Canta, escreve, é jornalista, dá aulas e é mãe de duas crianças, Miguel, de quatro anos, e Mariana, de nove. Rita Marrafa de Carvalho conta à VIP que, apesar de ser no jornalismo que está mais à vontade, é a cantar que sente mais prazer. Revela que tem uma ótima relação com o ex-marido e que acredita que está a fazer um bom trabalho na educação dos filhos. Profissionalmente, a repórter da RTP confessa ainda que não nega a hipótese de um dia voltar a fazer em televisão algo que lhe deu muita satisfação: a apresentação de programas de entretenimento.
VIP – Mãe, jornalista, professora e cantora. Em que papel é que se sente mais confortável?
Rita Marrafa de Carvalho – Muito provavelmente no de jornalista. É aquele em que tenho menos dúvidas sobre a minha prestação. Aquele em que me sinto mais segura. Em que domino os instrumentos. Se é o que me dá mais prazer? Não, de todo. O maior gozo é cantar. A música sempre foi parte considerável de mim. Toda eu sou vibração musical desde que me conheço. Ser mãe não é uma atividade vocacional. Foi uma opção. Um desejo. E o campo onde, naturalmente, me sinto perfeitamente realizada mas, como qualquer mãe que quer ser mais e melhor, com as maiores dúvidas. Estarei a reagir bem? Dei a melhor resposta? Fui muito dura? Ser mãe não é um dado adquirido. É um processo sinuoso e um caminho em que nunca há certezas. Mas isso, na verdade, é a beleza da vida.
Como concilia a vida profissional com a familiar?
Hoje em dia, muito bem. Quando estava casada com o pai dos meus filhos era menos complicado. Fazíamos uma ginástica complexa, mas que funcionava. Mas os meus filhos eram muito penalizados. Atualmente, porque tenho guarda partilhada, a semana em que estão comigo é vivida intensamente. Só em circunstâncias muito especiais é que falho esse plano. Não tenho que provar nada a ninguém. As minhas prioridades são a minha família, nesta altura. Tenho recusado saídas em reportagem para o exterior por isso mesmo. Hoje em dia, só um trabalho muitíssimo aliciante e desafiante me faria afastar-me do Miguel e da Mariana.
Como é a relação com os seus filhos?
Fantástica. Isto pode parecer “olha, mais uma a dizer que tem uma relação fantástica”. Tenho mesmo… espanto-me todos os dias com aquilo que revelam. A personalidade que começa a despontar, o humor que têm, a maneira como gozamos uns com os outros… Dançarmos na sala e cantarmos alto. Nunca infantilizei o discurso ou as conversas. Nem com o Mi, que tem quatro anos. Falo-lhe com a doçura do conteúdo mas sem excessos de simplicidade na forma. E enternece-me estar a criar crianças tão doces, físicas e ternas. Com amor pelos animais, pelos amigos, pela família. Com compaixão e curiosidade pelos detalhes da vida. Perceber que, se calhar, eu e o pai estamos a fazer um bom trabalho.
Com quem é que cada um deles é mais parecido? Como define cada um?
Não sei especificar isso desse modo. É um dos assuntos mais fraturantes na História da Humanidade (risos). Há quem diga que o Miguel é a minha cara… meia hora depois, outra pessoa diz precisamente o oposto… Para mim, é mais fácil por feitios. O Mi é mais expansivo, como eu. Mais gozão. A Mariana é mais introvertida, inicialmente. Mais reflexiva e perfeccionista. Um pouco mais parecida com o pai.
Algum deles lhe pede mais um irmão?
Não. A Mariana, durante muito tempo, pedia e queríamos muito ter um segundo filho. Veio, então, o Miguel. São muito companheiros e espero que assim se mantenham muitos anos.
Como é a relação da Mariana com o Miguel?
A Mariana é uma santa com imensa paciência para o irmão. Ele é um ciumento com ela quando a Mariana está rodeada de amigas. É uma pequena lapa que anseia, a todo o instante, pela presença e a atenção da irmã. Encontro-os muitas vezes abraçados ou a darem beijinhos. Deitados no sofá, ele ao colo dela, a verem um filme. É muito raro chatearem-se. Na verdade, têm o seu quê de inseparáveis. Acho a relação que os dois têm muito bonita, confesso.
