A Dra. Cátia Lopes, licenciada em Psicologia/Hipnoterapeuta das Clínicas Dr. Alberto Lopes, desmistifica o conceito de Gordofobia, clarificando-o como “o preconceito contra pessoas que tem excesso de peso, ao qual se junta a aversão à gordura, quer dirigida ao outro, quer um medo excessivo direcionado a si mesmo de engordar.”
O “gordo”, na gordofobia assemelha-se ao “anormal”, havendo por isso atualmente um temor à anormalidade e uma estigmatização dos indivíduos “gordos”. Como principais características gordofóbicas podemos apontar a opressão, a inferiorização, a humilhação, a ridicularização, a repulsa e o sentimento de ódio.
Nos dias de hoje, não ter o corpo magro aquele que é considerado o padrão de beleza ideal, significa ser alvo de humilhação, discriminação, desprezo, discursos de ódios e exclusão social. Este estigma pode levar a vítima á depressão, a perturbações de ansiedade bem como gerar por sua vez um desequilíbrio psicofisiológico que leva a pessoa a engordar mais. Muitas são as perturbações alimentares como a anorexia nervosa, a bulimia nervosa e a ingestão alimentar compulsiva que têm muitas das vezes origem nesta pressão social do perfeito magro. Este preconceito pautado pelo peso tem ganho mais força na sociedade atual, sendo altamente difundida pelas redes sociais.
Algumas coisas que vemos enfatizam o seja magro para ser perfeito e aceite socialmente, caso contrário ninguém vai gostar de si porque ser gordo não é ser boa pessoa, não é ser feliz, não é ter uma vida perfeita. Como todo o ser humano tem uma necessidade intrínseca de ser aceite, deixa-se levar por este tipo de preconceito para estar inserido num grupo e sentir-se parte de algo.
Infelizmente vivemos uma era tóxica onde este tipo de artigos serve para fomentar o estigma, a discriminação e potenciar exponencialmente fenómenos de bullying entre os jovens o que representa um aumento destas experiências adversas com um grande impato na saúde psicológica dos jovens. Por outro lado, estamos a criar uma nova geração com valores e princípios não éticos que ferem o conceito de liberdade.
Viver num corpo que foge do considerado belo, pode ser difícil atualmente. É estar diariamente exposto a opressão, inferiorização, humilhação, ridicularização, a repulsa e ódio. É sentir-se muitas vezes não bem-vindo a este mundo e ser rejeitado por uma imagem corporal que não define quem somos.
Aceitar o corpo, mesmo sabendo que no caso de excesso de peso este pode impactar na saúde da pessoa e gerar complicações. No entanto é a aceitação que permite a pessoa cuidar mais dela para promover mudanças saudáveis para si mesma e não para o ideal social.
A acomodação também conhecida como conformismo, faz com que a pessoa se mantenha em situações que poderiam ser alteradas e que poderiam promover o seu equilíbrio e bem-estar. Ao contrário da aceitação que requer paz interior, a acomodação está associada a baixa autoestima e a sentimentos como incapacidade e não merecimento.
Aceitar que somos é afirmar a nossa autenticidade, elevar a nossa autoestima independentemente do que a sociedade possa impor.
Considero que na sociedade atual, independentemente do estatuto profissional e tendo em conta o efeito desta espécie de ordem social de corpos magros = a corpos perfeitos, os pacientes com excesso de peso são sim muitas vezes estigmatizados e pouco compreendidos. Há muita falta de empatia e um julgamento social excessivo.
Todos sabemos que o excesso de peso e principalmente a obesidade pode acarretar uma série de problemas de saúde da pessoa. Contudo também sabemos que cada pessoa, cada corpo é único e que não deve ser alvo de qualquer tipo de discriminação devido ao seu peso. Ninguém sabe o que existe por de trás de cada pessoa com excesso de peso. Pode existir uma condição física ou psicológica de sofrimento, ou mesmo a pessoa se sentir bem com alguns kilos a mais e ninguém deve apontar o dedo, porque ninguém é melhor do que ninguém. Partindo deste princípio que ninguém é melhor do que ninguém, a melhor forma de combater a gordofobia começa com a parentalidade, a educação em casa e também como programas que possam psicoeducar e sensibilizar a população geral para a temática.
Mais ou menos peso corporal não é o passaporte para a felicidade. Se não aceitarmos quem somos, se não gostarmos de nós mesmos, dificilmente seremos felizes independentemente do corpo perfeito que possamos conquistar com dietas, cirurgias plásticas ou exercício físico levado ao extremo. Considero que tudo começa no nosso autoconceito, em quem nós somos. Se gostarmos que quem somos teremos uma boa autoestima e aí entra o conceito do body positivity, amor próprio independente da forma do nosso corpo.
Entender o corpo como se fosse a nossa casa. Se bem cuidado tudo funciona melhor. “Se não cuidarmos do nosso corpo para onde vamos morar?” A melhor forma de ter uma relação saudável com o corpo passa pela precoce psicoeducação sobre o que é ser saudável e sobre o que é ter um corpo bonito. Ter um corpo bonito é ter um corpo cuidado saudável e que cada pessoa goste do seu corpo, sabendo que não há imagens iguais, ideais ou perfeitas. Somos todos únicos e por isso somos todos belos à nossa medida e peso.
Fotos: Freepik
Siga a Revista VIP no Instagram