP – Fez 60 anos este mês. Qual o balanço que faz da sua vida?
Ágata – Verdade. O tempo corre e o mais engraçado é que não sinto o peso da idade. O balanço que faço será sempre positivo. Deus permitiu que chegasse até aqui com uma finalidade… amar e ser amada. Aqui nesta vida, a minha alma vai-se aperfeiçoando, aprendo com os erros, vivo os meus pecados e tento dar o melhor de mim.
Olhando para trás, pode destacar-me três momentos altos da sua vida que a tenham marcado?
Durante uma vida, muitos são os momentos que nos marcam através da saudade, da tristeza e até das maiores alegrias, e essas nós fazemos por não esquecer. O nascimento dos meus filhos, o meu primeiro sucesso e os natais em família, entre tantos outros que guardo em mim.
O que é que uma mulher de 60 anos sabe que não sabia aos 30?
Boa pergunta. Claro que a maturidade aumenta e a credibilidade também. Uma mulher de 60 anos não perde muito tempo com assuntos descabidos, não se envolve em projetos sem os analisar melhor, procura mais a paz e observa a Natureza com mais intensidade, dá mais valor à vida e procura, no seu dia-a-dia, fazer todas as coisas que lhe dão mais prazer. Dá mais amor e ouve com mais atenção.
Costuma olhar para o passado com saudade ou prefere olhar em frente para o que ainda está para vir?
Às vezes, dou por mim parada num tempo que já não volta mais, mas não adianta. O que passou está passado, e apenas ficam memórias, lembranças de inúmeros momentos que completaram a nossa vida. Tenho saudades de tanta coisa que me deixa nostálgica… Nessas alturas, acordo para a vida, entendo que a saudade toma muitas vezes conta de mim, mas é preciso avançar, ser criativa, ultrapassar obstáculos e nunca deixar de sonhar.
Muitos artistas afirmam que querem cantar até “que a voz lhes doa”. Partilha desta vontade ou já pensa na reforma?
Nunca pensei nisso. A única coisa que vou reformando é o meu guarda-roupa e a decoração em minha casa. Neste momento, sinto-me ainda com muita vitalidade para dar ao meu público momentos de alegria e satisfação. A música alimenta qualquer alma e é essa que conto entregar ao meu público através da minha essência e interpretação.
Foi público, e a própria Ágata revelou que teve cancro. Este problema de saúde está ultrapassado? Ou continua a fazer tratamentos?
Sim, infelizmente a saúde não está nas nossas mãos. Foi um grande susto, mas não devemos baixar os braços, temos que prosseguir, procurar meios e encontrar soluções. Quando me foi diagnosticado o tumor, fui operada e durante um ano fiz tratamento de quimioterapia. Não é fácil, é muito incómodo, mas temos que aprender a aceitar o que o universo nos apresenta. Neste momento, o resultado é positivo, mas não deixo de ser seguida clinicamente
Como descobriu que estava doente?
Todos nós conhecemos o nosso corpo, o nosso comportamento físico. A determinada altura, senti que exagerava na quantidade de vezes que necessitava de urinar. Era contínua esta vontade e, por achar anormal, procurei um médico especialista, fiz exames e o resultado viu-se. Não devemos nunca descurar a nossa linguagem corporal.
Passou pela fase inicial do medo ou sentiu desde o primeiro momento que ia ultrapassar a doença?
Inicialmente, fiquei assustada. Pensei “é o princípio do fim”, mas depois o meu coração tranquilizou-me.
Ter um problema de saúde desta natureza tão grave levou-a a pensar mais em quê: continuar a cantar e a dar concertos, ou afastar-se do mundo do espetáculo e viver mais a vida?
Continuei a fazer a minha vida. Muitas vezes, acordava a meio da noite e não conseguia dormir. Pensava nesta dura realidade, mas procurava tranquilizar o meu coração e este adoçava o meu espírito. Nunca pensei em desistir de nada. A música sempre foi um bálsamo para a minha vida, faz me bem cantar, espalhar emoções, e continuo a acreditar que quem canta, seus males espanta.
