A mudança para a Primavera não é em tudo um “mar de rosas”. Quem o explica é a Dra. Ana Rita Monteiro, psicóloga clínica da Clínica Espregueira no Porto.
Para grande maioria das pessoas, a primavera está associada a boa disposição, no entanto, muitas ficam surpreendidas quando se sentem mais cansadas entre outros sintomas de mal-estar. A resposta a esta dúvida pode ser chamada: astenia da primavera. A astenia da primavera pode ser vista como um conjunto de modificações fisiológicas na medida em que o organismo tem de se adaptar às alterações climáticas, existindo dois tipos de astenia; a funcional- fatores como stress, ansiedade e estado depressivo; e a orgânica- tais como problemas cardíacos, doenças pulmonares e anemia.
Os sintomas geralmente iniciam-se entre março e abril. A intensidade varia consoante a pessoa, e podem englobar fadiga ou cansaço inexplicável por outra causa; fraqueza; tristeza; desmotivação; dificuldade de concentração e da memória; apatia; alergias alteração do padrão de sono; diminuição da líbido; diminuição da energia; falta de apetite; irritabilidade, nervosismo e ansiedade; e dor de cabeça ou dores musculares. Importa salientar que a astenia da primavera parece ser mais prevalente nas crianças, seniores e em mulheres, sobretudo entre os 35 e os 50 anos de idade.
Causas do aparecimento da astenia de primavera:
O cérebro produz vários neurotransmissores (e.g., serotonina, melatonina ou cortisol), que interferem na regulação do humor, das emoções, do estado de espírito ou no ritmo circadiano (sono), sendo a produção regulada, entre outros fatores, pela exposição solar. Na origem da astenia da primavera podem estar diversas alterações fisiológicas que o organismo promove de forma a adaptar-se a mudanças climatéricas como a mudança de luminosidade, humidade, temperatura, e pressão atmosférica trazidas pela nova estação.
Fatores que podem agravar os sintomas da astenia da primavera: O facto de os dias serem maiores pode levar-nos a ficar ativos até mais tarde; quem escolhe ir ao ginásio mais tarde, onde a atividade de alta intensidade perto da hora de deitar pode interferir com o tempo que levamos a adormecer; a mudança da hora na primavera no último fim de semana de março e o aumento do número de horas de luz e exposição solar, pois existem pessoas que têm maiores dificuldades em fazer a adaptação e podem levar mais tempo; uma alimentação pouco equilibrada, o stresse e a ausência de atividade física regular (sedentarismo); e as alergias ao pólen que acabam por interferir com o sono.
O que fazer?
Uma vez que não existe um tratamento específico para a astenia da primavera, há que prevenir/atenuar os sintomas. Para isso, seguem-se algumas recomendações: fazer uma alimentação equilibrada e variada, rica em fruta e vegetais; não consumir cafeína em excesso; fracionar as refeições, não fazer jejum mais de 3 horas; levantar cedo de manhã e praticar exercício físico regularmente, de preferência de manhã ou ao final da tarde, pelo menos 40-50 minutos, 3-4 vezes por semana ( exercício aumenta a produção de endorfinas que promovem a sensação de bem-estar); dormir 7-8 horas por noite, mantendo as horas de deitar e acordar regulares; beber entre 1,5L a 2L de água diariamente (manter hidratação); aprender a gerir o stress: planeie bem o dia, estabeleça prioridades e partilhar tarefas.
Quando consultar o médico:
Em alguns casos, a consulta de um médico pode ser importante, no sentido de ajudar a pessoa a controlar os sintomas e a recuperar os níveis de energia habituais. A boa notícia é que estes sintomas da astenia da primavera são temporários e não duram mais do que 2 a 3 semanas (caso se prolonguem mais no tempo, deve-se recorrer a apoio médico).
Fotos: Freepik
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