A Mariana é muito protetora com o irmão?
Muitíssimo. Sempre foi. É uma cuidadora nata. Sempre preocupada com o bem-estar do irmão.
Que tipo de programas gosta de fazer quando está com eles?
Adoramos ir ao cinema. Eles pedem muitíssimo. Mas também gostamos de passear o Tony, o nosso cão, e fazer bolo de chocolate. São as coisas que mais gostamos de fazer. Ah, estava a esquecer-me do parque! Ir ao parque é a cereja em cima do bolo e ficam ali a correr e a saltar pelo escorrega e a escalar as cordas.
Consegue acompanhá-los sempre nas brincadeiras?
Nem sempre. Existem algumas das brincadeiras de que o Miguel gosta, como fingir que somos todos piratas ou zombies, que não são coisas em que eu seja muito boa (risos). Mas fazemos corridas pela casa e concursos de caretas ou torneios de cócegas. Estamos sempre prontos para a pequena palhaçada.
Qual é o mais enérgico?
O Miguel. Não há hesitação possível. Chamo-lhe o “pequeno saquinho de testosterona”. O “Mi sem medo” sobe pelo sofá, dá cambalhotas e mortais pelo tapete. Faz a vida negra ao Tony e aguenta o dia todo nisto.
Como e onde vão ser as vossas férias?
Confesso que ainda não sei. Eles fazem 15 dias de praia com a escola e gostava de algo mais calmo. Mais campo. Mais verde e sereno. Talvez opte pelas planícies alentejanas.
E quando estiver a trabalhar eles vão de férias com o pai ou com os avós?
Eles vão estar 15 dias de férias com o pai e, aí, vão para o Algarve aproveitar o bom tempo de praia e seguem, depois, para Mouriscas, onde vivem os avós paternos. Com a minha mãe, com quem estão com muita frequência porque mora perto de nós, faremos uns fins de semana em Alcácer do Sal, onde temos uma casa.
Tem uma boa relação com o pai dos seus filhos, mas custa sempre deixá-los ir com o pai ou é algo que não lhe faz confusão? Porquê?
Tenho uma excelente relação com o pai dos meus filhos. Somos genuinamente amigos. Por sabê-lo tão “paizão”, foi impossível não aceitar a guarda partilhada. Sou tão mãe quanto ele é pai e custar-lhe-ia horrores os 15 dias da praxe e o jantar semanal. Gerimos as coisas muito bem. Nos primeiros tempos, aquela semana sem eles é um pouco duro. O ninho vazio, o quarto de brinquedos às escuras. Mas depois, no domingo, começas a preparar tudo para o regresso. E fazes as coisas com a energia de quem descansou alguns dias dos banhos e jantares e trabalhos de casa e já está a morrer de saudades. E, na verdade, tanto eu como o Zé vemo-los além da semana estabelecida. Por isso, é uma ausência relativa.
Conta sempre com ajuda dos avós ou às vezes recorre aos amigos?
Só posso contar com a minha mãe. Os avós paternos e o avô materno não vivem em Lisboa. Mas conto muitíssimo com a “família de amigos” que os amam como poucos. Duas ou três pessoas que cuidam deles quando eu, por algum motivo, não posso estar em casa ou vou dar uma aula. Dá-lhes mundo estar com outras pessoas, perceberem que há mais gente em quem podem confiar e que lhes quer bem. E quem meus filhos beija, minha boca adoça. Sem sobra de dúvida.
Há quanto tempo canta?