A par com a doença, sofreu outro revés na sua vida pessoal: o divórcio. Foi difícil?
Nunca me divorciei, porque nunca fui casada. Tal como nas histórias, o “e foram felizes para sempre”, eu também vivi esse sonho. Nunca pensei em desistir de alguém que sempre foi tão especial para mim, mas existem situações que não conseguimos digerir, e o que tem que ser tem muita força. Às vezes, há males que vêm por bem, e temos que ver sempre o lado positivo das coisas.
Assumiu publicamente que foi traída. Como lidou com isso?
É difícil quando se ama, mas temos que compreender que nada acontece por acaso. Somos seres humanos fracos e sensíveis. Provavelmente, o Francisco estava carente e não soube lidar com a situação. Passámos muito tempo sozinhos, eu cá e ele lá, por motivos pessoais e profissionais. Eu sempre confiei nele, nunca pensei ter este desfecho.
Esteve recentemente em Chaves, a terra do seu ex-companheiro, Francisco Carvalho, a dar um espetáculo. Como foi?
Fiquei de coração partido. Tive uma recetividade muito grande, não sabia que havia tanta gente que gostava de mim. Estavam 1600 pessoas, gritaram o meu nome e cantaram comigo. Gostava muito de voltar com a minha banda e fazer um show completo. A cidade merece isso de mim, por todo a carinho que tiveram durante uma vida que vivi naquela querida cidade. Fica a promessa de voltar.
O Francisco é presidente do Desportivo de Chaves. Quem cantava o hino do clube era a Ágata, mas o Francisco mudou o hino recentemente. Sabe porquê?
O Francisco retirou a minha voz dos jogos porque não me queria ouvir. A razão só ele sabe. Estou convencida que desceram de divisão porque, ao voltarem a colocar um tema antigo, também o Desportivo andou para trás [risos]. Sei que muita gente está indignada com isso e querem que a minha voz seja colocada de novo. Não sei se foi a sério ou por graça, mas disseram-me que iam fazer uma petição para o Desportivo de Chaves voltar a ter a minha voz.
Isso comoveu-a?
Amei, chorei, e o carinho que me fizeram sentir só provou que afinal não era assim tão má pessoa. Até acabei por deixar saudades.
O que sente quando regressa a Chaves?
No dia a seguir ao espetáculo que dei no dia 1 de novembro, fui abraçada por muita gente nas lojas e nas ruas. Fiquei na casa onde vivi… Parecia que estava tudo morto, sem a vida que um dia lhe dei. Fiquei triste pela saudade, as paredes sussurravam nas minhas costas, por onde passava, como se me dissessem: “Volta, Ágata.” Enfim, é a vida…
Ter de enfrentar a doença e a separação quase em simultâneo deve tê-la abalado. Onde foi buscar forças para ultrapassar tudo isto?
É verdade, foi um ano terrível, mas eu sou como a fénix e das cinzas me levanto. Sou uma mulher de fé e vivo na esperança. Creio em Deus, procuro ter equilíbrio para saber dosear as minhas convicções, dediquei-me mais do que nunca à minha profissão e não deixo que o tempo tome conta das minhas vontades.
Tem uma legião de fãs que estão ao seu lado no meio deste turbilhão de emoções, fez uma cirurgia estética e perdeu muito peso. Fê-lo por uma questão de saúde ou estética?
Por ambas as razões. Precisava de obter outros níveis na saúde e, esteticamente, gostar mais de mim, ganhar mais confiança, sentir-me mais leve e adquirir de novo a minha silhueta. Esta cirurgia [um minibypass] não deixou de ser um desafio. Devia esta imagem ao meu público, era algo que me preocupava constantemente, o olhar para o espelho e não me rever, por isso não hesitei. A ansiedade leva-nos a excessos, doces e comida em exagero.
Imagino que uma mulher que passe por um divórcio e um problema grave de saúde sinta uma quebra na autoestima. Esta nova imagem ajudou-a nesse sentido?
