Aos 60 anos, Rui Fernando da Silva Rio foi eleito, este sábado, dia 13 de janeiro, como novo líder do Partido Social Democrático, vencendo o rival Pedro Santana Lopes com 54% dos votos contra 46% Esta campanha surge depois de 12 anos à frente dos destinos da Câmara Municipal do Porto e de quase uma década afastado da gestão do partido.
Nascido no Porto a 6 de agosto de 1957, o economista reconhecido pelo seu perfil austero, estudou no Colégio Alemão e licenciou-se em Economia pela Universidade do Porto – tendo sido eleito pela primeira vez presidente da Associação de Estudantes da faculdade em 1981.
«Entrei com quatro anos, por vontade do meu pai. Mais do meu pai do que da minha mãe, como era na altura. […] O meu pai achava que eu fazia o Colégio Alemão e depois ia para a Alemanha. Viver para um país que tinha futuro. […] Não fui para a Alemanha porque não quis. Sou mais rigoroso do que a maioria em Portugal, mas menos rigoroso do que os alemães», disse numa entrevista a Anabela Mota Ribeiro.
Tendo afirmado que «enriquecer não o seduz», foi como economista que fez o seu percruso profissional até ter chegado à Assembleia da República em 1991, onde foi deputado durante 10 anos.
Casado com Lídia Azevedo, de quem tem uma filha – Marta, 17 anos -, Rio sempre teve uma vida pessoal recatada, sendo pública a educação rígida que teve do pai, um comerciante que viveu na Suíça francesa.
«Se me perguntar: ‘Qual foi a primeira coça que levaste?’, nada ou pouco levei. Nem era preciso bater. Mantinha uma certa distância, cortava-me os brinquedos, estudava nas férias. Está a ver o que é um miúdo de nove anos, 10 anos, 11 anos, 12 anos ter de estudar nas férias? […] Eu não ouso dar essa educação [à filha]. É uma educação vergonhosa, se comparar com a do meu pai. Devia ser mais apertada.»
Mas há outra situação que lhe marca a infância: a morte do irmão, dois anos mais novo do que ele, quando tinha sete anos.
«Quando eu tinha sete anos, quase a fazer oito, perdi um irmão. Com uma leucemia. Era mais novo do que eu dois anos. Detetámos a doença em julho de 1964 e morreu em junho de 1965. O meu pai passou a projectar tudo num só filho. O grau de exigência, que já era grande por força do seu perfil, aumentou. Isso marca muito a minha educação», revelou na mesma ocasião.
As primeiras noções de economia aprendeu-as a jogar bilhar
Economista reconhecido, foi a jogar bilhar, depois da separação dos pais, que aprendeu as primeiras noções de economia.
«Numa fase da minha vida, na adolescência, não vivi com desafogo financeiro – antes pelo contrário. A seguir ao 25 de Abril, os meus pais separaram-se. Ao contrário da família do meu pai, a família da minha mãe tinha muitas dificuldades. Com 15, 16, 17 anos, eu ia ao café jogar bilhar. […] A meio do mês já não tinha [dinheiro]. Não jogar porque não tinha dinheiro, não podia ser. Então, pensei assim: durante um mês, não pego num taco. “Hoje não vou ao café e vou guardar o dinheiro. Só entro no mês seguinte e só jogo o dinheiro que tiver […]. Habituei-me àquilo de poupar até ter uma maquia mais confortável. Numa caixa de latão das cigarrilhas do meu avô, tinha 50 escudos. Era a rainha Santa Isabel, a nota. Os 50 escudos depois foram 100 escudos. Era o Camilo Castelo Branco que estava nas notas. E assim foi. Ainda hoje, salvo situações extraordinárias, em nenhum mês da minha vida gasto o que ganho.»
Paralelamente à paixão pela economia, Rui Rio é um apaixonado por desporto. Gosta de corridas de carros, foi atleta federado de atletismo e é adepto do Boavista. Apesar da paixão pelo mundo do futebol, Rio conseguiu sempre manter distância do presidente do Futebol Clube do Porto, Pinto da Costa, com o clube a festejar sempre os campeonatos em Gaia e não no Porto, como era habitual. O seu prato preferido é a lampreia de Viana do Castelo, cidade de onde é natural a mulher, Lídia.
Agnóstico, admira personalidades mundiais como Gandhi e Mandela, só lê livros técnicos – «romances não leio, não me atraem», disse na mesma entrevista -, gosta de astronomia e tem na bateria – instrumento que tocava quando integrou uma banda na juventude – um refúgio contra o stress. Outro parece ser ir ao teatro com a mulher, Lídia, especialmente quando se trata de alguma estreia de revista à portuguesa de Filipe La Féria.
Afinal, Rui Rio é conhecido por ser «um trabalhador incansável».
«[…] Ao longo de três mandatos [da Câmara Municipal do Porto], a média de permanência nesta instituição foi de mais de 12 horas diárias, o que revela a sua dedicação à gestão municipal. Poderá especular-se que essa absoluta dedicação ao trabalho, em detrimento de uma vida social, tem que ver com o facto de Rio ser tímido (característica que esconde por detrás de outros comportamentos, como a rigidez da gestão da sua exposição pública).», lê-se na biografia oficial publicada em 2014 por Mário jorge Carvalho, «De Corpo Inteiro».
Rui Rio e o percurso no PSD
Rui Rio ganhou notoriedade e visibilidade nacional durante os três mandatos, entre 2001 e 2013, como presidente da autarquia portuense, mas o percurso político do militante do PSD já tinha começado bastante antes, na Juventude Social Democrata.
Rio foi vice-presidente da Comissão Política Nacional da JSD entre 1982 e 1984 e entre 1996 e 1997 foi secretário-geral do PSD, quando era presidente do partido o atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Abandonou o cargo depois das autárquicas de 1997, em divergência com o presidente do partido, numa relação que não voltou a ser próxima.
O ex-autarca do Porto foi vice-presidente do partido com três líderes: de 2002 a 2005, com Durão Barroso e Pedro Santana Lopes – agora seu rival nas diretas – , e mais tarde, entre 2008 e 2010, com Manuela Ferreira Leite.
Fazem também parte do currículo trabalhos na área da indústria têxtil e no setor bancário, onde, na década de 80, iniciou o seu percurso no Banco Comercial Português, sendo depois diretor e vogal do Conselho Fiscal da Caixa Geral de Depósitos.
Depois de ter interrompido a atividade política, voltou à banca, assumindo um cargo não executivo no Comité de Investimentos do Millenium BCP e é atualmente consultor da empresa de recursos humanos Boyden.
A partir de agora é o novo sucessor de Pedro Passos Coelho à frente do PSD.
Fotos: DR
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