Desde que me conheço. Cresci num ambiente musical de excelência. O meu avô era maestro e professor de música. Tinha piano em casa. Os meus tios tocavam ambos instrumentos de sopro. A minha mãe e o pai tocavam guitarra portuguesa e viola. Não me lembro de não haver música em casa. Recordo-me, desde sempre, de soirées de fado, em casa dos meus pais, até muito tarde. Os meus pais gravaram uma dessas noites na véspera de eu nascer. Tenho gravações em bobine, com dois anos, a cantar. É das coisas que mais prazer me dá. Há uns dias, ouvi uma coisa muito interessante sobre a Elis Regina, que ela cantava quase sempre de olhos fechados porque, acima de tudo, estava a cantar para ela. A olhar-se para dentro. A usufruir do momento. Sinto muito isso… Não há explicação para o gozo que tenho a ouvir, a sentir, a tocar música.
Quando e em que circunstâncias é que começou a cantar para o público?
Comecei na escola, nos espetáculos infantis, com concertos de fim de ano. Depois, no clube de música do liceu, com espetáculos noutras escolas. Os meus pais nunca incentivaram essa possibilidade profissional. São ambos licenciados e sabiam bem que a formação superior era uma garantia mais eficaz de evolução profissional. Era o que desejavam para mim. E eu própria sempre fui boa aluna e queria, de facto, ser jornalista. Acabei por colocar a música um pouco de lado. Ainda toquei com um amigo num bar, no Seixal, em 1995 mas, depois parei por completo. Até 2012. O meu amigo de longa data, Jorge Picoto, estava a gerir o teatro Turim e desafiou-me a estruturar um concerto com o Bernardo Santos, na altura jornalista da TVI. Foi fantástico… resolvemos repetir mas as vidas e as agendas estavam complicadas de organizar. No ano passado, em outubro, o Chapitô organizou o Jornalistas no Tanque e a Mafalda Franco convidou-me, em nome da Teresa Ricou. Correu tão bem que, desde então, tenho atuado por lá com o pianista Miguel Teixeira e, de quando em vez, com o Bernardo Santos, uma vez por mês.
Canta originais ou músicas de outros cantores?
Ainda não arriscámos em originais. Tanto eu como o Miguel somos fãs de boa música portuguesa e brasileira. Os grandes clássicos, com novos arranjos. O Sérgio Godinho ou o Jorge Palma, o Chico Buarque e o Djavan… andamos muito por essas bandas. Depois, pegamos também em temas que são considerados populares e o Miguel faz arranjos fantásticos. A surpresa das pessoas é o grande barómetro de que aquele tema foi uma boa opção. Que está bem conseguido.
Gostava de gravar um CD?
Gostava. É a materialização, não é? É a música feita matéria. O facto consumado de que se canta e que podes ouvir, partilhar. Que a tua voz se torna eterna, repetível, ouvida em qualquer lado, em qualquer lugar, sem a tua presença. Tem o seu quê de assustador, mas de muito empolgante também.
O que está a fazer profissionalmente além do trabalho na RTP?
Estou a dar aulas de Jornalismo Audiovisual na escola Palavras Ditas e começo, no próximo ano letivo, como docente na ETIC. Além disso, eu e a Ana Sofia Fernandes ganhámos com a produtora de cinema Ukbar Filmes um subsídio para desenvolver um argumento para cinema. E como ainda me sobra muito tempo, estou com um romance entre mãos.
Que outros projetos tem na calha?
Além dos que já referi, continuar a cantar. Muito.
Iniciou uma dieta proteica. Há quanto tempo?
Há cerca de dois meses. Mas tive de fazer um interregno. Comecei uma grande reportagem que me alterou a rotina. Vou recomeçar em breve porque cometi erros inomináveis (risos) e recuperei uns quilos chatos.
Quantos quilos já perdeu?
Perdi 13 quilos.
Ainda lhe faltam perder quantos mais para atingir a sua meta?
Gostava de perder mais dez. Para gerir, depois, os pequenos pecados e excessos.
Já tinha tentado fazer algumas dietas? Porque não resultavam?
Sou absolutamente indisciplinada. Mas, quando acredito nas coisas, sou rigorosa e determinada. Tentei várias dietas. Algumas resultaram temporariamente. Tenho um metabolismo lento e a minha genética também não é a mais simpática. E, outro fator nesta equação, é o imenso prazer que tiro em cozinhar. Em degustar. Não sou das que come porque tem de ser. Não. Gosto de confraternizar, juntar amigos à mesa. Provarmos um queijo. Confecionar um repasto para todos. O amor engorda. A verdade é essa.