Fiz esta cirurgia durante o período dos tratamentos. Não tem contraindicações. Impus a minha vontade quando desejei afincadamente olhar para mim e encontrar a verdadeira Ágata, na forma mais natural. Gostaria de incentivar todas as mulheres que têm peso a mais a não terem medo. Procurem nesta cirurgia o método mais simples e eficaz para obterem o peso desejado, para se sentirem mais confiantes e seguras.
É uma mulher vaidosa?
A vaidade surge quando nos cuidamos. É necessário alimentarmos o nosso corpo com vários elementos para que se possa refletir na saúde e na beleza. Gosto de andar bem.
Lançou agora duas músicas, uma delas com o título Amanhã. Esta música tem alguma coisa de biográfica? Ou seja, prefere olhar para o amanhã em vez de para ontem?
Os temas que gravei agora [Amanhã e Gota Fria] foram baseados em factos. São dois temas românticos lançados no outono, quando a folha cai e tudo se transforma. Nunca irei deixar de me preocupar com quem um dia foi tão importante para mim, tal como diz o tema. O pai do meu filho ficará eternamente no meu coração. Mas o futuro é que conta, do passado apenas restam as boas memórias.
Quando começou a cantar, imaginava que iria ter tanto sucesso?
Quando comecei a cantar, era tão pequenina que nem pensava em mais nada. Cantar era o meu passatempo preferido, enquanto o fazia durante tardes a fio à janela. Cresci e, em tempo de escola, deliciava-me com uma plateia a aplaudir-me. Até que, aos 14 anos, gravei o meu primeiro single em vinil. Durante anos, frequentei escolas de canto e solfejo, cantei inúmeras vezes com a orquestra da Emissora Nacional e pisei os maiores teatros de Lisboa com artistas nacionais e internacionais. Integrei, durante dez anos, as primeiras girl bands deste país, as Cocktail e as Doce. Gravei com Art Sullivan e fui a voz da Abelha Maia. Fiz parte da programação do Eu Show Nico e lancei um tema num dos discos do Nicolau Breyner. Atuei ao lado dos maiores nomes deste país, fui variadíssimas vezes ao Festival da Canção, como Fernanda e integrada nas Cocktail. Aos 34 anos, faço o meu primeiro sucesso e, se não tinha pensado antes em ser reconhecida, nessa álbum tive a certeza que o iria ser. Querer é poder e eu sabia que a minha altura tinha chegado. Foram só 20 anos de ensaio e mais 26 de sucessos. Aqui estou eu, Ágata para sempre.
Está a celebrar 45 anos de carreira. Vai haver algum espetáculo especial associado a este marco?
A PMP, de Paulo Magalhães, está a assumir a produção para o meu concerto no Casino Estoril, a 23 de maio do próximo ano. Conto que venha a ser uma grande festa, com algumas surpresas. Gostaria de oferecer ao meu público algo especial e inesquecível.
Se tivesse esse poder, mudava alguma coisa que tenha feito?
Não mudava nada. O que tem que ser tem muita força. Nós podemos dar muitas voltas, mas acabamos sempre por fazer tudo aquilo que estava destinado. Talvez tivesse tomado outro tipo de atitude mediante vários factos, mas a nossa intuição e vontade mexe muitas vezes com a nossa forma de agir e, quando se fala em emoções, o coração fala mais alto.
Sente-se uma mulher realizada?
De certa forma. Vou-me realizando com os momentos bons que a vida me dá. Acho que ninguém consegue na íntegra ter o que deseja, mas neste momento sou grata à vida e só desejo ter muita saúde para a viver tranquila e feliz.
Gostava de viver um novo amor?
Neste momento, estou concentrada no meu trabalho. Não tenho tempo para pensar em mais nada. Mas amar é uma realidade necessária e, um dia, quem sabe o que poderá acontecer… Tudo na vida tem um propósito.
Texto: Patrícia Correia Branco; Fotos: José Manuel Marques; Produção: Elisabete Guerreiro; Cabelo e maquilhagem: All About Makeup
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