O Dia Internacional da Epilepsia promove a consciencialização pela doença no mundo e é celebrado na 2ª segunda-feira do mês de fevereiro. A VIP conversou com o Dr. Nuno Canas, Neurologista Lusíadas Lisboa e Sociedade Portuguesa de Neurologia que nos explicou mais sobre os sintomas, o diagnóstico e o tratamento.
1- O que é a epilepsia? Quais são os seus principais sintomas e causas?
As epilepsias são caracterizadas por uma predisposição cerebral intrínseca para gerar crises epilépticas de forma recorrente e espontânea. De foram simplificada, os cérebros dos doentes com epilepsia têm alterações do ponto de vista funcional (alterações da excitabilidade dos neurónios) ou estrutural (lesões cerebrais adquiridas, durante o período pré-parto ou após
parto) que os tornam mais susceptíveis a gerar crises epiléticas.
As crises epilépticas resultantes dessa disfunção podem ter diversas manifestações clínicas, que se classificam de acordo se só uma zona do cérebro está afetada (crises focais) ou se existe uma disfunção cerebral difusa na sua origem (crises generalizadas). Deste modo, as suas manifestações clínicas podem ser muito diversas, desde as mais conhecidas convulsões como também breves período de perturbação de consciência, alterações motoras, sensitivas, disautonónicas (alterações da frequência cardíaca ou respiratória, sudação) sensoriais (alterações olfativas, visuais, do paladar) ou psicológicas (períodos de ansiedade). De modo geral todas estas alterações são transitórias, duração de breves segundos ou minutos, com recuperação total depois.
Tal como os diferentes tipos de crises, as causas de epilepsia podem ser variadas, desde causas genéticas, alterações adquiridas durante o desenvolvimento fetal (malformações do desenvolvimento cortical), ou na vida adulta (acidentes vasculares cerebrais, traumatismos cranianos, tumores cerebrais, doenças imunológicas ou doenças neurodegenerativas), entre
outras.
2- Como se procede ao diagnóstico e consequente tratamento?
O diagnóstico das epilepsias é complexo, mas baseia-se fundamentalmente nas manifestações clínicas que possam sugerir a existência de crises epilépticas. E a descrição dos doentes e dastestemunhas que tenham assistido a prováveis episódios suspeitos de crises epilépticas é fundamental para um diagnóstico correto! Para tal também contribuem os resultados dos
exames complementares de diagnóstico de primeira linha, nomeadamente o electroencefalograma (EEG) e exames imagiológicos (tomografia computorizada ou ressonância magnética cerebrais). Tal como uma boa história clínica e exame neurológico efetuados numa consulta de epilepsia.
O tratamento farmacológico deve ser iniciado mal o diagnóstico de epilepsia seja efetuado, escolhendo-se um fármaco anti-crises epilépticas (FACE). Atualmente estão disponíveis em Portugal mais de 20 destes fármacos, sendo a escolha da terapêutica inicial decidida pelo Neurologista Assistente. Essa escolha deve considerar vários fatores, tais como o tipo de epilepsia e crises epilépticas em causa, as características do fármaco (mecanismo de acção, eficácia no tratamento do tipo de epilepsia ou crises epilépticas, e efeitos secundários ) e do doente (idade, sexo, outras doenças associadas e medicação efetuada para controlo das mesmas.)
3- É possível prevenir?
Apesar dos inúmeros esforços efetuados nas últimas décadas, atualmente ainda não existe qualquer evidência que, nos Humanos, a epilepsia possa ser prevenida. As terapêuticas atualmente disponíveis são puramente sintomáticas, tendo como objetivo o controlo das crises epilépticas, minimizando os efeitos secundários das terapêuticas efetuadas.
4- Que danos pode deixar a epilepsia no cérebro?
Em cerca de 70% das pessoas com epilepsia as crises são controladas com FACEs, se escolhidos de acordo com o seu perfil farmacológico e características do doente. Nestes doentes não há qualquer restrição que façam as suas atividades de vida diária de forma absolutamente normal.
Nos restantes 30% dos doentes, nas quais a terapêutica farmacológica não é suficiente para controlar as crises epiléticas, a permanência das mesmas pode condicionar alterações cognitivas e comportamentais, tal como o aumento da probabilidade de morte súbita. Estes doentes devem ser rapidamente referenciados para um centro de referência em epilepsias refractárias (quando as crises epilépticas se mantêm apesar do tratamento com 2 FACE) de modo a definir quais as melhores alternativas terapêuticas, nomeadamente os vários tipos de cirurgia de epilepsia, ou outras terapêuticas farmacológicas.
Entrevista: Maria Constança Castanheira; Fotos: D.R.
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