Afonso Vilela decidiu usar a sua energia para ajudar quem mais precisa e está a cozinhar para sem-abrigo e carenciados através da associação Humanitave. A VIP entrevistou o ator e modelo, através de videochamada, que nos explicou que esta não é a primeira vez que é voluntário, estando ligado à Humanitave desde a sua fundação. Contudo, não costuma tornar isso público. “Mas neste caso sentimos a necessidade de divulgar para angariarmos mais donativos. Esta associação de voluntariado tem como foco principal um trabalho fora de Portugal, na Guiné – fazem formação de ensino e de saúde, montam escolas – Este ano, como o projeto teve de ser abandonado devido à pandemia, decidiram canalizar os recursos para Portugal, sem descurar os outros projetos”, explica à nossa revista. (Clique no vídeo para ver a entrevista)
Inicialmente, começaram por “fazer as compras e ir à farmácia para quem não podia sair de casa”, mas a procura por alimentação “foi enormíssima”. “Muitas das pessoas e famílias sinalizadas às vezes não têm cozinha, meios para confecionar refeições ou até mesmo para aquecer a comida”, justifica.
Afonso Vilela conta que, neste momento, o papel da Humanitave é dar apoio a outras instituições de solidariedade social que deixaram de ter meios para atuar devido à pandemia do novo coronavírus. “Dou o exemplo da Refood, uma instituição que depende da restauração, que está fechada ou a funcionar em take away, ou seja não há sobras.”
“Faço-o com maior prazer”
O trabalho de Afonso Vilela é ser o responsável por centenas de refeições que estão a alimentar quem mais precisa. A cozinha é uma das paixões do ator e modelo, que foi vencedor do concurso Masterchef Celebridades. “Coordeno a equipa da cozinha. Faço-o com maior prazer e faço exatamente como se estivesse a fazer para mim, em minha casa. O que nós preparamos não é diferente do que eu faço em casa. Temos outra equipa que faz a distribuição. Não misturamos as equipas, por questões de segurança”.
“É muito complicado cozinhar com máscara”
As dificuldades existem, mas nada que demova o esforço dos voluntários: “É muito complicado cozinhar com máscara, porque não sinto o aroma da cozinha e perco a perceção de como está. A viseira fica embaciada com o vapor…”, detalha, preferindo dar ênfase às regras de segurança e de distanciamento social que também são cumpridas entre tachos e panelas. “Na cozinha trabalhamos apenas três, no máximo quatro, não podemos estar juntos, temos módulos de trabalho separados, estamos sempre devidamente equipados (com equipamentos de proteção). Como trabalhamos em equipas reduzidas, às vezes fazemos um bocadinho mais de horas do que seria expectável, 14 horas seguidas, mas tem de ser.”
“Dispo-me completamente à porta”
Quando chega a casa, Afonso também não descura as regras recomendadas pela Direção Geral de Saúde. “O meu grande pesadelo é quando chego a casa, dispo-me completamente à porta de casa e estou sempre na paranoia que os vizinhos vão abrir a porta e eu em cuecas. Sendo voluntários, estamos habituados a fazer este trabalho com imensos cuidados, as nossas viaturas pessoais e as da associação são completamente desinfetadas. Quando chego a casa tiro a roupa e vou tomar um banho completo e a roupa fica num saco fechado, num canto à porta de casa, e só no dia seguinte é que a apanho e vai diretamente para a máquina de lavar”, explica.
Afonso Vilela conta ainda que tem recebido várias mensagens de amigos e anónimos que também querem ajudar os outros. Algo que o deixa feliz. Além disso, destaca que sente que por ser uma figura pública considera que tem o dever de dar o exemplo. “Nestas alturas tem de existir entreajuda. Nós, que temos mais audiência e impacto por sermos figuras públicas, devemos dar o exemplo”, considera, mostrando-se preocupado com o futuro do País, porque o “número de pessoas sem-abrigo, famílias carenciadas que estão a recorrer a estas instituições tem estado a aumentar assustadoramente”. “Entre as pessoas que foram recolher refeições já estão alguns dos reclusos que foram recentemente libertados. Se por um lado não estavam protegidos nas prisões, também parecem não estar desprotegidos cá fora”, lamenta.
“Estas refeições não vão deixar de ser necessárias quando acabar a quarentena. As pessoas vão continuar a precisar de ajuda. Infelizmente, tenho a certeza que o desemprego vai aumentar”, diz ainda.
“Eu também estou sem trabalho”
Afonso Vilela sabe do que fala, porque neste momento também está sem emprego. Foi o facto de ter ficado sem trabalho que o levou a arregaçar as mangas e colocar as mãos na massa. “É uma fase difícil para todos, para mim também. Tal como a maioria dos portugueses, eu também estou sem trabalho. Não estou propriamente em lay off porque não tenho patrão, como a maioria dos atores e modelos, que trabalhamos como profissionais liberais. A maioria dos trabalhos não foram adiados, foram, pura e simplesmente, cancelados. Obviamente, que me preocupa, mas tento manter uma postura mais otimista e este trabalho de voluntariado também ajuda nisso, não só para perceber que existem situações muitíssimo piores do que a a minha, mas também ajuda-me a perceber que este é o caminho. O caminho é trabalharmos uns para os outros.”, remata.
Texto: Ricardina Batista; Fotos: Impala e reprodução redes sociais
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