A eventual candidatura do almirante Henrique Gouveia e Melo a Belém está a preocupar políticos e partidos em Portugal. Não tanto pela possibilidade de, 40 anos depois – o general Ramalho Eanes foi o último, terminou o seu mandato em março de 1986 –, o País voltar a ter um Presidente da República militar, mas mais pelas escassas probabilidades de vitória que são prognosticadas a um seu adversário.
As eleições apenas ocorrerão daqui a três anos e meio – algures em janeiro de 2026 –, mas o tema já agita os bastidores da vida política nacional, criando alguma apreensão. O desconforto do próprio Presidente atual com este cenário já foi noticiado pelo semanário Nascer do Sol: Marcelo Rebelo de Sousa não gostará do “populismo” de Gouveia e Melo e teme que este possa dividir a direita.
Por outro lado, em conversas informais – por exemplo, mantidas em eventos –, o nome do atual Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA) é várias vezes apontado como estando a preparar-se para ser candidato, dizendo-se que tem gerido a sua imagem pública guiado por esse objetivo.
O exemplo frequentemente dado nesses diálogos é o da sua reação ao caso da morte do agente da PSP Fábio Guerra, ocorrido em março, resultante das agressões de, entre outros envolvidos, dois fuzileiros. Ora, o discurso duríssimo que Gouveia e Melo fez menos de uma semana depois desse episódio trágico (“não quero arruaceiros na Marinha”), na própria “casa” do Corpo de Fuzileiros (no Alfeite), como responsável máximo daquele ramo das Forças Armadas (Armada/Marinha), é tomado como uma mensagem para o exterior – de intolerância à violência e criminalidade –, de alguém que quer dizer que é “capaz de endireitar o País”, ao invés de ser uma intervenção de salvaguarda da instituição, natural num CEMA na altura em que aquele importante grupo da Marinha estava a ser posto em causa como tal, de forma generalizada e com alcance corporativo.
Nos mesmos meios, o potencial de a eventual candidatura do almirante ser desencorajadora para outros eventuais concorrentes fortes ao lugar é tido como enorme: “Se ele for lá, duvido que alguém de peso queira concorrer. Prefere não arriscar uma derrota”, diz uma fonte ligada a um antigo Presidente da República à revista Nova Gente.
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Texto: Carlos Gonçalo Morais; Fotos: Bruno Filipe Pires/jornal Barlavento
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