Na manhã do 17 de julho de 2020, o formato “Casa Feliz” não fazia parte do caderno de encargos da SIC. Contudo, a descoberta, nos corredores do canal, de que Cristina Ferreira – que nessa altura conduzia na estação de Paço de Arcos o seu “O Programa da Cristina” – tinha estado em reuniões com a TVI para regressar a Queluz de Baixo veio alterar todos os planos. Os ânimos exaltaram-se, mas os braços não se baixaram e, dois dias depois, a 20 de julho, estreava-se esse formato, com João Baião e Diana Chaves à frente das câmaras. Aquele que seria um formato transitório acabou por ganhar o espaço. Hoje, Daniel Oliveira está satisfeito.
“Sabe bem ver esta longevidade. O João e a Diana conseguiram uma dinâmica que, se calhar, surpreendeu muitas pessoas. O grau de genuinidade que eles trazem é percecionado pelos espectadores e, diria, a alma do programa”, disse o diretor de Programas da SIC à revista Nova Gente, à margem da apresentação da grelha de verão para o canal, frisando que o público “credita” aos apresentadores essa autenticidade: “Percebe-se que eles estão completamente embrenhados em cada momento, seja para se emocionarem seja para se divertirem”. “O programa conseguiu reinventar-se e conseguiu sedimentar um público e ter a capacidade de surpreender. Portanto, dois anos depois, o saldo é mais do que positivo”, acrescentou o responsável.
Daniel Oliveira recorda ainda que “Casa Feliz” foi um projeto “rápido, feito em cima de uma equipa que perdeu muitas pessoas”, já que, com Cristina Ferreira, parte dos profissionais que produziam as manhãs da SIC foram também para a TVI. “Tivemos de nos reinventar, mas acho que isso dá sempre uma vida nova às equipas e à forma como elas conseguiram superar um desafio que era difícil e alterar tudo aquilo que era o pressuposto”, afirma.
O que aconteceu há dois anos
A 17 de julho, os rumores de que Cristina Ferreira estaria a negociar o seu regresso à TVI chegaram à SIC. “As negociações com o Mário Ferreira [acionista do grupo Media Capital] duravam há semanas”, contou fonte próxima do canal da Impresa. Assim que terminou a apresentação de “O Programa da Cristina”, a comunicadora foi convocada para uma reunião de emergência e confrontada com os boatos. Admitiu que eram verdade e acabou por fazer as malas e abandonar Paço de Arcos. “Não quis despedir-se dos espectadores”, disse a mesma fonte.
A carta de rescisão foi entregue pouco tempo depois e a notícia caiu que nem uma bomba: aquela que é considerada a mulher mais influente da televisão portuguesa iria sair da SIC, onde estava desde agosto de 2018, para regressar à casa que a viu nascer.
O caso está longe de deixar de ser falado: assim que abandonou o canal de Pinto Balsemão, Cristina foi avisada que este queria ser indemnizado. No mês de setembro seguinte, no Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa, dava entrava um processo de pedido de indemnização a Cristina Ferreira e à sua empresa Amor Ponto, Lda no valor de 20.287.084,54 euros. O canal de Paço de Arcos alega que a apresentadora e Diretora de Entretenimento e Ficção da TVI não cumpriu o vínculo que tinha com a estação, sustentando-se na quebra de receitas em IVR (concursos com chamadas de valor acrescentado), publicidade, patrocínios e ações comerciais.
A também acionista da TVI adiantou desde logo que irá defende os seus interesses “até às últimas instâncias”. “Sobre esta matéria gostaria apenas de esclarecer que a referida quantia [os 20 mil euros pedidos pela SIC] não tem qualquer fundamento ou base contratual, pelo que refuto em absoluto a pretensão daquela entidade, estando disposta a assegurar e defender os meus interesses até às últimas instâncias.”
Já na entrevista que deu a Pedro Pinto e que assinalou o seu regresso à TVI, explicou que “há os contratos e há as cláusulas de rescisão”. “Cada um de nós, se não tivesse essa possibilidade, de sair do local onde está, seja porque não gosta de ali estar, seja porque há novas [oportunidades], seríamos uns escravos”, atirou. “Os 20 milhões é um número que não tem qualquer fundamento”, frisou.
Cristina Ferreira garantiu ainda que se sente salvaguardada juridicamente. “Há lugar a uma indemnização que estava estipulada no meu contrato e da qual sei que vou pagar. E dessa não há aqui qualquer alternativa. Estava lá, está escrito, eu pago”, afirmou, referindo-se aos 2,3 milhões de euros correspondentes aos 29 meses de trabalho que não chegou a cumprir.
O julgamento estará marcado para o final deste ano.
Texto: Ana Filipe Silveira; Fotos: Instagram
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