Esta dieta está a ser fácil de seguir?
Está porque é rápida e adaptada. Há doces, há batatas fritas de soja, há chocolates. Tudo manipulado para ser híperproteico. Ou seja, hidratos de carbono no mínimo. E depois, a minha endocrinologista, a paciente dra. Crista Costa Santos, à medida que se perde volume e peso, vai reintroduzindo a alimentação normal.
O fato de ter alguns quilos a mais afetavam a sua autoestima?
Quando tens um segundo filho e ficas com mais peso e não te reconheces e não consegues emagrecer ao ritmo que gostarias, claro que sim. Mas eu não sou o meu peso. E, só por isso, a vida continua com a ideia “isto, mais cedo ou mais tarde, vai abaixo”. E vai.
Quando decidiu procurar ajuda?
Quando o ator Hugo Mestre Amaro me falou do método que seguia, decidi arriscar. Foi uma excelente opção.
Também se dedicou ao exercício físico. Que modalidade pratica e com que regularidade?
Faço exercício duas vezes por semana. Ando de bicicleta e, todos os fins de semana, estou com uma equipa fabulosa de professores, na praia de Carcavelos, para treino funcional de alta intensidade. Uma hora e pouco a suar no areal, na qual o equilíbrio se torna mais difícil e que exige mais trabalho muscular.
O que ganhou com a dieta além da perda de peso?
Ganha-se muita coisa. Canso-me menos e sinto-me mais ágil. E há a parte psicológica… o vestido que comprámos e nos fica melhor agora, as calças 38 que já estão mais folgadas. Gostarmos mais de nos vermos nas fotografias. Tudo isso é essencial para nos sentirmos melhor connosco próprios. A satisfação que dá alcançar as metas a que te propões, o sentir que é possível, que estás a tratar de ti. E isso não se reflete no corpo esguio mas no teu sorriso. Na tua atitude perante a vida. Com os outros.
Dá aulas de jornalismo televisivo. É uma atividade em que só ensina ou também aprende muito com os alunos?
Qualquer boa docência é um ato dialogante. Um processo de trocas. Chegam-me miúdos com e sem experiência, todos licenciados em escolas diferentes, com objetivos laborais em áreas distintas. E essa riqueza é marcante. Todos trazem impresso, em si, a sua vivência, o seu mundo, as suas expectativas. Ouvi-los falar é ouvir-me quando, há uns anos, eu tinha aquela idade, tinha acabado a licenciatura e sonhava ser uma repórter de guerra. O fascínio do casamento com a imagem, o som e o discurso. A palavra e a técnica. Esse desafio constante de informar com cunho próprio. Com aquela marca que faz o espetador dizer “este texto só pode ser de fulano… esta voz é da não sei quantas”. E ver aquele olhar cintilante, cheio de incertezas, durante as aulas. O que partilham nas suas dúvidas e inseguranças é um processo muito interessante, que faz de mim uma melhor professora, uma profissional mais atenta, uma ouvinte mais atenta.
O que é que ainda lhe falta fazer profissionalmente?
Já coordenei o Telejornal, apresentei e coordenei o 30 Minutos. Estive um mês no Mundial de futebol em África do Sul. Uma semana na Indonésia após o Tsunami. Recebi uma menção honrosa do ACIDI [Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural] por uma reportagem minha. Perdi a conta a diretos… a grandes reportagens. Acho que, mais tarde ou mais cedo, volto onde comecei, à apresentação na área do entretenimento. Em 1999, apresentava o Curto Circuito de fim de semana, três horas em direto, sem teleponto, no já extinto CNL. Divertia-me muito. E precisamos todos, urgentemente, de nos divertir. Não levamos mais nada da vida.
Texto: Carla Vidal Dias; Fotos: Luís Baltazar; Produção: Romão Correia; Maquilhagem e Cabelos: Vanda Pimentel, com produtos Kioma e L’Oréal Professionnel
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